Dating em Lisboa. “‘Marquei consulta num especialista em disfunção erétil’. Foram palavras que, aos 30 anos, nunca pensei ler”.

"Vou-te contar uma coisa e com essa informação decides o que entenderes", começou por escrever e enquanto redigia eu aguardava ansiosamente pela próxima mensagem, vendo o alerta "a escrever…" no topo da conversa de WhatsApp surgir e desaparecer. Duvidava de como o dizer. Dois dias antes tivemos um dos melhores dates das nossas vidas: um jantar no Ramiro regado a marisco e vinho, uma química incrível, um anseio enorme por estarmos juntos – tanto, que decidimos adiar para o dia seguinte. Mas, no dia seguinte, nada aconteceu. Todo o desejo se desvaneceu. Rebolámos sobre a cama, despi-me de forma ousada - recordo-me vagamente de o ver morder o lábio quando me viu tirar a camisola -, rebolámos um pouco mais e chegado o momento, algo (= o pénis dele) não funcionou. As palavras: "Estou aqui com um pequeno problema…", foram proferidas num misto de vergonha, surpresa e tristeza. E eu vi-me a mãos com uma questão nova e inusitada para mim. Afinal, porque não estaria ele a ser capaz de manter uma ereção? Passámos a noite juntos, de qualquer modo. Dormimos aconchegados na minha cama. Mas, de manhã, quando fechei a porta depois de nos despedirmos, não pude evitar pensar se alguma vez o voltaria a ver. "Duas coisas podem acontecer," refleti, "ou nunca mais o volto a ver ou vai querer uma desforra". Nenhuma delas aconteceu de facto, porém, ambas se tornaram eventualmente verdade.
Ele continuava a escrever e minutos depois surge no meu ecrã a tão aguardada mensagem: "Marquei consulta num médico especialista em disfunção erétil". Eram palavras que, aos 30 anos, nunca pensei ler, contudo, admirei-o por isso. Achei que tomava a atitude correta, a escolha madura. Se gostei dele antes, iluminado pelas luzes brancas da marisqueira, gostava ainda mais agora, iluminado somente pela honestidade. "É alguém que procura resolver os problemas e que não tem medo de ser vulnerável", pensei para com os meus botões. Na verdade, estava na sala com a minha melhor amiga – era ela o meu botão. Marcámos uma conversa de emergência e ela chegou com duas garrafas de vinho e todo um discurso sobre como "ele só devia estar nervoso, porque era a primeira vez". "Beberam muito? Quando é assim tens de lhe dar um copo de whisky. Funciona sempre", falava a voz da sabedoria popular dos murchos. E eu ouvia, admirada por existir toda uma confederação de jovens mulheres a lidar com disfunção erétil masculina que eu desconhecia. Não é um bocado cedo para isso?

Havia, no entanto, uma questão que se impunha fortemente e que nos preocupava a ambas: quantas vezes tivera o dito cujo batido em retirada para que ele decidisse marcar uma consulta num especialista? Decidi perguntar, num tom diferente. "Então, já tinha acontecido antes, é isso?". "Aconteceu uma ou outra vez antes, mas eu não queria mesmo estar com a pessoa. Não como queria estar contigo! Estou louco de desejo por ti!", explicou. Nesse momento, percebi que haveria desforra e prontifiquei-me para que houvesse. "Olha, noutra fase da minha vida poderia dizer-te que não me fazia sentido voltar a estar contigo, mas acho que ambos concordamos que gostámos um do outro e existem outras coisas que pudemos fazer, se a situação não se resolver. Gostei que tivesses admitido e tomada a atitude certa, conta comigo, ok?". Ele ia ao Sr. Doutor arranjar a pilinha por mim, que mais poderia fazer senão apoiá-lo? – na verdade, ele ia por ele, porque queria poder usá-la como lhe aprouvesse e usufruir de toda a sua masculinidade em pleno, mas, naquele momento, não importou.
Estivemos juntos várias vezes, nunca conseguimos ter uma relação sexual com penetração que durasse mais do que alguns segundos, o que era obviamente frustrante para ele – e para mim. No decorrer do convívio percebi que tinha algumas expectativas relativamente ao comportamento das mulheres na cama, esperava que fosse ousada, que gemesse alto, que me comportasse como uma atriz pornográfica, quando na verdade, muitas vezes, só me ocorria dizer-lhe: "Isso não é o meu clitóris e não estou a perceber o que estás a fazer". Mas gostávamos de estar juntos, falávamos imenso, partilhávamos muito sobre a nossa infância, a nossa família. Ele achava-me incrível. Admirava-se por eu ter conseguido tudo na vida sem ajuda, apenas com o meu esforço e trabalho. Ele vinha de outro mundo e apesar de no seu universo as "cunhas" reinarem, também se orgulhava de ter conseguido tudo a pulso. Queria ajudar-me e chegou a conseguir-me uma entrevista de trabalho através de um contacto seu. Hoje, percebo que queria recompensar-me de alguma forma pela maçada que me estava a fazer passar; na altura, achei que estava genuinamente interessado em ajudar-me. E talvez estivesse, mas um homem com ego ferido é um homem perdido. Num certo dia, a coisa azedou porque ele decidiu fazer um comentário inadequado sobre a minha depilação. "Podias depilar-te toda? A minha ex-namorada depilava-se toda e eu gostava mais. Odeio pelos". Se os homens com ego ferido desvanecem, as mulheres atacam que nem leoas. "Não consegues meter a pila em pé, mas queres que me depile toda? E veres menos pornografia? Se calhar ajudava-te a ter uma noção real do que é o sexo". Foi o princípio do fim. Na manhã seguinte, saiu de minha casa sem me dar um beijo de despedida, mas admitiu que via demasiada pornografia.
Algumas semanas depois, o fim deu-se de facto. Ele chegou desorientado. "Preciso de te dizer uma coisa. Ainda gosto da minha ex-namorada", admitiu. Não era nada que não me tivesse já ocorrido, por isso, perguntei: "Gostas dela, mas queres ultrapassar a situação ou gostas dela e se ela te enviar uma mensagem agora tu vais atrás dela que nem um cãozinho?". Permaneceu em silêncio. Era a segunda hipótese. "É que falei com a minha tia e ela acha que não é correto estar contigo, enquanto não esquecer a outra". Tinha a disfunção erétil, o excesso de consumo de vídeos pornográficos e uma visão errada da sexualidade feminina contra mim e agora na batalha contra a pujança juntava-se a tia. Oh, sorte! Decidi resolver a situação como resolvo praticamente tudo na vida: abri uma garrafa de vinho, embebedei-o e fodemos durante, pelo menos, uma hora. Estava desfeito o equívoco.

Na manhã seguinte, enquanto o levava à porta tive a certeza de que não voltaria a vê-lo. Teve a sua desforra, mas estava na hora de ir embora. "O problema não és tu, sou eu, eu ainda gosto dela" – "e a minha pila parece embruxada", teria eu acrescentado. Alguns dias mais tarde, fui à minha sessão habitual de terapia. Contei o episódio completo. "Essa tia foi estragar tudo. Acho que devias mandar-lhe uma mensagem e tentar, porque não? Vocês gostavam um do outro e a pila afinal funciona". Sai da consulta e enviei-lhe uma mensagem. "Depois da consulta, acho que preciso de estar sozinho por uns tempos", respondeu. Tradução: "depois da consulta, acho que preciso de ir experimentar a minha pila com alguém novo." E foi, deduzo eu.
