Sexual wellness, estes são os brinquedos sexuais do momento
Vibradores, estimuladores ou lubrificantes. E a lista está só a começar. A democratização dos brinquedos sexuais deu origem a um novo mercado graças à queda dos tabus ligados à sexualidade feminina.

Se antes o tema era tabu, agora é uma verdadeira tendência de consumo – e ainda bem. Já não era sem tempo que o diálogo acerca da masturbação, sobretudo a feminina, fosse feito com naturalidade, e encarado pelas lojas em grandes superfícies como uma secção própria, além das conhecidas sex shops. Foi o que aconteceu recentemente no mercado português, com a chegada de uma nova categoria às lojas Sephora, repleta de produtos focados no bem-estar sexual feminino, de que são exemplos vibradores, estimuladores, lubrificantes e toalhitas de higiene. Há quem acredite que a pandemia tenha dado um empurrão - afinal, não podiam ser só bebés nem divórcios.



"A Sephora é um templo de Beleza, no qual a alegria é um valor basilar e onde a vontade de trazer novidades, disrupção e ousadia ao mundo em que vivemos é uma constante. Por este motivo, a marca procura sempre conhecer e compreender a mulher como um todo, oferecendo os produtos e experiências que a sua comunidade precisa, quer e sente", resume Rita Corrêa Mendes, diretora de Marketing e E-Commerce da Sephora Portugal. "Acreditamos que o movimento #ÉNORMAL é um importante passo para normalizar o prazer sexual feminino e que a liberdade de falar sobre sexual wellness sem preconceitos, faz-nos sentir empoderadas". Para o lançamento, foram convidadas as psicólogas Leonor de Oliveira e Vera Machaz, a influencer Glória Dias e a atriz Marta Gil. A ilustradora portuguesa Ana Roque ficou responsável pelo cartaz, em linha com o movimento apresentado, para reforçar a importância de normalizar o prazer sexual feminino.
O crescimento atual de vendas de brinquedos eróticos LELO, por exemplo, e comparando com o último ano, foi de + 64% e os dados de vendas no confinamento de março de 2020, comparando com março de 2019, aumentou 149%. "O cliente procura quebrar tabus, conhecer-se, explorar novas experiências que lhe permitam melhorar seu bem-estar e novas alternativas no que diz respeito à sexualidade, basta aquela faísca de curiosidade que faz com que a pessoa tenha vontade de ouvir mais. e aprender mais sobre o tema" explica Adriana Diippolito, diretora de marketing e comunicação ibérica da LELO.


Tânia Graça, psicóloga e sexóloga, autora de uma página de Instagram onde publica com regularidade sobre este e outros temas pertinentes na sexualidade feminina concorda que estamos a viver uma mudança. "Sem dúvida que se assiste a uma democratização da venda e utilização dos brinquedos sexuais, da compra com cada vez menos vergonha e tabu, e claro que ajuda muito cada vez mais pessoas falarem e comprarem sentindo que têm legitimidade para o fazer e ter prazer", explica. "Esta democratização da venda de brinquedos segue a libertação da sexualidade, e da sexualidade feminina, mais concretamente. Esse crescendo da venda/compra tem a ver com esse progresso." Na Sephora, estão disponíveis a Smile Makers, Lelo, Ketish e a Ho Karan, mas em breve chegarão mais marcas. Entre outras mais populares estão a Satisfyer, que tem preços democráticos. Meaning: hoje em dia, é possível ter um vibrador que não custe uma fortuna.


Sexualidade e wellness, são, afinal, temas interligados. "Para mim, são dois conceitos que fazem sentido estarem associados. A emergência deste mercado faz muito sentido. Eu acho que a libertação da sexualidade, faz com que o mercado cresça. E vice-versa. É um efeito bola de neve muito positivo" afirma ainda sexóloga Tânia Graça. "Sendo que esta libertação feminina também se reflete noutras área. Quando se toma conta do corpo e do próprio prazer, apoderamo-nos de outras áreas da nossa vida, sentimo-nos mais donas de nós mesmas. A masturbação e os brinquedos são mais do que isso, são meios de empoderamento."

A questão da masturbação tornou-se mais relevante, já que o uso de brinquedos sexuais pode ser analisado dos dois prismas: numa relação ou a solo. "A masturbação é uma tomada de posse do nosso corpo e do nosso prazer, o orgasmo feminino é um grito de liberdade, é uma forma de nos explorarmos e conhecermos, e de, quem sabe, levar isso para as relações. É preciso continuar a falar-se do tema, cada profissional deverá fazê-lo da forma que mais fizer sentido, até porque nem todos usam as redes sociais como via profissional e de divulgação das mensagens. O importante é que em contextos de consulta não existam julgamentos, e que possa haver incentivos quando faz sentido. Incentivo ao erotismo e ao desejo sexual" acredita.

"70% do portfólio e clientes LELO são mulheres, de idades muito variadas, têm mulheres mais jovens que querem experimentar e cresceram num ambiente mais livre e aberto" reforça Adriana Diippolito, o que lhes permite ver os brinquedos eróticos com outra perspetiva e mulheres com mais de 35 anos que viveram tempos de mais censura ou julgamentos sociais por quererem viver a sexualidade de forma mais aberta e agora percebem que oportunidade de realmente vivenciar e conhecer seus corpos através da masturbação."




Mas não queremos com isto dizer que pode ser uma escolha unânime, porque as tendências são isso, mesmo, díspares. "Eu diria que os [gadgets] não têm um papel determinante, na medida em que não quer dizer que [as pessoas que os usam] tenham uma sexualidade infeliz ou pouco satisfatória por isso. A verdade é que os brinquedos podem trazer aqui um boost muito interessante, tanto à dinâmica sexual em casal como à nossa vida, individualmente. Porque trazem novas sensações, novas formas de estimulação. O objetivo é ser um plus, um extra, o trazer uma novidade. Quebrar a rotina. Além disso, é uma ajuda à autodescoberta." Tânia chama a atenção para outro detalhe, que ainda está ligado ao tal tabu e à masculinidade. "Para alguns homens, em relações heterosexuais, continua a haver alguma insegurança relativamente aos brinquedos, alguma sensação de insuficiência, por isso é que é tão importante desmistificar tudo isto. É a voz da mulher que diz: ‘eu posso dar-me prazer mesmo que tu não estejas envolvido nisso’.


Por fim, e independentemente de os brinquedos sexuais serem mais vendidos, a sexóloga diria que "a sex shop será sempre o lugar em que encontraremos um aconselhamento mais especializado." A diferença está na confiança com que hoje entramos numa.
