Tiaras, as joias da realeza mais cobiçadas
Peças históricas ou acessórios de luxo? As tiaras combinam o peso da herança com a graciosidade de uma peça de joalharia. As princesas são as principais trend-setters, mas, embora tenham regras próprias, não se limitam ao interior dos palácios. As tiaras estão na moda? Fomos investigar.

Quando há um casamento real no horizonte, o segredo sobre que tiara a noiva vai usar suscita quase tanta curiosidade como o vestido. A mais recente noiva real a subir ao altar foi a princesa Eugenie, neta da rainha Isabel II, e, depois de alguma especulação, a noiva tirou do guarda-joias da avó uma peça inesperada (e pouco ou mesmo nada vista). Não é preciso ser fã da realeza, nem especialmente interessado em joias, para recordar que para a história das noivas reais já ficou registada, em maio de 2018, Meghan Markle com a tiara da rainha Mary que tem uma grande flor de diamantes ao centro e não era vista há décadas. Assim como Kate Middleton que, em 2011, tornou a tiara Halo, da Cartier, uma das mais famosas da coleção da rainha britânica. "Graças a uma nova geração de mulheres da realeza e noivas reais, as tiaras dos cofres reais têm sido vistas em público nos anos recentes, algumas não foram vistas durante muito tempo e isso fez ressurgir o interesse nestes tesouros que reforçam hoje o sentido de majestade e carregam o peso da história nas suas pedras." Assim foi explicado à Máxima por Claudia Williams, curadora do Palácio de Kensington, em Londres, onde residem atualmente alguns membros da família real britânica e onde esteve patente, em 2018, a exposição Victoria Revealed. Esta mostra abriu caminho à celebração do bicentenário da rainha Victoria, celebrado em maio de 2019, e o destaque centrou-se em três tiaras que lhe pertenceram, uma delas desenhada pelo príncipe consorte Alberto. A curadora diz que "enquanto peças de valor considerável, as tiaras são passadas de geração em geração com o significado de se tornarem simultaneamente emblemas do passado e ornamentos espetaculares para o presente". Mas não se trata apenas de simbolismo, pois estas peças são feitas com materiais muito valiosos e, por vezes, as tiaras são criadas a partir de conjuntos de pedras preciosas, podendo depois ser desmontadas e remontadas em novas peças. Para as festividades que irão relembrar a coroação, em 1937, de Jorge VI, o pai da rainha Isabel II, a Cartier recebeu encomendas para criar 27 tiaras. Para a coroação do avô da rainha, em 1911, a casa joalheira francesa chamou a atenção do público às suas montras, em New Bond Street, com 19 tiaras que iriam ser usadas no evento. Porque na realeza tudo tem um estatuto especial, a antiguidade e as memórias atribuem valor e muitas dessas joias passeiam-se pelas casas reais europeias há décadas e, por isso, não fiquemos apenas pelo Reino Unido. A Suécia teve três casamentos reais com pompa e circunstância, nos últimos anos, mas é na cerimónia anual de entrega dos Prémios Nobel que as mulheres da família real exibem a sua coleção de tiaras. "As tiaras sempre despertaram um sentido de reverência e fantasia à volta de quem as usa. Embora seja cada vez mais raro ver alguém usá-las, elas continuam, ocasionalmente, a ser usadas no século XXI e talvez seja a sua raridade que as faz ter ainda mais fascínio do que elas já tiveram", conclui Claudia Wiliams.
Um regresso precioso

