Mainova: à conquista do Alentejo profundo, e o regresso às origens naturais

É um projeto de vinhos com produção consciente e um azeite artesanal, que se mostra de Arraiolos para o mundo às mãos de uma jovem empreendedora.

10 de setembro de 2020 às 07:00 Rita Silva Avelar

O entusiasmo e o sentido de compromisso de Bárbara Monteiro, energética e assertiva, denunciam-se-lhe na voz. A forma entusiasta e motivadora com que fala do seu projeto, o Mainova, contagia qualquer pessoa que nem tenha afinidade alguma pela área, nem sequer sentido de empreendedorismo. Agora com 30 anos, Bárbara conta como foi, há cerca de três anos, deixar o mundo das agências de comunicação para abraçar um negócio de família, e de como trocou a cidade pelo campo e passar a ver o "céu estrelado do Alentejo" em vez dos prédios da cidade. Pelo semblante feliz e descontraído, sabemos que para já está certa de que a escolha foi positiva, e que mudar o mundo pode ser, mesmo, algo que podemos fazer no nosso pequeno quadrado.

O "quadrado" de Bárbara fica no Vimeiro, em Arraiolos, mais precisamente na Herdade da Fonte Santa. Foi lá, em pleno Alto Alentejo, que nasceu a Mainova, uma marca que tem na responsabilidade ambiental uma das suas principais missões, com vinhos e azeites extra virgem de produção biológica e integrada, pouca intervenção e certificado vegan. Mas a história da Mainova, ainda sem o ser, começa há mais de 10 anos, quando os pais de Bárbara compraram a propriedade, uma vez que a família é de Fátima e é lá que têm o seu próprio negócio, a marca de cerâmicas Matceramica.

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"A ideia dos meus pais eram produzir em qualidade e não quantidade. Plantaram o olival e a vinha e o azeite era vendido a granel, e neste caso a uva era vendida ao António Maçanita, por conhecer a vinha como ninguém. Os meus pais lançaram-me o desafio de abraçar o projeto e eu aceitei, até porque até ai ia só [até à herdade] por lazer" começa por contar à Máxima a jovem empreendedora. "Quando saí da IF [agência de comunicação onde estava] comecei a fazer formações e a acompanhar o meu pai no campo, e a dedicar-me à parte de marketing e de produto. Pretendemos ser o mais naturais, saudáveis e sustentáveis possível. O fator consciência vem desde o início, temos painéis foto voltaicos, a água é reutilizada na rega (e há sensores), e usamos os recursos com cuidado" conta, sobre um dos conceitos pela qual a Mainova marca a diferença.

Sobre o nome, que é uma brincadeira alusiva ao facto de Bárbara ser a mais nova de três irmãs, explica: "enquanto mais nova sempre reclamei de tudo (risos) porque era a mais nova e ficava com as roupas em segunda mão das minhas irmãs, por exemplo. E já mais velha, os meus pais nunca sabiam explicar bem que trabalhava na área da comunicação (sim, é difícil explicar). Ficava chateadíssima (risos). Eles diziam… "a mais velha é veterinária, a do meio é médica, e a mais nova… bem, a mais nova é a ‘mainova’! Eu reclamava imenso (risos). E então foi por isso que ficou este nome, até porque é um projeto de família."

Hoje, o projeto Mainova consiste em 90 hectares de olival (nas variedades cordovil, picual, cobrançosa, arbequina e frantoio) e 20 hectares de vinha (cujas castas foram escolhidas, na altura da plantação, a dedo por José Luís Monteiro, patriarca da família, com a ajuda do viticultor inglês David Booth). Do lagar, saem dois tipos de azeite em garrafa de cerâmica (a garrafa, por si só, é uma mini obra de arte com ilustrações do artista André Coelho, que também o fez nos rótulos dos vinhos), o extra virgem clássico, natural, sedoso e saboroso, e o sublime extra virgem Early Harvest, para apreciadores do género, que acabou de ganhar uma medalha de ouro na primeira edição do Dubai Olive Oil Competition. Há uma preocupação ambiental também nos materiais: a garrafa de azeite de 500ml é em vidro 100% reciclado, e a embalagem Bag-in-Tube de 3 litros protege o azeite utilizando menos 60% de plástico do que o convencional garrafão.

Com uma produção biológica e certificação vegan, os vinhos, que estão a cargo dos enólogos António Maçanita e Sandra Sarria, falam por si, e a personalidade dos mesmos também se evidencia a nível estético: há uma preocupação notória com o packaging, por exemplo, através do uso de rótulos ecológicos ou do uso de lacre ao invés da habitual cápsula. "A cera é feita à mão, e aplicada de forma manual na garrafa. Não queríamos usar nem plástico nem metal. Requer muita mão de obra e trabalho." O vidro segue o exemplo da garrafa de azeite: é quase todo 100% reciclado.

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As vindimas são feitas de forma manual à noite, da meia-noite às oito da manhã, para melhorar o processo da apanha, e para já os vinhos que existem no mercado são seis (Mainova Branco 2019 e Tinto 2018, Milmat Branco Reserva 2018 e Milmat Tinto Reserva 2017, Moinante Rosé Castelão 2019 e Moinante Branco Curtimenta 2019, este último que leva o nome do cão da família). Os preços do vinho variam entre os €8.95 e os €24,95 e os do azeite posicionam-se entre os €5,90 e os €22,95). "Quisemos lançar seis gamas, foi arriscado mas correu muito bem (…) este ano engarrafámos 19 mil garrafas, mas temos capacidade para 150 mil. Estamos numa fase inicial, e queremos manter a qualidade. No campo fazemos poda verde e monda de cacho." Em breve, quando a adega estiver finalizada, que fica no meio da vinha, a herdade receberá provas e eventos. Além de um projeto comercial, o Mainova é uma bonita história de amor e respeito pela natureza, pelo slow living e pela consciência green, que está ainda só a começar, e a dar os primeiros frutos.

*Para já, os produtos Mainova encontram-se à venda na Garrafeira Nacional, encontramo-los nalguns restaurantes seleccionados, e em mainova.pt.

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