David Valverde: “Todos os procedimentos que faço, já os fiz antes em mim"
Um dos rostos na vanguarda da Medicina Estética em Portugal, David Valverde fala à máxima na sua abordagem consciente e harmoniosa, das tendências atuais no mundo da estética e do que poderemos esperar do futuro da área.

Levou uma boa parte da vida a estudar, e acredita que é preciso estar-se sempre informado e atualizado na área profissional em que trabalha. David Valverde, médico especializado em Medicina Estética, recebe-nos na sua clínica em Lisboa, na Av. da República, um espaço acolhedor e descontraído que abriu em 2021, onde estão disponíveis alguns dos tratamentos mais inovadores do momento nesta área.
Trabalha há mais de dez anos na área da Medicina, tem um mestrado em Bioquímica, e com estudos pós-graduados em Medicina Estética e Cosmética. Era um sonho antigo, o de se dedicar exclusivamente a esta área que é cada vez mais procurada por pessoas de todas as faixas etárias. Pragmático na forma como esclarece questões e dúvidas, ajuda a compreender o "medicinês" e está sempre disponível para explicar procedimentos.

A sua abordagem é holística, e passa por receber cada paciente como único, começando sempre por ouvir os seus desejos, dúvidas e medos, bem como as suas expetativas. Segue-se uma segunda etapa, a de aconselhar as intervenções adequadas a cada um, para obter resultados naturais e em harmonia com a fisionomia da própria pessoa, e sobretudo que não a descaracterizem.
A sua abordagem é holística. Antes de se tornar especialista nesta área, já era por aí que queria ir?
Eu nunca parei de estudar. Comecei em Análises Clínicas, fiz mestrado em Bioquímica Clínica, e tive mais tarde uma experiência nos Açores em que me deparei com uma série de pessoas "sedentas" de cuidados de saúde. Achei que era capaz de fazer mais, e fui tirar o curso de Medicina. Dentro da Medicina, passamos por várias áreas, mas sempre fui uma pessoa que sempre se sentiu atraída pela Estética, e pelo que está ligado ao bem-estar. Estar saudável não é só a ausência de doença física, temos que estar bem, na forma como nos sentimos, como nos vemos. Às vezes reparava em pessoas com dismorfias corporais ou depressões, e muitas das vezes, era a imagem que estava implicada. Sentia que as pessoas queriam mais e não tratavam de si. Até aí, ainda não tinha feito a ponte para perceber que a nossa imagem é tão importante para o nosso bem-estar. Aliado a isso, como vinha de bioquímica, adorava ler as letras pequenas dos frascos que ninguém lê, e comecei a juntar peças. Em Portugal, a nível de formação de Medicina Estética, não há assim tanta coisa além dos estudos pós-graduados pelas Sociedades de Medicina Estética. Foi em Espanha que fiz o meu mestrado em Medicina Estética, com a componente da tricologia (cabelos). O meu percurso académico foi-se desenhando consoante os meus gostos pessoais e as minhas vivências.


O que é que distingue a sua forma de trabalhar?
Todos os procedimentos que faço, já os fiz antes em mim. Eu quero sempre saber exatamente o que vai acontecer. Se todos nós, médicos, estéticos, tivéssemos essa percepção, seria tudo mais interessante. Uma das coisas ligadas a tudo isto é a questão da autoestima, na Medicina lutamos sempre contra a doença, aqui também se luta, mas é diferente. Aqui espalhamos bem-estar e alegria nas pessoas. Todo o meu percurso se encaixa como um puzzle na minha personalidade. Há muita gente a fazer Medicina Estética, mas se calhar não tem aquele sentido estético tão apurado. Esta é uma medicina de detalhe. Depois, tenho sempre duas coisas bem assentes numa consulta médica: confiança e sigilo. Tudo o que se passa aqui, fica aqui, não há espaço para estigmas ou juízos de valor. Esta é a grande diferença neste espaço: a relação humana que se estabelece aqui.





Há uma disponibilidade constante?
Quando as pessoas aqui chegam, gosto que pensem que estão a tirar um momento para elas, sem se esquecerem que estão a tratar da saúde. Da mesma maneira que vão ao ginásio ou ao nutricionista. Quem vêm dar um boost à pele e à auto-estima.
Esta descomplicação do que é entrar numa clínica de estética é ainda um caminho difícil?

É verdade que as pessoas começam a ter mais acesso a estes tratamentos. Mas isso também abriu a porta a que outros sítios começassem a fazer tratamentos que não correspondem à realidade ou não são fiáveis. Um procedimento de estética, com um médico, não é barato. Os bons produtos não são baratos (…) Eu sou aquele médico que só faz aquilo que sabe que está a fazer. Há certos procedimentos que eu não faço. Eu sei que o risco/benefício está numa balança complicada, e primeiro está sempre a segurança das pessoas. Antes de fazer qualquer procedimento, eu faço uma história clínica. Não vou aplicar, por exemplo, um hialurónico a uma pessoa com uma doença autoimune.
Como se lida com pessoas que vêm aqui à procura de procedimentos que não encaixam naquilo que é recomendado para elas?
Isso acontece bastante. Eu não digo para as pessoas fazerem isto ou aquilo: eu sugiro. Se calhar, a pessoa que até vem com uma coisa na cabeça, depois naturalmente muda de ideias. Eu tento sempre mostrar às pessoas que a harmonia da sua face precisa disto ou daquilo. Se a pessoa quer pôr um filler, e tem a pele que precisa ser tratada, eu tenho que começar pelo princípio. Antigamente as pessoas pediam e tinham, hoje em dia há uma abordagem holística. É preciso educar. Eu não gosto de começar nada pelo meio, nós temos que ir sempre pelas bases.

