Não pus Botox, a sério! A injeção que as elites adoram
Julius Few é o cirurgião plástico que ajuda Gwyneth Paltrow, de 48 anos, a parecer eternamente jovem. Polly Vernon – que conhece bem os tweakments* – pergunta-lhe: posso ter o mesmo que ela? Por favor?
Foto: Getty Images22 de outubro de 2021 às 09:59 Polly Vernon/The Times
Uma boa notícia para quem já se sentiu moralmente comprometida quando uma amiga perscruta fixamente a sua testa, se aproxima para olhar mais de perto e a seguir pergunta, num tom que roça um completo juízo de valor: "Puseste Botox?". Há uma nova injeção anti-rugas e Gwyneth Paltrow é a sua embaixadora, por isso deve ser um bom produto.
A atriz, que já foi galardoada com um Óscar de Hollywood, e que é uma empreendedora e ao mesmo tempo a personificação do nebuloso – ainda que bastante sedutor – conceito de bem-estar, aliou-se a algo que se chama Xeomin, uma toxina botulínica administrada através de uma agulha, muito à semelhança do seu famoso primo, o Botox, para produzir um efeito similar – com a diferença de não ser Botox, pelo que, decididamente, você pode dizer que não usou nada disso.
"Nunca quis parecer mais nova nem nunca desgostei de me ver", explicou Paltrow ao falar sobre a sua nova intervenção cosmética de eleição. "Quando fiz 40 anos, tive uma crise de meia-idade e recebi injeções anti-rugas em todo o meu rosto, e foi horrível. Fiquei com um aspeto horrível – e um olho, na verdade, até ficou maior do que o outro".
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Foi o seu amigo cirurgião plástico Julius Few que lhe deu a conhecer o Xeomin. Porquê aplicar o Xeomin a Paltrow?, perguntei-lhe. Few, um cirurgião inacreditavelmente bonito, formado em Harvard, fala comigo através da plataforma Zoom, por entre a gestão dos seus clientes no Few Institute, de sua propriedade, em Chicago.
"Trata-se de uma questão com dois lados", explica. "Em parte, oferece um resultado natural. Não é o típico lifting facial (ritidoplastia, ou facelift) com crioterapia. Mas é também uma forma de toxina botulínica bastante purificada. Os clientes sensíveis a aditivos de uso tópico e a produtos nutricionais dão-se bem com esta abordagem. Foi por isso que Few a recomendou a Paltrow, que considera ser "uma boa amiga".
Gwyneth Paltrow, com 48 anos, aponta o Xeomin, a par com o seu exaustivo regime de exercícios regulares, "imensa água e horas de sono", e (inevitavelmente) a gama de cuidados para a pele que ela produz, promove e vende através do Goop – o seu website sobre lifestyle, muitas vezes ridicularizado, mas extremamente bem sucedido –, como o motivo para o seu rosto ter o aspeto que tem, ou seja, luminoso.
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Foto: Instagram @gwynethpaltrow
Os tweakments cosméticos – tudo o que é administrado através de uma agulha em vez de um bisturi (preenchimentos, toxinas botulínicas, plasma retirado do próprio sangue do paciente e reinjetado nas suas maçãs do rosto, etc.), tratando-se de pequenos procedimentos frequentes que ficam a meio caminho dos "melhoramentos" anti-envelhecimento, algures entre a aplicação regular de protetor solar e um facelift total – são muito mais comuns do que aquilo que se possa pensar.
Os números mais recentes disponíveis revelam que a indústria britânica da cirurgia cosmética está avaliada em 3,6 mil milhões de libras (4,02 mil milhões de euros) e os tweakments representam 90% de todos os procedimentos. Se você não está a fazer nenhum destes tratamentos, há grandes probabilidades de alguém que conhece estar a fazê-los. Ou várias pessoas que conhece. Se não lhe falam sobre o assunto, é por causa de um código de secretismo ou de um certo estigma, ou talvez apenas por simples individualismo competitivo – o desejo de manter um segredo que lhe dá vantagem sobre a "concorrência" – que persiste neste domínio.
