Carolina Carvalho: "A vida está constantemente a pôr-nos à prova"
Ambiciosa e determinada, Carolina Carvalho já deu provas do seu talento, tanto na Televisão como no Cinema. Em Bem Bom, o novo filme sobre as Doce, vamos vê-la a somar qualidades, como as da dança e as do canto, mas a coisa não fica por aí. A atriz fala com a Máxima sobre como chega às emoções fortes num papel que o exige, mas também sobre a educação familiar e sobre as lições que a vida já lhe ensinou.

Não há muitas pessoas com o dom da palavra que simultaneamente sejam capazes de se fazer escutar e de contagiar o ouvinte com encanto e magnetismo. A ouvinte sou eu, do outro lado da linha telefónica (culpa da pandemia) está Carolina Carvalho, que fala sobre a sua vida, a carreira, as crenças e os sonhos — papel tão exímio de entrevistada que (me) faz esquecer que o contexto da chamada é, efetivamente, uma entrevista.
Camaleónica nos papéis que tem desempenhado na Televisão e no Cinema nacionais, Carolina é uma atriz com a cabeça no sítio e o coração doce. Lê-se tudo isso no seu tom assertivo, sem falsos moralismos, a par de uma determinação contagiante e, até empolgante. Nascida em Lisboa, a 3 de dezembro de 1994, é uma 90’s girl e a mais velha de seis irmãos, cinco raparigas e dois rapazes.
Da primeira peça de teatro, no Teatro do Bairro - que, é preciso dizer, preparou com mestria à "socapa" da família - à mais recente personagem que agarrou com distinção na série A Generala, em que interpreta a jovem Maria Luísa Paiva Monteiro (a que, depois, Soraia Chaves deu seguimento) às várias novelas que já protagonizou – Rainha das Flores, Amor Maior e Vidas Opostas são apenas exemplos — passando pelo tão aguardado Bem Bom, o filme biográfico sobre as Doce, de Patrícia Sequeira. Carolina será Lena Coelho, papel que agarra como se fosse o último — e o único. Nesta entrevista também fala sobre desejos, aspirações e sonhos que quer concretizar, com uma segurança rara para uma jovem atriz de 26 anos, que conversa com a tranquilidade de quem vive a vida no momento.
Lê-se na sua voz determinação, maturidade e sensatez, qualidades que transporta para o seu trabalho. Sempre soube que seria atriz?
Eu nunca soube exactamente o que queria ser. Quando somos crianças pensamos quase sempre naquilo que queremos ser quando formos grandes. No meu caso, nunca pensei no que queria fazer no futuro. Por ter muitos irmãos, aquilo que eu fazia era organizar espectáculos de teatro, em que era eu que apresentava, era eu a protagonista, fazia de mulher, fazia de homem… e aos meus irmãos atribuía-lhes outros papéis. De certa forma, penso que os meus pais sempre souberam que o meu futuro passava um bocadinho pela parte do espectáculo. Mas depois todo o meu percurso académico nada tinha a ver com isto. Frequentei sempre Ciências e Tecnologias, era sempre a melhor aluna da turma, a do quadro de honra e [rapariga] da matemática e da físico-química. Para os meus pais, de certa forma, o meu percurso encaminhava-se para eu seguir Medicina.


Como se dá essa aproximação às Artes?
Uma coisa que eu faço desde pequena é ir ao teatro, ir ao cinema, sempre adorei ver filmes antigos e seguir atores — foi uma coisa que cresceu comigo quase de uma forma inexplicável. Quando eu ia ao teatro, sempre pus a hipótese de: "e se fosse eu em cima do palco, como seria?" Mas de alguma forma tinha vergonha de partilhar isso com os meus pais porque eu sabia que eles queriam muito que eu fosse médica, porque tinha média e era uma coisa certa. A dada altura decido fazer o meu primeiro curso no Teatro do Bairro com um professor americano, e fiz esse curso às escondidas dos meus pais enquanto estava na faculdade. No final do curso a apresentação era uma peça de teatro. Eu convidei os meus pais para irem e os meus irmãos, e eles viram que eu estava mesmo muito feliz. No final do curso disse-lhes que era aquilo que eu gostava de fazer para o resto da vida, porque era o que me fazia mais feliz.