Porque é que achamos, afinal, que as tiaras estão a ter um momento especial? Analisava o Financial Times, em novembro de 2013, que o interesse de mulheres ricas do Médio Oriente, da Ásia e da Rússia ajudou ao regresso das tiaras. Falámos com duas marcas que partilham tanto o lado histórico como o lado comercial do fascínio por estas peças para perceber se elas estão na moda ou não. "Os últimos desfiles de moda mostraram o uso das tiaras na passerelle e, por isso, há um revivalismo e uma tendência nisso", confirmou o departamento criativo da maison Chaumet. Mas a marca também adiantou que a tiara já faz parte do seu ADN e não é uma questão de tendência. Desde que a imperatriz Josefina reintroduziu o uso da tiara e começou a encomendar estas joias à Chaumet, a marca nunca parou de as criar. No quartel-general da maison, no n.º 12 da Place Vendôme, em Paris, há inclusive um Salon des Diademes, onde está exposta uma parte da história destes adornos de cabeça e onde os clientes que vão fazer encomendas se podem inspirar. Na Chaumet, a criação de uma tiara passa pelo mesmo processo que qualquer outra peça de joalharia e resulta de uma estreita colaboração entre vários departamentos. Também se usa, desde o século XIX, uma técnica que se chama mailleshore e que permite fazer um modelo 3D de cada peça que é arquivado. Uma encomenda especial ou uma joia exclusiva requer 500 a 1.500 horas de trabalho, representando um tempo de dois a seis meses, explica o departamento criativo da Chaumet. A casa Garrard, em Londres, tem uma relação próxima com a casa real há muitas décadas. Foram os joalheiros Garrard que "salvaram" a tiara Fringe que a rainha Isabel II usou no dia do casamento em 1947 e que se partiu enquanto a noiva de preparava, antes de sair para a Abadia de Westminster. "A Garrard sempre teve um fluxo constante tanto da encomenda de tiaras como da nova coleção Princess Tiara. Contudo, houve um interesse acrescido no seguimento do casamento real, em maio deste ano", esclarece-nos Claire Scott, chefe de design na Garrard, marca que foi nomeada pela rainha Victoria como joalheira da coroa britânica, em 1843. A coleção de tiaras que a designer refere destina-se a noivas, mas foi criada antes do casamento real entre o príncipe Harry e Megan Markle porque "tal como um vestido só é escolhido quando é visto e experimentado, o mesmo se aplica a uma tiara". Na Garrard, o ponto de partida de uma encomenda é uma conversa sobre ideias e inspirações que resulta num desenho à mão. Claire Scott esclarece: "O desenho é depois transferido para uma secção [de desenho], é pintado com guache e aguarela e anotado com pormenores sobre a pedra, o tamanho e a construção. Podem ser feitos modelos em cera ou em prata e pode haver provas." E quem melhor do que a casa que criou algumas das tiaras preferidas da rainha Isabel II (entre elas a tiara usada tantas vezes pela princesa Diana e, recentemente, por Kate Middleton, duquesa de Cambridge) para nos explicar quais as regras do uso desta peça. "A etiqueta tradicional dita que a primeira ocasião em que uma mulher usa uma tiara é no dia do casamento. Hoje, isto não é seguido tão à risca, mas nunca antes do 18.º aniversário", esclarece Claire Scott.
A tiara da "rainha" Elizabeth Taylor
A coroa é uma peça usada em cerimónias e simboliza o halo de luz que representa o rei como a cabeça de uma nação, o diadema há quem o defina como uma tiara usada pela realeza e a tiara é um acessório feminino que não está restrito às famílias nobres e reais. Talvez por isso tantas marcas de joias e de moda deem asas à imaginação para criar este tipo de peça em materiais preciosos ou não, como a Dolce & Gabbana tão bem exemplifica nos desfiles das mais recentes estações. Onde está, afinal, o fascínio? Não é uma peça fácil de usar, exige coordenação, equilíbrio e capacidade para suportar o peso. Afinal, diamantes são pedras! Se na realeza aguentar o peso das joias (físico e histórico) faz parte da formação de uma princesa, há quem não tenha precisado de quaisquer lições, como Elizabeth Taylor, uma "devoradora" de joias. Um dos seus maridos, Mike Todd, disse-lhe "És a minha rainha" quando lhe ofereceu uma tiara antiga, de cerca de 1880. A atriz usou-a nos Óscares de 1957 para ver o marido receber o prémio de melhor filme e em 1969 num evento com a princesa Margarida, em Londres.

