Dating em Lisboa. “Quando um tripeiro se encanta por uma alfacinha fica a rezar por uma mulher do Norte”

Arrependi-me assim que abri a porta e o vi subir as escadas, demasiado feliz por me reencontrar. Tenho este problema, deprimo quando chove. Assim que se apresentam umas nuvens no céu, a luz fica escura, o tempo húmido, os meus humores teimam em ficar nostálgicos, apodera-se de mim o sono e a falta de vontade. Sofro de depressão sazonal, diz a minha terapeuta, que me obriga a tomar suplementos vitamínicos e a praticar exercício diariamente assim que entramos no outono. No verão, não há sol e mar que não lavem qualquer amargura, já no inverno... Com isto, quero dizer que basta qualquer prenúncio de chuva para viver na inércia ou tomar más decisões. Neste caso, a má decisão passou por convidar um tipo para um segundo date em minha casa. Segundo date em casa que, geralmente, se traduz em Netflix and Chill.
Conformei-me às insistências de uma amiga e aceitei que me marcasse um encontro com o novo colega de trabalho do namorado. Um tipo do Porto, que tinha chegado à capital para abraçar um novo desafio profissional. Ainda não conhecia muitas pessoas por aqui, nem tinha criado um núcleo duro de amizades, o que ela considerava ser uma oportunidade perfeita para mim. "Não podes perder tempo", dizia-me. Eu, sem nada de melhor para fazer, e depois de tanta insistência, anui.
No primeiro encontro decidiu levar-me a um dos restaurantes da moda, como se eu não vivesse na capital há anos suficientes para os abominar a todos, com os seus shows off e preços inflacionados, mas compreendi que para ele seria novidade, por isso, tentei não julgar a escolha. Julguei apenas o facto de ter falado incessantemente sobre o Porto durante todo o jantar. Tudo no Norte era melhor: a comida, as casas, as pessoas e as mulheres, sobretudo, as mulheres. Se tolerava todos os outros comentários, quando chegámos a este azedei. Iriamos entrar na velha discussão das mulheres do Norte versus as mulheres do Sul. "Porque as mulheres do Porto têm mais garra e são mais decididas!". Sorri e pedi a sobremesa mais cara da carta, porque as alfacinhas podem não ter garra, mas têm mau feitio - e podem não ser decididas, mas têm bom apetite. Estava completamente determinada em terminar o jantar e nunca mais o ver. Eis quando, sem estar bem à espera, me beija à porta do restaurante e o meu corpo falha. Um friozinho no estômago, uma vontade de retribuir, as cuecas a humedecer. Por esta não estava à espera! "Vemo-nos amanhã?", perguntou. "Amanhã, não posso. Quinta?", senti-me endoidecer, mas marquei um novo encontro.
Acontece que chegados a quinta-feira, os dias solarengos decidiram tirar folga. Estava um dia fusco, aborrecido, chuviscava de tempos a tempos. Quando me perguntou o que queria fazer deixei-me levar pela preguiça e perguntei se queria jantar em minha casa. Ele concordou, obviamente, antecipando o festival de sexo antes do jantar ou como sobremesa. Por isso, chegou airoso, feliz, cheio de motivação. Enquanto eu abri a porta, olhei para ele e conclui, naquele exato momento, que não existe beijo que apague o quão maçador e desinteressante ele era. Vi-me em apertos e sem saber bem como descalçar a bota. Conclui que tinha apenas uma opção: proporcionar-lhe o pior date de sempre. Comecei por recebê-lo com um beijo na bochecha, encaminhei-o para a sala e sentei-me, mas com a devida distância. E depois pensei: o que posso fazer para aborrecer de morte um novo-rico que adora comida cara e que, a julgar pelo doutoramento numa universidade internacional cujo nome nem consigo pronunciar, deseja um estilo de vida igual? Sugeri que jantássemos sopa, pois estava má de finanças, e depois de navegar pela Netflix durante um certo tempo esbarrei num documentário sobre minimalismo que achei perfeito para a ocasião.

