
O mundo divide-se em dois tipos de pessoas: aquelas que raramente ou nunca caem, e que parecem estar isentas da força da gravidade, e aquelas que é rara a semana que não vão de boca ou de rabo ao chão. Nos casos mais extremos, vão de nuca ou cara. Desde miúda que tropeço e caio muitas vezes. Embora exista um gráfico de evolução neste sentido descendente, ainda continuo a contribuir para as estatísticas das pessoas adultas que fazem figuras tristes em casa ou na rua pelo menos uma vez por trimestre. Na infância isto acontecia-me várias vezes por dia, na adolescência começou a ser mais espaçado, porém, quando comecei a usar saltos, a incidência das quedas aumentou muito exponencialmente. Chegaram a dizer-me que os meus pés são pequenos demais — o que é verdade, calço 35/36 e meço 1,62 m — e que por isso era natural que caísse tantas vezes. Tenho histórias verdadeiramente rocambolescas sobre quedas, tralhos, espalhanços, enfim, como lhe quiserem chamar.
Uma delas foi passada na extinta loja de discos Virgin Megastore (antigo cinema Éden) nos Restauradores, teria talvez uns dezassete, dezoito anos, e usava umas botas de salto compensado, pretas, muito exuberantes, que me faziam parecer uma atípica profissional do sexo a cirandar às três da tarde em busca do novo CD de Portishead. Vinha então a descer um dos pisos — a Virgin tinha uma escadaria enorme — e, sem saber como, parti o salto de uma das botas. Tive de sair rapidamente da loja, ir com um dos pés em pontinhas de dedos e o salto partido na mão até ao sapateiro mais próximo que, por acaso, não era nada próximo. Ainda tropecei umas quantas vezes até lá chegar. Uma das quedas mais aparatosas também aconteceu numa escadaria, desta vez no Teatro da Trindade. Tinha ido a uma estreia, toda armada em boa, de minissaia e saltos altos, e quando o espectáculo terminou saquei logo de um cigarro, numa altura em que ainda se podia fumar dentro dos teatros. Preparo-me então para começar a descer a escadaria, com todo o glamour que uns saltos altos e um cigarro entre os dedos e a boca conferiam nessa época a uma lady e, zás, caí escada abaixo. Do topo quase até ao fim do lance. Não sei como não me magoei, essa também é uma das minhas características, tipo mulher-gato, farto-me de cair mas pareço feita de plasticina, caio e levanto-me num instante. Portanto, baldei-me da escada do Teatro da Trindade, pus toda a gente a olhar, uma espécie de pós-show do show que acabáramos de ver, e o cigarro aceso que me saltou da mão durante a queda foi cair algures na alcatifa queimado-a numa parte. Um buraco que talvez ainda hoje lá permaneça, que é da autoria da minha queda.

Costumo pensar que tenho queda para cair. Não me posso queixar porque, felizmente, nunca me magoei a sério e a única vez que me assustei estava grávida, com um barrigão enorme de sete meses. E dessa vez não estava de saltos, mas de sabrinas. Tropecei sei lá como na calçada e lá fui eu pelo ar. Chorei imenso e não foi pelas dores (ia dando cabo de um joelho), mas porque fiquei com receio de que tivesse acontecido algo à minha filha. Um senhor que ia a passar viu-me sentada no chão a chorar e perguntou se queria que chamasse uma ambulância. Tive de fazer exames e tudo para me certificar de que estava tudo bem com o bebé. Posso dizer que uma das minhas últimas quedas foi há cerca de uma semana. Estava no meu quarto e tropecei na mala de viagem que ainda não tinha tido a paciência de desfazer e arrumar. Foi castigo de algum deus da limpeza, só pode. Ainda nem eram oito horas da manhã, tropecei na mala e fui cair de joelhos mesmo rente à cama. Podia ter sido pior, penso sempre. E rio-me, rio-me sempre das minhas figuras. Tenho de reconhecer que tenho queda para cair, se calhar é por isso que evito e tenho medo das alturas. É que enquanto o chão estiver perto, a queda é curta e até tem graça. Gosto de me confrontar com o lado mais ridículo das coisas e de perceber que quando uma pessoa cai — desde que não se magoe — fica sem as manias todas num instantinho, e tem sempre graça.

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