Elizabeth Taylor provou que se pode usar uma tiara como se usa um colar ou um anel, com a atitude própria de quem está a exibir uma joia única. Liz Taylor tornou a Tiara Mike Todd tão carismática que, no leilão das suas joias, organizado pela Christie’s, em 2011, estimava-se que a peça chegasse aos 60 mil dólares, mas foi vendida por mais de 4 milhões e 200 mil. No entanto, não é a tiara mais cara vendida num leilão. No mesmo ano, o recorde foi batido na Sotheby’s com uma tiara de esmeraldas que atingiu o valor de 12 milhões e 700 mil dólares. Nem a tiara Poltimore que a princesa Margarida usou no seu casamento com Lorde Snowdon, em 1960, atingiu valor semelhante na Christie’s, em 2006. Para quem quer adquirir tiaras, os leilões são um meio com muitas oportunidades. Essa leiloeira vendeu, em 1927 (no leilão The Russian State Jewellery), um terço da coleção de joias da família imperial russa. Como afirma a curadora do Palácio de Kensington, "as coleções mais extensas de tiaras eram as de França e da Rússia, mas talvez, ironicamente, muitas delas foram perdidas em vendas em França, em 1887, e na Rússia durante uma série de vendas, nas décadas de 1920 e de 1930". E Claire Scott, da Garrard, acrescenta: "Na Grã-Bretanha, em contraste com as joias da coroa possuídas pelo Estado, as tiaras têm permanecido nas coleções privadas dos membros da família real, passando de geração em geração."
Da Antiguidade aos nossos dias
É possível que os primeiros vestígios de tiaras remontem à Grécia Antiga, com ornamentos de cabeça em forma de uma tira em ouro que eram usados em casamentos e banquetes. Na Idade Média, os acessórios de cabeça em forma de coroa destinavam-se às noivas e as tiaras, como as conhecemos agora, ganharam forma no século XVIII. No entanto, foi antes da I Guerra Mundial que estas peças tiveram a sua época dourada. Na série Downton Abbey, que decorre nas primeiras décadas do século XX, a tiara era um acessório recorrente. Na terceira temporada, o casamento de Lady Mary agarrou milhões de espectadores ao ecrã para ver Michelle Dockery vestida de noiva e na cabeça usou, claro, uma tiara. A peça tinha tal importância no look que a joia em questão remonta ao início de 1800 e foi emprestada pela joalheira Bentley & Skinner, depois de encontrada em Piccadilly, Londres. Mas há mais séries em que a tiara é importante. Por exemplo, a figurinista Michele Clapton assina dois dos sucessos televisivos do momento: A Guerra dos Tronos e The Crown. A propósito da primeira, Clapton disse à revista Vanity Fair que fazer a coroa para o episódio da coroação de Cersei, na sexta temporada, foi ainda mais difícil do que fazer o vestido para essa cena memorável. Já na segunda série acima referida, as joias têm um papel quase tão importante como os vestidos. Algumas das joias da coleção da rainha Isabel II foram fielmente reproduzidas e a figurinista decidiu usá-las para transmitir mensagens sobre as personagens.

Em 2018 a rainha Isabel II celebrou os 65 anos da cerimónia da sua coroação e a BBC dedicou-lhe um documentário, The Coronation. Aconteceu a 2 de junho de 1953 e foram precisos 16 meses de planeamento para concretizar uma cerimónia que segue um guião com mais de mil anos. Neste programa, a rainha divide o protagonismo com as joias da coroação: a St. Edward’s Crown, que só usou naquele dia, e a Imperial State Crown são as peças mais carismáticas, tanto pelo simbolismo como por todas as pedras preciosas que concentram. No documentário, a rainha fala, pela primeira vez, da experiência de usar as coroas. E quem melhor do que Sua Majestade, que, aos 92 anos, continua a usufruir da sua coleção de tiaras sempre que o protocolo proporciona e, até 2016, conduziu a cerimónia anual de Abertura do Parlamento com a já referida Imperial State Crown na cabeça. Será que as tiaras rejuvenescem?

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