Se ao início, a possibilidade de me saltar para as cuecas o motivava a dizer que sim a tudo, ao fim de uma hora, o pobre coitado já não aguentava mais. De todas as vezes que se tentava chegar perto de mim no sofá eu desviava-me ou arranjava uma desculpa. "Tenho de ir ver da sopa", dizia, metia o documentário na pausa e ia à cozinha. Ria-me por uns instantes, pensava na parvoíce que estava a fazer. Porque não pude simplesmente abrir a porta e dizer: "Olha, desculpa ter-te feito vir até aqui, mas apercebi-me agora de que não quero ter um date contigo. Não temos nada em comum e tu queres muito uma mulher do Norte. Por isso, boa sorte!". O que há de errado com a humanidade que evita tanto a honestidade e foge de confrontos?
O culminar deu-se quando o documentário abordou o excesso de brinquedos a que as crianças são expostas, fazendo com que tenham cada vez mais dificuldades de concentração. "Concordo inteiramente com isto, não achas?", comecei por dizer. Depois, dei o exemplo dos meus sobrinhos que tem imensos brinquedos e que só querem saber de tablets e telemóveis. Por fim, dei a tacada que me levaria à vitória: "Sabes, sempre tive o sonho de um dia largar tudo e ir viver para África. Trabalhar numa ONG, ter uma vida mais simples. Acho que também seria importante para os meus filhos, é uma mensagem que lhes quero passar". Largada a bomba foi só esperar pela reação. "O quê? Ir viver para África? Vais levar para lá as crianças sem nada, depois de terem sido criadas com tudo aqui?", respondeu-me num misto de incredulidade e irritação. Com muita calma, respondi afirmativamente. "As crianças criam-se em todo o lado. Aliás, lá também existem crianças, sabes?". Ele chegou ao limite.
Passados poucos minutos o documentário acabou. Ele agradeceu a sopa e despediu-se. Do lado de dentro da porta, suspirei de alívio, suspeitando que ainda deveria vir aí uma mensagem final para clarificar o que quer que seja que se tivesse passado naquele encontro. No dia seguinte, chegou a aguardada mensagem. O tripeiro questionava a minha estranheza na noite anterior. "Não há nada a estranhar. Queremos coisas diferentes. Tu queres uma mulher do Norte e eu quero ir para África, lembraste?". Ele não ficou convencido, da mesma forma que eu sabia que essa não era a verdadeira razão para lhe ter dado uma tampa. A verdade é que qualquer beijo me pode fazer arrepiar, mas apenas as palavras certas me arrebatarão por inteiro. "As mulheres do Norte são melhores dos que as lisboetas", estava longe de fazer o meu coração palpitar, ainda que a minha vulva me pedisse alguma imparcialidade.

Mundo, Diversão, Crónica, Opinião, Maria Pestana, Lisboa, Dating em Lisboa
Previsões astrológicas. Novembro, um mês para cultivar a calma
Prepare-se para a existência de movimentos celestiais, que nos levarão a sermos desafiados a cultivar a calma e a encontrar o equilíbrio nas mudanças. Por Andrea Pereira, astróloga.
Horóscopo de novembro. Carneiro, Leão e Sagitário
Novembro promete desafios e reviravoltas para os signos do Elemento Fogo, trazendo crises, mudanças e um forte impulso na procura por relações mais sólidas e intensas.
Crónica Dating em Lisboa. “Marquei um date para ter um jantar grátis e nem a sobremesa compensou"
"A meio do jantar, já totalmente consumida pelo desespero, o meu telemóvel vibrou e no ecrã podia ler-se: "Então, jeitosa. Estás em casa?". Vi a mensagem de soslaio e ignorei. Decerto terei revirado os olhos e mordido a bochecha em jeito de: "Ah, agora querias, não é? Pois, agora estou num date com outro".
Horóscopo de novembro. Touro, Virgem e Capricórnio
Novembro traz desafios e oportunidades para os signos do Elemento Terra, com destaque para Touro e Capricórnio.
Crónica Dating em Lisboa. "Vocês andaram pouquíssimo tempo para ele ter uma escova de dentes em tua casa"
"Com o tardar das horas, dei-lhe o meu número e disse que depois combinávamos algo, mas o Pedro seguiu-me até à saída, entrou pelo táxi adentro e acabou à porta de minha casa a implorar para que o deixasse subir."