Histórias de amor moderno. “Descobri que o meu noivo andava com a nossa vizinha de cima”
"Havia uma pequena desconfiança com a vizinha do 3º esquerdo – vivemos no 4º direito – porque sempre que nos cruzávamos no elevador ela agia de forma incomodada, havia uma sensação de constrangimento permanente." Todos os sábados, a Máxima publica um conta sobre como é o amor no séc. XXI, a partir de um caso real.

Trabalho por turnos num hospital do Porto. Estou muitas vezes fora de casa durante a noite, chegando a fazer 16 horas seguidas, o que significa que saio por vezes de casa pelas 16h e posso voltar só pelas 9h do dia seguinte. Um dia cheguei mais cedo porque me senti mal no trabalho e o meu futuro marido não estava. Quando me ia deitar, depois da empreitada desse turno, que me deixou extenuada, ouvi a chave na porta. Era ele, vinha de pijama. Fiquei vários segundos sem saber o que dizer e sem compreender a situação. Não temos filhos nem cães, não havia uma única razão plausível para a leitura visual da cena que se desenrolava à minha frente. Ele trazia na mão as chaves de casa e vinha de pantufas. Desculpou-se dizendo que tinha ouvido um barulho no andar de cima do prédio, que tinha saído há uns minutos (embora eu já estivesse em casa há pelo menos 10), e eu acabei por dizer "okay" e adormecer alguns segundos depois.
Eu tinha ficado noiva há coisa de seis meses numa viagem a Roma, andávamos a adiar falar do casamento e, na verdade, andava a achá-lo algo esquivo em relação ao assunto. Os nossos jantares andavam a reduzir-se a monossílabos, já não me contava o seu dia, e o meu cansaço crónico conjugado com o desinteresse crescente dele não ajudava à nossa vida sexual. Num brunch de domingo, quando mencionei o ocorrido a uma amiga, ela arregalou os olhos e disse: "Como assim, de pijama e pantufas às 8h da manhã,? Quem são os vossos vizinhos?". Disse-lhe que era um disparate eu ficar desconfiada do que quer que fosse.
O certo é que nos dias seguintes o pensamento intrigante de um possível caso amoroso com uma vizinha foi ganhando força como aquela moinha que aparece sorrateira e acaba numa dor de cabeça terrível ao cabo de algumas horas. Havia uma pequena desconfiança com a vizinha do 5º esquerdo – vivemos no 4º direito – porque sempre que nos cruzávamos no elevador ela agia de forma incomodada, havia uma sensação de constrangimento permanente. Mas a diferença etária ainda era substancial, o que me levava a afastá-la da lista, ela tem pelo menos mais 10 anos que ele. Talvez seja só uma pessoa estranha, pensei para mim, começando uma lista de potenciais candidatas à traição na minha cabeça ("A do primeiro, jovem, loura, bonita… A do 2º direito, mas essa é casada e tem filhos pequenos!").
Comecei a ficar cada vez mais alerta, a fazer perguntas específicas sobre as rotinas do meu noivo, que trabalha de forma remota, às vezes vai para um co-work, outras fica em casa. Depois, tentei forcar-me em planear o nosso casamento. Sobre isso, primeiramente respondeu entusiasmado, depois o entusiasmo refreou e começou a torcer o nariz, sobretudo quando marquei as primeiras visitas a quintas no Douro, onde já tínhamos pensado casar. Quando lhe falei em fixarmos uma data, arrastou o assunto durante dias.

Uma tarde, quando cheguei a casa depois de um turno que seria extraordinário, mas que acabou por ser uma colega a fazer, surpreendi-me com a casa vazia. Resolvi ligar-lhe para perguntar se tinha planos para jantar ou se podíamos jantar fora. Qual foi o meu espanto quando comecei a ouvir a Just Like Heaven, dos Cure, o seu toque de telemóvel, vinda da sala. Tinha deixado o telemóvel em casa – onde poderia estar? Espreitei pela janela, não se via no jardim em frente ao nosso prédio. Resolvi esperar sentada no sofá, com o telemóvel dele ao lado. Chegou perto das 18h, mais uma vez vinha apenas com as chaves de casa na mão. O meu olhar perscrutante deve tê-lo deixado muito incomodado, porque se sentou no cadeirão da frente e assumiu tudo. Fiquei assim a saber que a estranheza pode ser realmente confundida com vergonha, que a idade não interessa realmente, e que a nossa intuição está quase sempre certa. Às vezes, o timing é lixado.
Falámos sobre o assunto uma vez. Isto aconteceu há 3 anos, continuamos juntos, não casámos, mas estamos unidos e numa relação estável. Não, o amor não é fácil nem simples, mas para alguns resulta mesmo nos moldes menos esperados pela sociedade.

Mundo, Diversão, Histórias de Amor Moderno, Relação, Traição, Casamento
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