E depois, como reagiram?
Ao início não foi muito fácil de aceitar, aquilo que eles me pediram foi que me licenciasse na mesma, e eu fiz a minha licenciatura em Comunicação Social na Universidade Católica, mas ao mesmo tempo sempre estudando representação. Depois de ter estado em cena no Teatro do Bairro entrei para a SIC e comecei a fazer novelas, e desde que comecei, em 2014, nunca parei. Já fiz teatro, já fiz novelas, agora o filme sobre as Doce e a série A Generala. Tudo isto aconteceu de uma forma muito orgânica e repentina, mas que ao mesmo tempo foi gradual, o que me permitiu ter sempre os pés bem assentes na Terra.
Como é que se deu o salto para outras oportunidades depois desse início?

Sinto que tive que conquistar muitas oportunidades. Quando fui fazer televisão, sabia que havia algum preconceito no teatro e no cinema em relação aos atores das novelas fazerem outras coisas. Sempre quis fazer muitos castings e mostrar realmente o meu valor. Um dos teatros que eu tinha como maior referência era o Teatro Aberto, que toda a gente me dizia ser difícil, quando estava a gravar a Golpe de Sorte, surgiu a oportunidade de protagonizar uma peça e foi inacreditável. O que comecei a perceber foi que uma pessoa tem que ser persistente, e o mais importante no meio é que todas as oportunidades que nos são dadas sejam aproveitadas de uma forma em que reconheçamos sempre o nosso trabalho. Eu quero sempre que tudo aquilo que eu conquiste seja através do meu esforço, e poder mostrar às pessoas que eu mereço aquele lugar. Não quero nada de bandeja. Prefiro fazer castings, e se ficar com determinado papel saber que tem a ver com o meu valor e o esforço que fiz para lá chegar.
Falam-lhe muito nessa determinação?
Sim, muitas pessoas, a primeira vez que falam comigo, mencionam o querer correr atrás. Eu acho que é uma das minhas principais características, eu quero muito poder dizer um dia mais tarde que tudo aquilo que eu consegui foi devido ao meu trabalho e com o não me contentar com pouco. Há um ano dizia que o meu sonho era fazer cinema, e de repente consegui concretizar esse sonho. Neste momento quero muito internacionalizar-me, é esse o meu objetivo nos próximos tempos.


Voltando ao preconceito para com as novelas. Como é que vê isso hoje?
Eu acho que um verdadeiro ator tem de ser capaz de trabalhar em todos os géneros. Ou seja, um bom ator é capaz de fazer teatro, de fazer cinema e de fazer televisão. Obviamente que o tempo que existe em termos de processo para cada um destes três meios é diferente. Enquanto eu numa série gravo seis a sete cenas por dia, numa novela se calhar gravo cerca de 25 por dia. A novela faz com que tenhamos que ser mais rápidos nesse processo e dá-nos um andamento completamente diferente. O termo que eu costumo usar é "estaleca" porque é isso que nos dá enquanto atores. Eu sinto que, por ter feito tantas novelas seguidas, eu consigo decorar textos de uma forma muito rápida. Eu leio uma cena uma vez, e consigo decorá-la logo, porque o cérebro é um músculo que se treina e eu passei muitos anos a treiná-lo. Isso também faz com que depois tenha mais tempo para me dedicar a outros aspetos, como a posição corporal, a voz, trabalho de pesquisa e, portanto, acho que a novela é mesmo isso, dá um andamento ao ator e faz com que tenhamos de ter uma elasticidade emocional muito grande.

Como é que constrói as suas personagens, do início ao fim? Da caracterização, à pesquisa…
Eu gosto muito de fazer trabalho de pesquisa. Nos meus trabalhos mais recentes, como o Bem Bom e A Generala, fiz um maior trabalho de pesquisa por serem trabalhos biográficos, as pessoas existiram de facto, por isso é fundamental para sermos fiéis ao público. Até porque há quem conheça realmente aquelas pessoas. Depois, gosto muito de trabalhar a postura corporal, de fazer as personagens todas muito diferentes. Essa parte faz com que haja a distinção entre muitos atores, é isso que vejo mais interessante quando observo atores. É quando um ator não trabalha só texto, mas vai aos gestos, à voz. É isso que eu quero fazer cada vez mais.
Isso aconteceu n’A Generala?

