Ir para fora cá dentro. Um retiro de yoga e meditação sobre o mar
Esticam-se até maio os retiros das Lava Homes/Casas da Lava, na ilha do Pico. Ainda vai a tempo de conhecer o retiro Integrative and Healing que nos dá a volta ao corpo, à mente e às emoções perdidas. A Máxima foi meter o nariz, aprendeu imenso e saiu de lá como quem voa sobre a falésia.
Benedita Branco começou a ir para o Pico aos 16 anos, namorava um filho de açoriano, por isso passava os meses de julho e agosto nesta ilha, reduto de uma natureza viva que já pouco se encontra, ainda menos na sobrelotada Europa. "Aqui respira-se", diz-nos a responsável pelas belíssimas Casas de Lava que, como o nome indica, são um conjunto de casas construídas com os materiais vulcânicos da ilha, encavalitadas numa encosta íngreme que termina no mar. Numa altura, Benedita resolveu experimentar uns retiros de yoga na Carrapateira, e "achei que seria engraçado fazer qualquer coisa do género, estar mais perto da natureza." No seu divórcio ficou com a casa do Pico e pensou: "É um sinal." E começou a passar cinco semanas em Lisboa e outras cinco no paraíso açoriano. "Meto-me no avião quando começo a olhar para as socas na farmácia", ri-se. Assim nasce o projeto, primeiro o turismo construído no lugar de uma antiga queijaria, cuja casa foi recuperada, depois veio a ideia de ali organizar retiros, que arrancaram em meados de janeiro deste ano de 2023, mas alguns ainda continuam até maio. Uma forma que Benedita tem de agradecer à ilha o tanto que lhe deu.

Entre 13 a 18 de março, as Lava Homes receberam o Wild Feminine Rising Retreat, que não conhecemos, mas soa bem por ser dedicado exclusivamente ao universo feminino, às suas necessidades e mistérios, e ao acordar do seu lado mais selvagem, que a maioria de nós bem precisa, ainda somos pouco livres, menos ainda espontâneas. Aconselhamos vivamente o retiro Integrative and Healing organizado por uma equipa de atentos profissionais vindos da vizinha Espanha. É um retiro de uma semana, que se repete quatro vezes e ocupa todo o mês de abril, de 3 a 29. É madrugar todos os dias, fazer exercícios de yoga e de meditação logo pela fresca, e aprender muitas coisas, principalmente as que estão a um nível mais subliminar de consciência, aquelas que atropelamos no dia a dia, sem querer e sem alternativa. Este é o que se chamaria um retiro "muito retiro", passando o excesso, ou seja, é pensado para ganharmos espaço interior e a consciência profunda do mesmo, longe dos tantos retiros da moda que começam a multiplicar-se a cada canto. Não se confunda, o que o programa pensado por Aday Garcia Anahat consegue é levar-nos a visitar todos os nossos cantos, porque é guiado por quem já estuda profundamente estes temas, e já há algum tempo. Como diz Krishnamurti, o conhecido filósofo e teósofo indiano: "Nós nunca tentámos, verdadeiramente, ler o livro de nós mesmos. Chegamos ao pé de alguém e pedimos que nos ajude a ler-nos. A verdadeira ignorância é não ter conhecimento de si próprio, não ter a percepção de como funciona a tua mente, os teus motivos e respostas. (...) A maioria das mentes estão a dormir."
Assim, este retiro ensina-nos a acordar um pouco dessa letargia dos dias todos iguais e exigentes, a revitalizar o corpo de dentro para fora, com a melhor dieta e uma medicina natural, a nossa própria capacidade de nos regenerarmos. No restaurante Magma, onde são servidas as refeições com horários de acesso próprios para os convidados do retiro, há um menu ayurvédico muito cuidado e variado, pensado e executado pelo chef Francisco Basílio. Nunca mais nos esquecemos das suas quesadillas com kimchi e queijo da ilha, dos seus chás e sumos matinais, dos chai energéticos e as infusões de ervas aromatizadas, aos shots de sopas variadas, adorámos o de cenoura, curcuma e gengibre, às saladas várias, como a de quinoa com abacate, pimentos e milho, ao cabelo de courgete com cogumelos e puré de topinambur e algas. E aquele brownie incrível. "Quis fazer 'comida da ilha', e estou contente por fazer parte de um programa de pessoas generosas", comenta quando metemos o nariz na cozinha. E quando o nosso estômago fraquejou, foi o primeiro a procurar as plantas certas e nos oferecer para fazermos uma infusão antes de dormir.


