Passar alguns dias em casa apenas a relaxar sabe bem a toda a gente, principalmente numa altura em que os dias estão cada vez mais curtos e o frio obriga a usar diversas camadas de roupa. Porém, os médicos alertam que ficar muito tempo em casa também é prejudicial ao bem-estar físico e mental.
A perda de aptidão física é a primeira consequência de um estilo de vida sedentário, algo que veio a piorar com a pandemia e com o teletrabalho. "Sabemos que trinta minutos de exercício físico por dia podem reduzir o risco de cancro, doenças cardiovasculares ou Alzheimer em 40%", explica o cardiologista Frédéric Saldmann, citado pelo site da revista Madame Figaro.
Além disso, a prática desportiva é responsável pela libertação de endorfinas, que contribuem para uma sensação de bem-estar geral. O médico avisa ainda que quem permanece em casa o dia todo tem a tendência de aumentar de peso, pois recorre à comida em alturas de stress e ansiedade.
Más noites de descanso também estão relacionadas com o permanecer em casa. Com os dias mais curtos "perdemos os dois sincronizadores do sono [do corpo], que são a exposição à luz solar e a atividade física", afirma Philippe Beaulieu, especialista em medicina do sono, à mesma publicação. "Durante o dia, o nível de luz não é suficiente, e sem exposição à luz natural pela manhã, o corpo perde os seus pontos de referência. Como resultado, podem ocorrer distúrbios do sono", continua. "Temos uma tendência natural para não sairmos, contra a qual temos de lutar. É importante não se deixar ir e cingir-se a uma rotina fixa", aconselha o médico.
Quanto aos impactos a nível mental e psicológico, os especialistas indicam dois principais: pensamentos obsessivos e solidão. Fechados dentro de quatro paredes, "os pensamentos negativos circulam na nossa mente como um disco riscado", explica Christophe Haag, investigador de psicologia social, também à Madame Figaro. O problema aqui começa quando o indivíduo não se consegue desligar dos assuntos que o afligem, podendo-o levar a uma depressão grave.
A isto junta-se o fator aborrecimento: além da pessoa pensar que tem uma vida monótona e desinteressante, poderá ainda desenvolver novos tiques nervosos como roer a unhas ou até arrancar cabelos.
Por fim, temos a "rejeição social". "Para nos sentirmos bem psicologicamente, precisamos de estar rodeados de pessoas, de partilhar", explica Saldmann. Aliás, o sentimento de solidão é semelhante ao da dor física, pois a área do cérebro que processa estas duas situações diferentes é a mesma. Com a solidão vem ainda toda uma série de emoções negativas, desde a raiva à tristeza e a frustração, "extremamente consumidoras de energia para o corpo e para a mente."