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Celebridades

Kate e William: os segredos do casamento de 10 anos

No final de abril cumpre-se uma década desde o casamento real mais importante deste século. 10 anos que podem muito bem ter mudado a história da monarquia britânica. Primeira parte de uma investigação ao lado mais privado do príncipe William, pela correspondente do Sunday Times para os assuntos da realeza, Roya Nikkhah.

Foto: @kensingtonroyal
07 de abril de 2021 às 08:45 Roya Nikkhah

Em finais deste mês, o príncipe William celebrará o seu 10.º aniversário de casamento – o dia em que se tornou duque [de Cambridge] e entrou na década mais educativa da sua vida. Nessa altura, o então recém-casado de 28 anos não estava preparado para se dedicar inteiramente aos deveres reais. Uma década depois, está numa posição muito diferente.

A missão de ser o herdeiro da coroa, de encontrar um equilíbrio entre a vida e o dever, é, na maioria das vezes, difícil. E os tempos que correm não são os mais auspiciosos. Na bombástica entrevista que deram no mês passado a Oprah Winfrey, o duque e a duquesa de Sussex acusaram a família real – e as instituições que lhe estão associadas – de racismo e de um cruel desdém para com a recém-chegada, que chegou a ter pensamentos suicidas, e fizeram muitas outras acusações condenatórias. Harry, o "suplente", também declarou que William ficou aprisionado "no sistema (…) o meu irmão não consegue deixar esse sistema, mas eu fi-lo".

Logo após esta entrevista, William sentiu-se "atordoado", diz uma fonte próxima do duque. "Ele ficou muito confuso". Quatro dias depois de os duques de Sussex terem falado, William rebateu essas palavras por ocasião de um compromisso com a duquesa de Cambridge numa escola na zona oriental de Londres. Questionado sobre as acusações de racismo, William retorquiu com uma fúria contida: "Nós não somos, de maneira alguma, uma família racista". Também confirmou que ainda não tinha falado com Harry, mas que iria fazê-lo. Uns dias depois, no fim de semana, houve relatos de que já tinham "estado em contacto".

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Imagina-se que William terá ficado tudo menos feliz quando, alguns dias depois, essa conversa com o irmão fez manchetes em todo o mundo depois de a apresentadora norte-americana Gayle King, amiga próxima dos duques de Sussex, ter revelado ao vivo no seu programa que não tinha sido uma conversa fácil: "Na verdade, até lhes telefonei para saber como se estavam a sentir", disse ela aos seus telespetadores. "

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href="https://www.maxima.pt/celebridades/detalhe/harry-e-meghan-markle-anunciam-sexo-do-bebe?ref=Pesquisa_Destaques" target="_blank" rel="noopener">Harry tinha falado com o seu irmão e também com o seu pai. O que me disseram foi que essas conversas não tinham sido produtivas".

A intervenção de Gayle levou uma antiga fonte da realeza a dizer que "nenhuma das famílias fará qualquer comentário sobre conversas privadas".

Um amigo próximo de ambos os irmãos diz que o comentário de Harry sobre o irmão estar "aprisionado" está "longe de ser verdade", insistindo que William não vê as coisas dessa forma. "Ele tem um caminho definido e aceitou por completo o seu papel. Ele tem muito a ver com a sua avó nesse respeito pelo dever e serviço".

Missão: modernizar a família real

Quando a rainha celebrou o seu 90.º aniversário, há cinco anos, William admitiu que "o desafio" que lhe ocupava "grande parte do pensamento" tinha a ver com a forma de "modernizar e desenvolver" a família real e torná-la "relevante ao longo dos próximos 20 anos". Agora, 20 anos parece muito tempo. Nas horas e dias que se seguiram à transmissão da entrevista dada pelos duques de Sussex a Oprah, William esteve no centro de todo o debate mantido com a rainha e o príncipe de Gales sobre como responder a Harry e Meghan.

Ele fez questão de que a polémica sobre o alegado racismo estivesse presente na declaração da rainha enquanto assunto de particular preocupação que "será levado muito a sério".