Sim, foi o meu trabalho em que fiz mais isso, naturalmente pela personagem fazer de homem. Tive que anular todo o meu corpo e toda a Carolina que existe, e que ali não tinha espaço. Acontece por vezes existir espaço para personagens que têm características em comum comigo e por isso eu pego nelas e incorporo na personagem em que estou a trabalhar. Neste caso, era completamente o oposto da Carolina. Anulei o corpo, a voz, tudo, para poder criar algo do zero. Com cada personagem é um processo muito específico. O texto, normalmente, é a última coisa em que pego.
Foi uma personagem emocionalmente intensa, a de Maria Luísa Paiva Monteiro?
Mal eu recebi o guião soube que este tipo de personagem, na vida de alguns atores, aparece uma vez na vida. E na vida de alguns nunca aparece. É um trabalho em que as pessoas têm a oportunidade de ser vistas de forma muito diferente. Quando surgiu a oportunidade de fazer uma personagem com este peso e com esta força, entreguei-me ao papel 24h por dia. Para mim, profissionalmente foi dos trabalhos mais interessantes que fiz, tal como o filme sobre as Doce.

Apesar de não ter ainda estreado, o filme Bem Bom é muito aguardado. Como recebeu a notícia de que seria a Lena? Foi um processo de casting longo?
O caso da Lena foi um processo de casting muito duro. Não foi um convite em que eu garantidamente tinha o papel, e eu achei que nunca iria ficar com ele porque nos pedidos diziam que eu teria que cantar e dançar, e eu nunca tinha cantado nem dançado profissionalmente. Fui fazer o primeiro casting de forma muito descontraída porque achei mesmo que seria impossível ficar. Passei a uma segunda fase, houve uma terceira fase e uma quarta fase e eu ia-me apercebendo que todas as minhas amigas atrizes e todas as atrizes que eu conhecia da minha geração estavam a fazer também este casting. Comecei a ter aulas de canto e de dança ainda durante o processo de casting, e no final, quando soube que fiquei, foi um dos momentos mais felizes da minha vida. E, claro, toda a rodagem do filme foi um processo muito intenso, muito feliz e que me deu ainda mais certezas de que é isto que eu quero fazer.
Enquanto atriz como é que vai buscar as emoções mais difíceis?

Eu acho que toda a gente tem um processo muito particular. No meu caso, não uso vivências emocionais minhas para transportar para a personagem. Há muitas pessoas que para se emocionarem usam factos da vida pessoal para conseguirem chegar a determinada emoção. Comigo não funciona, ou pelo menos faço-o para me proteger. A minha forma de trabalhar é acreditar muito naquilo que estou a viver naquele momento. É viver mesmo a personagem, tento sempre emocionar-me com a história dela. Se aquela personagem está a perder alguém, a vivenciar a perda, eu acredito mesmo que isso é verdade.
Qual é o ponto de maior êxtase nesse processo transformativo?
Eu quando estou a trabalhar uma personagem, acho sempre que é impossível atingir algumas coisas e cada vez que sinto que consegui chegar a um certo ponto, seja emocional ou físico, de uma característica que eu queria muito atingir, fico muito contente. E quando recebo uma personagem que pode ser um grande desafio e é muito fora da minha zona de conforto fico muito feliz porque sinto que posso brincar. Eu gosto muito de me sentir sem chão quando estou a trabalhar, é isso que me dá "pica". Fazer coisas diferentes é sem dúvida o que me deixa mais em êxtase.

Com o reconhecimento das personagens, e ao longo dos anos, veio também o estatuto de figura pública. Como é que lida com isso?
Para ser sincera foi sempre um extra, uma coisa que aconteceu, mas para mim nunca foi uma prioridade. Eu sempre quis ser atriz, sempre trabalhei nesse sentido, e depois fui-me apercebendo desse mediatismo. Quando começo a sentir o reconhecimento do público, a ter fãs, foi uma surpresa muito grande. Até à minha primeira novela, eu nem sequer redes sociais tinha e eu era um bocadinho contra, porque até não percebia como é que as pessoas partilhavam coisas da vida delas nas redes sociais. Depois, é claro que percebi que tem tudo a ver com a forma como partilhamos e com a gestão que fazemos. Eu partilho aquilo da minha vida que eu quero, que eu acho que faz sentido partilhar com as pessoas. Obviamente que há uma parte que eu partilho com os meus amigos, com a minha família, com o meu namorado, que acho que deve ficar para mim.