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E é isso que torna a natureza da defesa pública do Xeomin por parte de Paltrow ainda mais interessante.
De facto, de todas as pessoas inclinadas a manterem escondidas as suas cartadas do jogo do tweakment, as mulheres famosas são as que mais se evidenciam. Historicamente, há uma correlação direta entre a magnitude e qualidade da fama de uma pessoa e a sua relutância em ser aberta e honesta acerca do que injeta de seis em seis meses nas maçãs do rosto, linha do queixo, têmporas e glabelas (as linhas verticais entre as sobrancelhas).
E foi isso que motivou alguma confusão. Caitlin Moran, autora de bestsellers e colunista do The Times, escreveu no seu notável novo livro, intitulado More Than a Woman, sobre um momento esclarecedor que teve enquanto conversava com uma amiga do ramo da indústria da beleza.
"‘Não compreendo – a [nome de uma atriz de Hollywood, que foi eliminado] é 10 anos mais velha do que eu, mas eu pareço ser a sua governanta da era vitoriana. Será que eu e a [nome eliminado] estamos a passar pelo tempo de maneira diferente? Será que estou a viver em anos de vida de um cão? [diz-se que um ano na vida de um cão equivale a sete anos de vida de uma pessoa] Será que vou morrer aos 50 anos, enquanto a [nome eliminado] continua a pavonear-se por aí como se fosse feita de creme facial até ter 109 anos?’
"‘Oh, querida!’ respondeu a minha amiga. ‘Ela põe Botox. Todas elas usam Botox’.
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"‘Todas?’
"‘Sim. Estás a ver a [atriz (cujo nome foi eliminado) famosa pelo seu aspeto de ‘boazona’ apesar de ter 60 anos]? Usa Botox. Aquele ‘tesouro nacional com um ar luminoso’? Usa Botox. [A deusa do Pop] usa Botox. Não há uma única destas tipas que não use Botox’".
Ora, tal como uma das minhas amigas – que é uma alta especialista em tweakments e comentadora desta indústria da beleza – gosta de dizer, "de cada vez que oiço uma "imperecível supermodelo de 50 e tal anos’ a dizer que nunca usou Botox porque ‘não suporta a ideia de injetar veneno entre as sobrancelhas’, penso sempre que ‘bom, minha querida, se não és tu, alguém está de certeza a injetá-lo lá’. Talvez só não estejam a querer revelar que o fazem. Talvez estejam a querer fazer passar isso por acupunctura".
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Poderá o ‘momento Xeomin’ de Gwyneth Paltrow representar um corajoso novo despontar para as grandes celebridades e para a honestidade sobre os tratamentos estéticos?
Falei a Few sobre a minha tese de "quanto maior a celebridade, menor a probabilidade de admitir qualquer ‘trabalho’ [estético]", e perguntei-lhe por que motivo é que então uma celebridade com o indiscutível calibre de Paltrow quebraria este protocolo. Ele ri-se e responde: "Acho que tem toda a razão. Mas isso só vem demonstrar quem é a Gwyneth. Ela nunca lhe dirá isto, mas, nos Estados Unidos, temos vivido uma grande agitação social. Quando esses distúrbios começaram, ela foi a primeira pessoa a telefonar-me [sou um homem negro] e a perguntar: ‘O que posso fazer para ajudar com esta questão?’. Ela estava desolada.
"O que aqui está em questão não é o tema do seu artigo, mas sim o espírito personificado pela Gwyneth e o porquê de ser uma embaixadora tão fascinante da marca. Ela tem tudo a ver com conferir poder às mulheres", acrescenta Few.