William nunca quis ser um "membro da realeza que corta fitas em inaugurações" e as questões que defende – a saúde metal, o combate ao racismo no futebol, a causa dos sem-abrigo e o seu papel crescente na defesa do ambiente – são uma janela que nos revela para onde é que o futuro rei William V conduzirá a Casa de Windsor. Um amigo diz: "Ele é um conservador com c pequeno. Dá valor à tradição e à necessidade de percorrer o país, mas sabe que pode marcar a diferença para lá dos tradicionais deveres da família real".

Foto: Getty Images

Atualmente, a popularidade da família real está – para o dizer de forma diplomática – em constante mutação, mas a estratégia de William tem vindo a funcionar. A seguir à entrevista de Oprah, surgiu posicionado logo abaixo da rainha, no topo do ranking de popularidade da realeza elaborado pela plataforma de sondagens YouGov. Não há muito tempo, uma tal posição pareceria difícil de alcançar, quando era alvo de epítetos como "molengão Wills" e "hesitante membro da realeza" e com um registo de menos dias de trabalho real do que os seus avós nonagenários. As fotografias dele nas pistas de esqui e a divertir-se nos clubes da estância suíça de Verbier, em março de 2017, falhando a presença nas comemorações do Dia da Commonwealth, às quais nem o duque de York faltou, não ajudaram.

Após os duradouros anos dourados dos duques de Cambridge, depois do seu casamento em 2011 e dos nascimentos do príncipe George e da princesa Charlotte, essa foi a primeira queda a pique da popularidade de William, que nessa altura ainda trabalhava como piloto de ambulância aérea. "Isso irritou-o", conta um amigo. "Ele saía de casa às 5:30 da manhã e regressava já depois do anoitecer, salvando vidas pelo meio, mas as pessoas continuavam a ser muito críticas quanto ao empenho que revelava perante o seu [outro] trabalho".

Foto: Getty Images

William esteve baseado no aeroporto de Cambridge, com a East Anglian Air Ambulance, durante dois anos, onde viveu "alguns momentos muito tristes e negros", muitas vezes trabalhando "em situações muito traumáticas envolvendo crianças". Mais tarde reconheceu que "depois de ter os meus próprios filhos (…) a relação entre o trabalho e a vida pessoal foi o que realmente me levou ao limite, e comecei a sentir coisas que nunca tinha sentido antes". Mas era um trabalho que adorava, por causa do "trabalho em equipa (…) que é algo que não acontece necessariamente no meu outro trabalho – em que se está mais vezes por conta própria".

Uma ex-colaboradora da família real diz: "assim que casaram, ele já tinha uma ideia muito clara do ritmo a que queria levar as coisas". William mostrou-se intransigente quanto a reduzir o seu horário de trabalho diário, primeiro como piloto de helicóptero de busca e salvamento da RAF [Força Aérea Britânica], em Anglesey, e depois como piloto da ambulância aérea. "Se não tivermos cuidado, o dever pode mandar-nos abaixo e limitar-nos tremendamente logo desde muito cedo", disse, insistindo que não ia "ficar de braços cruzados à espera ou na esperança" de poder ser bondoso. Ele adiou os deveres reais a tempo inteiro até ao outono de 2017, altura em que – ciente de que o futuro dos duques de Cambridge exigia mais tempo na "sede da monarquia" – se mudou com a família de Norfolk para Londres e em que George deu entrada na escola.

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Rei entre a classe média

Ele teve de lutar pelo seu lugar na ambulância aérea. Uma fonte próxima de William revela que "muitos sobrolhos se levantaram no Palácio quando ele quis fazer aquilo. Embora a rainha e o pai dele o tenham apoiado, alguns altos membros da corte questionaram até que ponto deveria um futuro rei estar a desempenhar funções de classe média, a conviver com pessoas comuns. Eles achavam que ele não se aguentaria, que acharia o trabalho aborrecido ou que estava a fazê-lo por teimosia para não desempenhar os seus deveres reais. Ele era deliberadamente pouco cooperante nesse domínio e decidiu que as expetativas das outras pessoas, tanto nos media como no sistema, não deveriam atravessar-se no caminho dos seus próprios valores. Após a entrevista de Harry e Meghan, muito se especulou sobre em que medida é que a vida dos membros da família real é ditada pelos responsáveis do Palácio, mas é evidente que William conseguiu delinear o seu próprio caminho. Sabe-se lá até que ponto se levantaram os sobrolhos daqueles altos cortesãos em 2019, quando William passou três semanas a observar as sombras dos agentes do MI5, MI6 e GCHQ para aprender de que forma combatiam o terrorismo. Ele insistiu em ser chamado de ‘Will’ e almoçava na cantina todos os dias.

