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Histórias de amor moderno: “Víamo-nos duas vezes por ano. Vivemos assim durante dois anos e meio."

“Depois de tantas mudanças e de tantas conquistas, não queria abdicar da minha independência financeira, e muito menos da minha autonomia enquanto mulher.” Todos os sábados, a Máxima publica um conta sobre como é o amor no séc. XXI, a partir de um caso real.

Foto: IMDB
15 de abril de 2023 às 07:00 Maria Olívia Sebastião

Houve um momento em que achámos que tudo ia acabar, porque as coisas boas, quando acontecem, nem sempre acontecem no momento certo. E o momento, por vezes, quando não é certo faz toda a diferença, é até capaz de transformar o que é bom em coisa má.

Namorávamos havia pouco tempo, penso que ainda não tínhamos feito um ano de namoro sequer, quando surgiu a oportunidade por que esperávamos: o meu namorado foi chamado para trabalhar numa corretora internacional de topo. Dito assim parece extraordinário, só que o convite era para trabalhar em Camberra, na Austrália. Precisavam de alguém que fosse fluente em português e que conhecesse especificidades do mercado ibérico para investimentos imobiliários. Não sabia se havia de celebrar ou de chorar: eu tinha acabado de começar a trabalhar como enfermeira numa rede de hospitais privados, para aconchegar o orçamento, visto que o que se ganha no serviço público é muito pouco.

Ele propôs-me que fosse com ele, que haveria dinheiro que chegasse para ambos. Além disso, o estado australiano tinha benefícios fiscais mais que suficientes para nos acolher: éramos um casal jovem, em idade reprodutiva (os termos são frios, mas é assim que somos vistos estatisticamente pelas políticas de acolhimento de países restritivos em relação à imigração), o que nos tornava extraordinariamente bem-vindos.

Só que eu não podia aceitar. Em pleno século XXI, depois de tantas mudanças e de tantas conquistas, não queria abdicar da minha independência financeira, e muito menos da minha autonomia enquanto mulher, cidadã, profissional e, por fim, namorada. Ter um compromisso, um companheiro romântico, e deixar que isso me mantivesse cativa? Nem pensar, a minha mãe não me criou para isso.

Conversámos calmamente sobre o assunto, não houve discussões. O meu namorado, que entretanto já não é meu namorado, é uma pessoa muito calma, é um bom ouvinte e tenta ser compreensivo com os outros. Neste caso, compreendeu o meu ponto de vista, pôs-se no meu lugar. Concordámos em tentar fazer com que resultasse apesar da distância. Tudo isto foi muito rápido: desde o convite até à nossa decisão de prosseguirmos juntos, mas em separado, não passaram duas semanas, sequer. E foi ao fim de duas semanas, estava ele em preparativos para partir para Camberra, quando recebi eu mesma um convite. A rede hospitalar para quem tinha começado a trabalhar abrira uma sucursal em Moçambique meses antes e precisava agora de um reforço de staff, queriam saber se eu estava disposta a mudar-me para Maputo. Uma vez mais, falámos e eu defendi o que sempre defendo: uma mulher quer-se independente e a valer por si mesma, sem precisar de homens que lhe confiram estatuto ou lhe assegurem o rendimento. E uma vez mais ele compreendeu.

Vivemos assim durante dois anos e meio. Víamo-nos duas vezes por ano em Portugal – houve um ano que decidimos cometer a loucura de nos encontrarmos uma vez extra, no hub do Dubai. Foi aí que ele me pediu em casamento. E é por isso que ele já não é meu namorado: eu disse que sim.

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