Histórias de amor moderno. “Em 4 meses gastámos 31 mil euros em vinhos de Bordéus e caviar”
"Saí a meio da noite, e quando ele chegou eu já não estava. Deixei a minha Bimby, os meus copos da Vista Alegre e os meus tupperwares da salada em casa dele." Todos os sábados, a Máxima publica um testemunho de como é o amor no séc. XXI.

Conheci o meu agora ex-namorado, o Filipe, por intermediário de amigos. Começamos a namorar rapidamente. Em poucas semanas, já estava mais tempo na casa dele do que na minha. Ao fim de dois meses, senti que algo de errado se passava quando me contou que pôs a família fora de casa – mulher e filhos - por se sentir claustrofóbico e com uma vontade súbita de estar sozinho, apenas quatro meses após o casamento. Claro que a versão que me contou tinha sido outra: eram eles que o tinham deixado, sem aviso prévio, dizendo que não suportavam mais a sua personalidade narcisista. Eu achei-o só vaidoso e um pouco cheio de si, mas nada de alarmante.
Um dia chegou a minha vez: não me pôs as malas à porta mas quase, pedindo-me que voltasse para casa dos meus pais, ou para casa de uma amiga. Saí a meio da noite, e quando ele chegou eu já não estava. Deixei a minha Bimby, os meus copos da Vista Alegre e os meus tupperwares da salada em casa dele. E esse é o meu único remorso (eram peças práticas, convenhamos, e eu tenho um bom gosto que me é natural, modéstia à parte).
O Filipe era uma dessas pessoas cuja rapidez com que cresceu financeiramente na vida se tornou proporcional à perda de escrúpulos e de humildade. Começou a enriquecer rapidamente com a sua empresa de programação, e tornou-se um novo-rico daqueles insuportáveis cheios de exigências em locais públicos, dos supermercados às finanças, e que nos envergonham ao ponto de sentir "icks" na presença de amigos e família (que, já agora, tinham o Filipe em muito boa conta, porque a sua persona pública era afável, divertida e, claro, esbanjadora).
Tinha bom gosto, isso não lho posso retirar – embora lhe tenha dado uma ajuda no departamento do estilo e da beleza -, mas não aquele refinado: quem bebe um Merlot de 2 mil euros para acompanhar almôndegas em molho de tomate é, com certeza, alguém que não aprecia com eficiência os prazeres de uma refeição harmonizada com um vinho desta categoria. De cada vez que entrávamos num restaurante, eu tremia: ele não só não pedia a carta, como pedia a coisa mais cara. Mais tarde, juntava na nossa conta conjunta – a minha dívida subia de dia para dia. A nossa relação baseava-se cada vez mais nas decisões e vontades dele, excluindo as minhas, por mais simples que fossem. Por exemplo, se eu quisesse ir jantar fora, ele tinha antes de ir a casa buscar o seu Ferrari para estacionar intencionalmente à porta do restaurante - quando tudo o que eu queria era uma pizza.

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