A carreira de um ator também depende do público?

Sim, também o crescimento do reconhecimento por parte do público pode fazer com que tenhamos mais oportunidades de trabalho. Isso e o agradecimento: eu agradeço muito a todas as pessoas que vêm o meu trabalho. Até há bem pouco tempo fazia-me muita confusão quando me vinham pedir um autógrafo. A minha profissão tem realmente uma exposição pública, mas é tão importante como qualquer outra! Cada profissão tem uma função na sociedade. Em relação a isso, ainda hoje eu acho que estou a aprender, porque eu não preparo propriamente um esboço quando dou uma entrevista, por exemplo, tento sempre ser fiel e partilhar as ideias como eu realmente acredito. Aquilo que eu vejo, através das pessoas que me seguem, é que as pessoas gostam efetivamente que eu seja assim, sem por muitos filtros e manter o meu lado genuíno.
Isso às vezes pode ser traiçoeiro?
Às vezes cometo gafes, e digo coisas que se calhar as pessoas publicamente não devem dizer, mas tento sempre dar a minha opinião e ser sincera. É claro que tenho consciência que, ao ter um público mais jovem, não posso fazer certas coisas como publicar uma fotografia de um copo de vinho a incentivar as pessoas a beber. Tento sempre manter-me fiel às minhas crenças e ao que eu acredito ser válido.

Uma das coisas que partilha nas redes sociais é a sua relação com a moda… Tem uma marca de roupa, a OakWear. Sempre foi um universo que a fascinou?
Eu tenho um estilo muito próprio, eu sempre que comprava roupa refazia-a. Comprava uma peça normal, e através de costura ou escrita sempre mudei a minha roupa. E a determinada pensei: já que eu faço isto, porque não fazer uma coisa para as pessoas e também potenciar os designers portugueses? Tudo aquilo que eu faço é 100% português. O conceito da marca é serem peças exclusivas, personalizadas e sem ser em muitas quantidades. Começou por ser uma brincadeira, mas funcionou muito bem! Na verdade, lancei a primeira coleção há seis meses e todas as peças esgotaram em menos de um mês, e eu não estava à espera. De repente tornou-se uma coisa mais séria, e é algo em que quero continuar a trabalhar. É importante termos sempre planos B e planos C.
Por falar em planos, falou há pouco da internacionalização como um dos sonhos próximos. O que é que gostaria de fazer, para já?

Eu estudei representação no Brasil durante algum tempo, morei lá sozinha aos 19 anos. Sempre fiquei com o "bichinho" de querer trabalhar no Brasil, também porque ao nível de escolas de representação é a cultura com a qual eu me identifico mais, sobretudo em relação às novelas. Na altura tive aulas de sotaque, e fiz lá castings para novelas, até surgiu com um projeto, mas já me tinha comprometido com uma novela aqui em Portugal, Vidas Opostas. Agora estou a protagonizar uma novela na SIC, mas depois gostava muito de investir no mercado brasileiro, e também no mercado espanhol, talvez experimentar fazer algumas séries, com a Netflix ou a HBO, que acho que são plataformas com muito futuro e vão buscar um público jovem. Nunca vou querer deixar de trabalhar em Portugal, porque tenho aqui a minha família e as pessoas de quem gosto, mas acho importante, aos 26 anos, pensar nessa internacionalização e em querer mais.
É fácil deslumbrar-se num meio como este?
Sinto que é muito fácil. Na nossa profissão, o facto de ganharmos o reconhecimento do público isso pode ser facilmente confundido com o estarmos acima das pessoas que nos seguem. No meu caso, talvez porque eu cresci numa família numerosa, eu sempre cresci com os pés muito assentes na terra. Os meus pais sempre me passaram a mensagem de que nunca devemos esquecer de onde vimos e nunca esquecer que as pessoas que estão à nossa volta e que nos admiram, admiram-nos exatamente pela forma como chegámos até lá, pelo que somos na origem. Se todas as pessoas boas em determinadas profissões, tivessem a oportunidade de se mostrar numa televisão provavelmente todas elas teriam muitos admiradores e, portanto, tento sempre ter essa consciência de que não me posso deslumbrar ou achar que estou acima de alguém porque isso vai fazer com que eu perca aquilo que as pessoas gostam em mim.