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Não me sinto muito inclinada para a ideia de que a dinamização da cirurgia estética esteja a conferir poder às mulheres – ou a quem quer que seja. As agulhas usadas nos tweakments são-me familiares. Tenho 49 anos. Nos últimos cinco anos, explorei este campo com os melhores tweakments, administrados pelos melhores cirurgiões que podemos encontrar nas zonas londrinas de Harley Street e Knightsbridge. Experimentei Botox, mesoterapia (um cocktail de vitaminas, injetado nas bochechas), preenchimentos nas minhas têmporas, linha do queixo, maçãs do rosto e lábios, luz pulsada em todo o meu rosto para tornar o tom da minha pele mais uniforme e reduzir o tamanho dos poros, Profhilo ("brilho injetável") e ulterapia, entre outros tratamentos médicos leves e de radiofrequência destinados a devolver energia às reservas esgotadas de colagénio. São-me administradas pequenas quantidades, de tempos a tempos, para nunca parecer desgastada. Preocupo-me tanto com a preservação da qualidade da pele (alcançada através de procedimentos como tratamentos laser e ulterapia) como com a preservação estrutural oferecida pelos preenchimentos e pelas toxinas botulínicas.
Até agora, a minha experiência, neste campo, tem sido divertida e fascinante, ao mesmo tempo que me restaura fortemente a confiança, mas será que me "confere poder"? Será que eu não estaria melhor num mundo que não me avaliasse sobretudo pela minha capacidade de atenuar o processo de envelhecimento ou que não me recompensasse por ter uma posição financeira em que posso pagar por produtos de alta qualidade? Provavelmente.
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Ao mesmo tempo, será que quero experimentar o Xeomin? Claro que sim! Por mais que se desdenhe de todas as pretensões e excessos da Goop, marca de lifestyle de Paltrow – seja a vela de 60 libras a que chamou ‘isto cheira à minha vagina’ [‘This smells like my vagina’ foi o que Gwyneth Paltrow disse ao seu perfumista quando estavam a criar uma nova fragrância, tendo aquilo que começou por ser uma brincadeira acabado mesmo por se tornar o nome da vela], seja o seu divórcio de Chris Martins, vocalista dos Coldplay, que ela denominou como ‘um desemparelhamento consciente’ –, o certo é que esta mulher é uma absoluta referência em matéria de envelhecimento. Ela tem-no feito através de uma série de diferentes etapas delicadas, como um caleidoscópio em movimento, sem qualquer desvanecimento ou perda de beleza. Claro que também quero um pouco disso.
Marco consulta com a Dr.ª Suha Kersh, que é uma das minhas preferidas profissionais de tweakment, em Chelsea (zona oriental de Londres). Ela recebe-me coberta da cabeça aos pés, com um equipamento de proteção pessoal, e manifesta tristeza pelo aumento do número de pacientes que tem atendido, já que a autoconfiança dessas pessoas tem sido fortemente abalada por meses e meses a verem os seus próprios rostos nas reproduções de vídeo da plataforma Zoom. "Até eu!", diz ela. "E considero-me uma pessoa bastante confiante. Não ando, decididamente, a correr atrás de injetáveis. Mas quando olhamos para a nossa cara durante várias horas seguidas…"
"Percebo!", digo eu, pensando no horror revelado durante o meu período de confinamento, ao ver a forma como o meu maxilar inferior se projeta quando me rio, expondo os dentes desnivelados.
"Não é uma novidade", diz Suha Kersh. "Já existe há cerca de 10 anos. É mais uma questão de rebranding [recriação da marca]". Julius Few referiu-se ao rebrand do Xeomin e ao envolvimento de Gwyneth Paltrow no processo como "uma reapresentação do tópico, uma maneira diferente de ver a toxina botulínica enquanto agente terapêutico". Mas também ouvi rumores, sobretudo na Internet, de que a ascensão do Xeomin poderá estar associada a um objetivo mais palpável.
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"O Xeomin é considerado um injetável puro [ou seja, sem quaisquer aditivos]. As moléculas de outras toxinas botulínicas são estabilizadas com uma proteína, mas o Xeomin não", explica a Dr.ª Kersh.