As pessoas mais próximas do duque dizem que a sua resistência à ideia de desempenhar os deveres reais a tempo inteiro decorre não só do desejo de alcançar algo a título próprio mas também do receio do impacto que isso terá na sua vida familiar. Miguel Head trabalhou ao lado do príncipe durante 10 anos, até 2018, primeiro na qualidade de secretário de comunicações de William, Kate e Harry e posteriormente na qualidade de secretário privado de William, e refere que "toda a gente dirá que ele é formidável no desempenho das suas funções". "Os empregos na RAF e na ambulância aérea foram uma forma de ele saber quais eram as suas capacidades, aquilo em que era bom de pleno direito. Sem isso, ele ainda estaria à procura de algo que fosse dele próprio". Depois do nascimento dos filhos, Head diz que William desenvolveu uma "determinação visceral para lhes oferecer a vida de consistência e privacidade que lhe faltou durante grande parte da sua própria infância".

Um outro funcionário próximo diz que o seu plano para que os duques de Cambridge pudessem ter alguns anos de uma "normal" vida de casados, longe das luzes a tempo inteiro dos holofotes reais, deu os seus frutos. "Durante anos, as batalhas em torno da privacidade e da intrusão dos paparazzi foram devoradoras. Ele queria saber se era possível traçar um plano credível que lhes permitisse ter uma vida familiar ao mesmo tempo que incrementava gradualmente o perfil da sua vida oficial. Demorou anos a chegar lá, mas o sucesso desse plano permitiu-lhe ganhar confiança e sentir-se feliz com o seu papel. Ele já não está preocupado com a privacidade dos seus filhos e conseguiu ser o tipo de pai que queria ser".

"O casamento fê-lo um homem", diz um amigo. "A Catherine [Kate Middleton] é muito terra a terra e isso foi uma âncora muito importante. E embora tenha havido um tempo em que a sua relação com os media era só fúria e frustração, agora ele sabe como usar o poder dos media modernos de maneira a que a opinião pública sinta que lhe está a ter acesso suficiente".

Foto: Instagram @tatlermagazine

Os aniversários dos filhos são assinalados com fotografias – na maioria das vezes tiradas pela própria duquesa de Cambridge – e nos últimos tempos tem havido um visível aumento das suas presenças em público. Embora não "oficialmente" programado, William não teve problemas em deixar que George e Charlotte fossem fotografados no primeiro jogo do Aston Villa a que assistiram com a mãe e o pai, em 2019. Durante a pandemia foram mostradas fotos em que se viu a família a aplaudir o Serviço Nacional de Saúde à entrada da sua propriedade de Anmer Hall, em Norfolk, e depois, antes do Natal, houve fotos da primeira comparência dos cinco numa passadeira vermelha, para um festival de pantomima em homenagem aos trabalhadores essenciais.

Agora que se aproxima o aniversário do seu casamento, a 29 de abril, alguns amigos que estiveram presentes na cerimónia de há 10 anos contam-me que o facto de ambos estarem em pé de igualdade é a chave para o sucesso da sua união. "Eles conseguiram uma relação sólida e ela incute-lhe confiança", diz um amigo. "Não há ciúmes, não há fricções, eles ficam felizes com os êxitos um do outro". Em privado, William fala do trabalho de Kate de forma tão apaixonada como fala das suas próprias campanhas, e mostra orgulho na crescente confiança da mulher em público.

Roya Nikkhah é correspondente do Sunday Times para os assuntos da realeza. No decurso de mais de uma década, cobriu eventos da realeza para a BBC, entrevistou o príncipe de Gales e o príncipe Harry e apresentou os documentários Prince William, Monarch in the Making e Meghan and Harry: The Baby Years.

Roya Nikkhah/The Times/Atlântico Press

Tradução: Carla Pedro

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