Mas se os efeitos da comida são o mais fácil de perceber, como as horas de sono, o resto é mesmo para sentir e, já se sabe, está tudo ligado: somos o que comemos, como dormirmos e, acima de tudo, como escutamos o nosso corpo e o que fazemos com o que ele nos diz. Quando chegamos à sala do retiro, um cubo envidraçado sobre o mar onde cabem confortavelmente 24 tapetes de yoga, e só aquele horizonte de azuis já faz metade do caminho, Aday é o primeiro a dizer-nos, no seu inglês com sotaque castelhano: este é um trabalho de "medicina energética, devemos fazer coisas, desde que acordamos, para relembrar ao corpo que tem de fluir, e assim ele ativa as suas capacidades curativas naturais." Com ele e a sua super equipa, aprendemos exercícios de respiração para "abrir" a glândula pineal, e técnicas de alinhamento do corpo, depois de uma meditação guiada que nos acorda os sentidos, e antes dos exercícios de yoga clássica que nos esticam bem para além do espreguiçar matinal. "Vamos a utilizar a ciência dos antigos "rishis", sábios da Índia, para restaurar a livre circulação de energia e o correto equilíbrio dos elementos primordiais através do yoga", explica Aday Anahat à Máxima.

Parte destes especialistas, a começar por Aday, são formados em Psicologia, além de outras terapias. "Tudo isto é guiado à luz da sabedoria da Psicologia e neurociência modernas e da "tecnologia" espiritual muito antiga", uma sequência de técnicas que descreve como "inspiradas" para encontrarmos "uma melhor versão de nós próprios". Assim, experimentamos muita mindfullness, naturalmente, e uma certa profundidade como a que experimentámos nas sessões de hipnoterapia de grupo com Rícardo Marquez, mas também existe a possibilidade de fazê-las a solo, e continuar esse trabalho online. Sentimos, durante a terapia, alguns dos presentes no retiro, soltar sentimentos guardados que são um verdadeiro bloqueio ao tal fluir do corpo, do biorritmo da vida. Mas, atenção, tudo neste retiro só é partilhado até onde queiramos e na medida do conforto, os chamados "facilitadores", os especialistas que nos guiam durante estes cinco dias, são os primeiros a ter a elegância de nos proteger. Mas vale a pena, porque também é preciso visitar a fragilidade primeiro para nos fortalecermos depois.

Aprendemos osteopatia cranial com o incrível Victor Ángel Marín, que tem umas mãos mágicas e nos ensinou a escutar o que o nosso próprio corpo nos diz sobre as nossas emoções, bloqueios e estados de alma, através da "respiração, do pulso cardíaco, da nossa postura, da inteligência do corpo", descreve-nos o terapeuta que nos introduz ao chamado ritmo crânio sacral, "o primeiro que o nosso corpo recebe ao nascer e o último a desaparecer depois da morte." Já experimentámos alguns osteopatas, mas nenhum tão completo, pois equilibra sensibilidade e técnica raras. Aday Anahat demonstra-nos como se faz massagem de "auto-cura", que escuta o nosso corpo, mais e melhor, para treinarmos alguma auto-suficiência na (nova) sabedoria que se leva deste retiro. Aprendemos sobre nós, o que sentimos à flor da pele ou lá bem mais escondido, e sobre todos, em sessões partilhadas, algumas dentro da piscina aquecida sobre o mar, pequenos workshops de cozinha e prazeres tão simples como observar o sol a desaparecer ao fim do dia. Também se organizam piqueniques e passeios que são verdadeiros banhos de floresta e de maresia.

Respirar fundo, viajar por dentro e descansar num horizonte imenso, é o prazer assegurado. As Lava Homes/Casas da Lava não podiam ser mais belas, encavalitadas numa encosta. São catorze casinhas em rocha vulcânica e vidro, todas têm cozinha, lareira e muito bom gosto, na freguesia de Santo Amaro, Terralta. Da sala de prática do retiro e, nos dias mais claros, vê-se o topo da montanha do Pico e a ilha de São Jorge. À despedida, Benedita deixa escapar o seu empolgamento por esta temporada de retiros, voltamos de lá cheios e leves ao mesmo tempo: "Quem sabe, um dia, se este não será um espaço que praticamente só recebe encontros de várias pessoas...", sorri. Enquanto atravessamos com ela o jardim que nos leva para a nossa casinha de lava, Benedita aponta-nos as diferentes espécies de flores e plantas do jardim que plantou com a sua mãe: "São mais de 500 espécies diferentes, na sua maioria foram apanhadas do lixo e renascidas nestas encostas."

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