Ela não se sente pressionada pela possibilidade de controvérsia com que me deparei online decorrente do facto de outras toxinas botulínicas poderem tornar-se menos eficazes com o passar do tempo, à medida que os pacientes desenvolvem imunidade aos estabilizadores proteicos. O cirurgião plástico Henry Claravall foi muito específico quanto a este assunto. "A determinada altura, desenvolve-se imunidade, tal como sucede com os antibióticos", explicou. A dermatologista norte-americana Vivian Bucay, por seu lado, declarou que o Xeomin poderá ser o produto para o qual todos se vão virar se isso acontecer, "porque o Xeomin não tem as proteínas adicionais do exterior. É muito menos provável que [os pacientes] desenvolvam anticorpos para isso".
"É um bom produto. Não tem quaisquer problemas. Gosto de o usar", comenta Kersh a propósito do Xeomin. No que toca a escolher entre toxinas botulínicas, "na verdade, é apenas uma questão daquilo que cada profissional quer usar em cada paciente e do seu grau de perícia", acrescenta.
A Dr.ª Kersh reclina-me no seu sofá e mantém-se atarefada com a sua agulha, pedindo-me por vezes que franza o sobrolho e outras vezes dizendo-me para levantar as sobrancelhas. Uma picada, e outra e outra, e não é mais nem menos doloroso do que aplicar Botox – ou seja, não é especialmente doloroso. Os preenchimentos é que magoam, mas isso é assunto para um outro artigo.
É suposto o Xeomin assentar relativamente depressa e provocar um resultado natural e suave, uma alternativa mais subtil àquilo que Few descreveu como "típico lifting facial com crioterapia".
"É para aqui que estamos a orientar-nos", disse-me Few. "Estamos a distanciar-nos a 100% da artificialidade com todos os produtos que estão a surgir. Tem tudo a ver com a simulação da vida real, por oposição a um aspeto estático. Estou muito interessado no conceito da beleza quadrimensional, onde a quarta dimensão é o tempo. Perceber qual o aspeto de um rosto nas interações pessoais, na simulação da vida real, por oposição à estaticidade".
Trata-se de fazer um trabalho que não só pareça bom nas selfies mas que também pareça bom nas ligações por vídeo?
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"É precisamente isso", responde Few. "Mesmo os trabalhos dos meus colegas que recorreram muito ao preenchimento e ao Botox não parecem tão bons quando a pessoa se mexe [por oposição ao que se vê numa fotografia, em que não há movimento]. Eu tenho um sentido de estética muito conservador. Quero que as pessoas digam: "Caramba, aquela pessoa está mesmo bem para a idade que tem!’". Few diz que o futuro da publicidade aos tratamentos estéticos estará nos videoclips em vez de fotografias estáticas com o ‘antes’ e o ‘depois’.
Assim sendo, tudo aponta para que o futuro da cirurgia estética tenha um carácter estético que faça tanto sentido quando estamos a falar, a rir e a ouvir como quando estamos a dar um melhor ângulo ao nosso rosto e a procurar a melhor luz para o evidenciar para as selfies no Instagram – o que é um grande alívio.
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Poderá o Xeomin de Paltrow ser uma ferramenta importante para esse efeito? Talvez. Decididamente, estou muito contente com a aplicação desse produto pela Dr.ª Kersh no meu rosto. Sinto a minha pele renovada, mas não esticada. Em matéria de resultado direto, sinto-me menos insegura do que me sentia antes, após um tweakment. Sinto que me foi conferido poder? Nhé [sinto que isso é um não-assunto; não me aquece nem me arrefece]. Mas, seguramente, não me sinto sem poder. Voltarei para fazer mais? Sim. Pus Botox? Não.
* tweakment - jogo de palavras, conjugando ajuste e tratamento; basicamente, é um tratamento estético com pouca interferência no rosto
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