É muito ligada à família, é notório. Por ser a irmã mais velha foi uma espécie de pilar?
Como eu sou a irmã mais velha, e na altura a minha mãe trabalhava fora, eu e o meu pai ficávamos muito com a responsabilidade de cuidar dos meus irmãos. Eu cresci com isso, tratava dos mais variados assuntos, desde levá-los ao médico, de ser encarregada de educação. E eu cresci com essa responsabilidade, mas para mim era aquilo que eu conhecia e, portanto, era o normal. Depois disso, quando passo para a minha vida – saio de casa, começo a trabalhar – parece que sentia falta de manter essa responsabilidade. E por isso acho que hoje eu sou uma pessoa que gosta de cuidar das pessoas que me são próximas. Essa educação ajudou-me a ter as características que tenho hoje em dia.
Mais recentemente, e numa entrevista, contou uma situação da juventude que viveu mais difícil, que foi a doença da sua irmã Simone. O que é que a vida lhe tem ensinado?
Eu acho que a vida nos está constantemente a por à prova e a dar-nos lições, e depois cabe-nos a nós crescer e aproveitar essas lições e ignorá-las. Há uma coisa que sempre me foi passada pelos meus pais que é o valorizar a vida, os momentos que vivemos e valorizar as pessoas. Eu acho que as situações pelas quais eu passei vieram ainda fortalecer mais o amor, que é aquilo em que eu acredito. Eu sou uma pessoa muito ligada à família, e quero levar isso para a minha vida toda e acho que é muito importante nós protegermos as nossas pessoas e mantermos o nosso seio, não só familiar, mas também como amigos mais próximos.
Qual pode ser a maior lição de vida que tem sempre em mente?
Sobretudo que devemos ter sempre atenção que a vida muda num segundo, e que nós hoje estamos aqui e temos as pessoas de quem gostamos e amanhã podemos não ter. Eu sou uma pessoa que digo diariamente às pessoas de quem gosto que as amo e que agradeço por elas estarem na minha vida. Tenho medo que amanhã não o possa dizer. Sou uma pessoa muito emocional nesse sentido. Eu gosto de estar com aqueles de quem gosto, fazer um esforço a seguir a gravar e ir ter com os meus irmãos, ou com o meu namorado – o que é obviamente mais fácil por morar com ele. Não sou nada a pessoa fria que não diz as coisas que sente, sou uma pessoa que abraça muito e que gosta de estar perto daqueles de quem gosto. Já vivi situações em que estive tão perto de os perder, e algumas perdi. Por isso, eu quero muito, enquanto posso, viver e estar próxima dessas pessoas que são tão importantes na minha vida.
Ou seja, aquilo que as pessoas muitas vezes levam uma vida para começar a fazer…
Há pessoas que já crescem com isso, e há outras que a vida as obriga a perceber ou não. E se isso já me tinha sido passado na educação, houve situações que vieram fortalecer isso e eu acredito que essa é a forma mais certa de viver a minha vida porque é assim que me sinto feliz e bem.
Esta pandemia também nos traz a certeza de que não podemos viver sem cultura. O que deseja que mude em 2021?
Quando isto aconteceu eu apercebi-me disso mesmo. Eu lembro-me de ver um post durante a quarentena que dizia que de repente se todos os ecrãs – de televisão, de telemóveis – ficassem negros, como é que vivíamos esta quarentena? De facto, acho que algumas pessoas ganharam essa consciência, mas continuo a achar que é importante apoiarmo-nos, no mínimo, apoiar aquilo que é nosso. Temos muito a mania de só ver Netflix ou HBO, mas também é importante olharmos para aquilo que é nosso porque se não apoiarmos a nossa cultura, ela não sobrevive. E esteve muito perto disso. Ir ao teatro, ir ao cinema, consumir produto português e incentivar os artistas a continuarem é fundamental. Se não formos nós a apoiarmo-nos uns aos outros, nada acontece. Com a criação da OPTO, a plataforma de streaming, vemos que estamos a investir no futuro e a acompanhar o crescimento que há lá fora. É importante que nós portugueses apoiemos a cultura, somos responsáveis pelo seu crescimento. 2021 vai dizer-nos tudo aquilo que as pessoas aprenderam ou não.