Além de ter uma "carta" de tratamentos diversos e atuais, como o peeling químico ou fillers, tem ainda outros especiais como o rejuvenescimento das mãos.
Com a idade acontece um processo de envelhecimento natural, que é o crono envelhecimento. Vai acontecer a todos. E aquilo que tentamos fazer aqui é amenizá-lo. Tal como na face, também nas mãos perdemos massa gorda, massa muscular e até massa óssea. Antigamente, fazíamos uma plástica, olhávamos, e no meu caso eu olhava logo para as mãos e o pescoço, para ver se "batia certo". Sempre que eu tinha dúvida se tinha existido plásticas, fazia essa análise. Nas mãos, pode ser usado ácido hialurónico (há reticulado e não reticulado), ou um bioestimulador (que para além de preencherem estimulam a produção de colagénio) onde é usada uma cânula, que é uma espécie de fio condutor de produto. Ao nível das mãos ainda é possível fazer skin boosters, um peeling (no caso das manchas)… Tem tudo a ver com o tipo de necessidade e abordagem.


Outro dos tratamentos que tem é um que se popularizou através das redes sociais e das celebridades, que é o PRP (plasma rico em plaquetas). É muito requisitado?
As redes sociais têm uma coisa que a vida real não tem: filtros. E nunca podemos pensar que podemos ficar "filtrados". Podemos ter uma pele radiosa e bonita, mas todos temos imperfeições, ou uma cicatriz, ou um sinal… Os filtros embelezam tudo de tal maneira que parece que todos temos a mesma textura de pele, que ninguém tem problemas, nem acne, nem rosácea… Ora, eu sempre que possa evitar a injecção de um "corpo estranho" que estimule o nosso organismo a produzir colagénio, eu evito. O plasma é um procedimento muito simples de se fazer e é muito bom porque passa por retirarmos um pouco de sangue, centrifuga-se, retira-se uma fracção desse sangue que é rico em plaquetas, ativo-as, e elas, através dos grânulos que estão à sua volta funcionam como estimulantes. Uso o microagulhamento neste procedimento, que faz microperfurações na pele, o que leva a um boom de informação a chegar ao corpo. É como estar a dizer às células que houve uma microlesão, mas para um bem maior. A tez muda logo, e o toque da pele é como se fosse numa pele de bebé.
Quais são os tratamentos mais procurados?

As pessoas procuram peelings químicos, muito superficiais. Eu só uso produtos de topo, se quero que existam resultados. É um procedimento que muda mesmo a textura da pele, e vê-se logo. Claro que é preciso dar-lhe tempo, há sempre tendência a melhorar. Os microagulhamentos também são procurados, e a toxina botulínica (botox) também. Quanto aos ácidos hialurónicos, já nem todas as pessoas têm coragem para fazer.
Que outros tratamentos mais específicos realiza na clínica?
A Medicina Estética baseia-se muito na produção de colagénio e há sempre técnicas em evolução. Um tratamento mais específico diria o Sculptra, coisas que não se fazem em qualquer lado. O mais importante é que as pessoas digam aquilo que gostavam de fazer, e depois eu recomendo aquilo que é mais indicado, ou reencaminho a pessoa para alguém da minha confiança. Agora, há sempre "n" soluções e combinações de protocolos que podem ser feitos.
Em que momento abriu a clínica? Pensa, um dia, ter um espaço multidisciplinar? Aliado a outras áreas relacionadas com esta?
Há muito por explorar nesta área, e nós queremos eventualmente mudar de sítio, num futuro próximo. Tudo isto nasceu em 2021, porque quando a pandemia de Covid-19 começou eu estava em ambiente hospitalar e a fazer o meu trabalho enquanto médico, em Medicina Interna. Até que disse que estava na hora de fazer outra coisa. Entretanto, o mundo mudou, e pensei que este era o momento. Há muita gente que dissocia a Medicina Estética da Medicina, mas é muito mais complexo que isso, e há uma necessidade de atualização constante. É preciso educar as pessoas nesta área.

Qual será o futuro da Medicina Estética?
Acho que o futuro vai ser brilhante. Aquela ideia de que os 40 são os novos 30, ou os 30 são os novos 20… é psicológica, para a pessoa não acreditar que está a envelhecer. Embora a longevidade esteja a aumentar. Hoje em dia, as pessoas dão muita importância ao exercício físico e à alimentação. E a Medicina Estética vai ter que acompanhar esta tendência. A nível de evolução, existem sempre novos produtos e técnicas. Uma tendência que irá possivelmente acontecer é a aplicação de fillers com recurso a ecógrafos (vê-se onde estão os vasos sanguíneos, o que implica muita formação específica). A nível de tratamentos, as mãos irão destacar-se. Nos homens, acredito que será a definição da mandíbula, que está muito na moda. E também acho que mesmo que se use menos a máscara, haverá muita gente que vai manter a máscara. O nosso bilhete de identidade vai continuar a ser o terço superior da face. As pessoas querem uma testa bonita. Também sei que com a pandemia muita gente descuidou-se com o terço médio inferior da face, e só quando retirarmos as máscaras saberemos como estará esse lado.
Onde? Avenida da República, 82, 3º Andar, Lisboa Contactos: davidvalverde@clinicavalverde.com ou 215896380.
