O mistério de Laura Dutra, atriz que quer quebrar todos os tabus
Atriz e uma verdadeira belle de jour portuguesa, Laura Dutra vibra criatividade e talento. Este editorial foi pensado por si e por mais duas mulheres: a prova de que juntas somos mais fortes, diz. É essa uma das suas missões, passar a importância da sororidade, a par da sua grande paixão: a representação.
Uma atriz da geração millennial, Laura Dutra, 23 anos, tem literalmente em si todos os sonhos do mundo. Na tela, é uma atriz de mão cheia, no Instagram, é uma criativa nata. A sua página vai muito além da prova que a fotogenia nasce com as pessoas, expressa um lado artístico muito apurado, que nos impele a fazer scroll durante horas. Começou em 2016, na telenovela As Poderosas, e é um dos rostos mais carismáticos d'A Serra, telenovela da SIC. Pelo meio fez as séries Crónicas dos Bons Malandros, O Atentado, e Conta-me Como Foi, bem como a longa metragem A Impossibilidade de Estar Só, que lhe valeu o Prémio Nico da Academia de Cinema. Conversámos com a atriz, que é um dos rostos da marca de joalharia portuguesa Jé.
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Foto: Matilde Cunha
Laura, como é que a representação surge na tua vida? Foi um acaso ou um sonho já pensado?
O mundo artístico está intrínseco na minha vida. Sempre me interessei pela Arte e por tudo o que a engloba.
A minha família reconhece a minha arte como uma profissão igualmente digna, por isso foi mais fácil seguir esse sonho. A representação sempre me fascinou e poder estudá-la deu-me a certeza de que este era o caminho a seguir. Ter um pai pintor/diretor criativo potenciou a minha criatividade e liberdade para ver a arte como um caminho seguro a seguir. Vê-lo a criar foi a maior inspiração que poderia ter. O meu pai sempre quis quebrar os tabus da sociedade e expressa isso nas telas, e isso incentivou-me a fazer o mesmo no ecrã. A mente aberta da minha mãe incentivou-me ainda mais a questionar a minha maneira de ver o mundo. Ter uma mãe psicóloga ajudou-me a perceber que não existem limites para pensarmos, sonharmos e sermos mais humanos. Os meus pais são, sem dúvida, os meus pilares, o meu conforto e a minha segurança. São e serão sempre a minha inspiração.
Look 2
Foto: Matilde Cunha
O teu primeiro projeto em televisão é em 2016. Lembras-te dos nervos iniciais? Como te preparas para uma personagem?
Claro que sim! É daqueles momentos que nunca esquecerei. Estava tão nervosa que as minha bochechas ficaram vermelhas durante uma semana. Corava com os nervos e não havia maneira de normalizarem. Felizmente, hoje em dia já não é tão recorrente mas se me virem com as bochechas coradas em cena já sabem a razão. Em 2016 entrei pela primeira vez na televisão portuguesa e foi a partir desse momento que tive a certeza de que a representação tinha que estar presente na minha vida. Preparar uma personagem é sempre um dos processos mais prazerosos para mim. Dar vida a uma figura fictícia, moldá-la, enchê-la de referências e histórias criadas por mim é maravilhoso. Evito procurar referências de personagens passadas ou já existentes, gosto sempre de criar uma personagem do zero. Dá trabalho mas vale a pena.
Look 3
Foto: Matilde CunhaLeia tambémA nova coleção da Latitid (ou como seremos todas sereias na praia, este verão)
Ser atriz é o sonho da tua vida? Ser mulher, nesta área e nesta profissão, pode ser tanto uma glória como uma chaga?
Considero-me sonhadora. Não tenho apenas um, mas vários sonhos. Este, é sem dúvida um deles. Ser mulher é especial. Nesta área ou noutra qualquer. Claro que ainda existe um extenso caminho a percorrer, em relação aos nossos direitos, mas sinto que cada vez mais e todos os dias provamos que somos indispensáveis em qualquer meio.
Qual foi o papel da tua vida, até hoje? E qual gostarias ainda de interpretar?
Não consigo escolher só um. Todas as personagens foram especiais e significativas para o meu crescimento enquanto atriz. Aprendi com cada uma delas por isso não consigo dizer qual a melhor. A comédia e o drama andam sempre de braço dado comigo. Gosto da dualidade que isso me pode dar enquanto artista e o desafio que é adaptar-me a qualquer um dos géneros.
Look 4
Foto: Matilde Cunha
O que de mais importante tens aprendido e te têm ensinado nesta profissão?
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Aprendo todos os dias. Passamos imenso tempo em estúdio e acabo por criar sempre ligações e uma relação de amizade com os atores e técnicos. Como sempre me interessei pelo backstage, gosto sempre de aprender coisas com o setor da realização. Penso que a maior aprendizagem, até agora, é perceber que não é preciso passar por cima de ninguém para conseguirmos o que queremos. Sinto que quanto mais real e íntegra for comigo e com os outros melhor atriz serei. Manter a minha essência e integridade sempre. O que é meu chegará.
Empoderamento feminino é uma palavra na ordem do dia. Sempre te sentiste feminista?
A mente feminina é uma fonte de aprendizagem maravilhosa e infinita. Juntas, podemos mudar as mentalidades retrógradas e sexistas. Conseguimos fazer tudo aquilo que desejarmos se tivermos confiança em nós próprias.
Look 5
Foto: Matilde Cunha
Se pudesses, o que gostavas de mudar no mundo?
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A empatia pelos outros, pelos animais e pelo planeta. Vivemos tempos difíceis, controversos e instáveis, e sei que se houvesse mais compaixão e amor pelos outros, o mundo seria um lugar ainda melhor. Sinto que esta mudança começa em nós e que se todos fizermos a nossa parte podemos mesmo mudar o mundo. É urgente, o amor, a reciprocidade e a igualdade.
O que é que fazes quando não estás a trabalhar? Quais são as tuas paixões?
Sou apaixonada pelo mar e pela natureza. Fujo para a praia sempre que consigo. Sozinha ou com amigos, não dispenso o pôr-do-sol, uma surfada ou uma cervejinha à beira-mar. Revitaliza-me completamente. Tenho ganho cada vez mais o gosto pela produção musical e acho que pode ser um dos meus próximos hobbies.
Look 6
Foto: Matilde Cunha
A joalharia, por exemplo, é uma paixão antiga? Como nasceu esta colaboração de joalharia? Qual foi a inspiração desta coleção? Que materiais foram usados e se que maneira o espírito desta parceria se refletiu na campanha?
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Sempre gostei muito de peças de joalharia. Apaixonei-me pelo trabalho e criatividade da Jéssica e sou fã das fotografias da Matilde. Decidimos juntar esta paixão e fazer coisas bonitas. Foi uma conexão maravilhosa e instantânea. Acho que isso trespassa para as fotografias. Girl Power, sempre!
Que atriz/ator admiras e porque?
Admiro a mulher atriz no geral. Acompanho muito o cinema brasileiro e no meu pódio está a Adriana Esteves, Sônia Braga e Sophie Charlotte.
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Foto: Matilde Cunha
Um sonho que tenhas na gaveta a curto prazo?
Pode ser clichê, mas gostava de conhecer o mundo. Adoro viajar, conhecer culturas diferentes e relacionar-me com pessoas que têm experiências diferentes da minha. Se conseguir trabalhar na área e viajar nos tempos livres, não preciso de muito mais.
Look 8
Foto: Matilde Cunha
Portugal precisa de investir na cultura? Nos artistas?
Valemos zero. 0,25% para a cultura não pode ser aceitável. "Um país sem cultura é um país sem educação"- disse Fernanda Montenegro, e é a mais pura das verdades. A arte educa, agita e questiona. Viver sem cultura limita as mentalidades, reduz a liberdade e potência a submissão. Valemos muito mais que isso. A criatividade devia ser a base de um país que incentiva a diferença e a mudança.
*Sobre a coleção, Jessica Dias, joalheira, afirma: "No estúdio, as coisas foram surgindo naturalmente, misturei todas as minhas coleções, ficando a Laura repleta de joias, para causar mais impacto visual e contrastar com a simplicidade do mood. Ficámos as três muito satisfeitas com o resultado final. É fácil produzir coisas bonitas quando estamos todas em sintonia." Já Matilde Cunha, a fotógrafa, revela quão desafiante foi a ideia proposta pela joalheira. "Lançou-me este desafio de pensar em conjunto uma campanha que se enquadrasse com o perfil da Laura, não foi difícil, principalmente porque considero que a Laura é bastante versátil e isso é óptimo para trazer exatamente o mood que queremos. Trabalhar neste shooting foi super divertido e intuitivo, estava tudo já mais ou menos delineado no dia em que fotografamos porém aparecem sempre ideias novas quando estamos a fotografar."