É uma pausa, como o título do livro sugere. A segunda primavera, como dizem os japoneses. Acima de tudo, é uma fase pela qual todas as mulheres vão passar. Nesta obra, a apresentadora da televisão britânica Davina McCall e a ginecologista Naomi Potter contam absolutamente tudo o que há para saber sobre a menopausa.
Foto: DR18 de outubro de 2024 às 12:25 Madalena Haderer
Hoje é o Dia Mundial da Menopausa. As mulheres constituem cerca de metade da população mundial, mais ou menos quatro mil milhões de pessoas, o que significa que, em algum momento, esses quatro mil milhões vão passar pela menopausa. Uma transição que as vai atingir, em cheio, nos seus anos mais ativos e produtivos. Muitas estão a ascender na carreira, a encaminhar filhos adolescentes, algumas recomeçaram as suas vidas, com novos trabalhos, novos parceiros e até uma segunda leva de bebés, e um grande número está a ter de cuidar de pais debilitados e doentes. E é nesse momento que são abalroadas por um enorme comboio de mercadorias. Dormem mal, ficam irritadas e ansiosas, cansadas e sem energia, com problemas de memória, dores musculares e nas articulações, e, claro, com os famosos afrontamentos: aqueles calores insuportáveis e inexplicáveis que toda a gente identifica com a menopausa.
E a verdade é que, apesar de isto acontecer a todas as mulheres, muitas não conseguem identificar o que se passa quando começam a notar que algo não está bem. Nas gerações anteriores, a menopausa e os seus sintomas eram coisas que se sofriam em silêncio, mas à medida que a primeira vaga de mulheres da geração Millennial começa a atingir os 40 anos, está tornar-se claro que o silêncio não é uma opção. As mulheres querem informação sobre o que esperar e, sobretudo, sobre o que fazer para tratarem os sintomas e continuarem a viver vidas cheias, divertidas, desafiantes, com tudo a que têm direito.
Durante todo o mês de outubro, por todo o lado nas redes sociais – contando que siga as pessoas certas – há vídeos de ginecologistas e outros especialistas em menopausa num esforço muito válido e importante de informar, quebrar tabus e desconstruir mitos. A Máxima vai fazer o mesmo, servindo-se, como cábula, de um dos livros mais completos e interessantes a ser lançados este ano sobre o tema. Chama-se Menopausar e foi escrito por Davina McCall,uma famosa apresentadora de televisão britânica, de 57 anos, em parceria com Naomi Potter, ginecologista especialista em menopausa, fundadora da clínica privada Menopause Care, que trata e acompanha mulheres nesta fase da vida.
Lemos o livro de uma ponta à outra e fizemos um resumo, em jeito de pergunta-resposta que a vai deixar bastante bem informada. Vai saber reconhecer os primeiros sintomas, vai perceber o que é que está a acontecer consigo e porquê, vai descobriro que é que pode fazer, e, acima de tudo, vai saber que não há nada a temer. Se este é um tema que lhe interessa – e se é uma mulher ou tem amigas mulheres ou familiares mulheres, acredite que este é um tema que lhe interessa –, não deixe de comprar o livro.
Perimenopausa e menopausa, o que são e quando acontecem?
De acordo com a médica Naomi Potter, "falamos em menopausa quando uma mulher não teve um único período durante 12 meses consecutivos. Isto pode ser um caminho acidentado: as hormonas podem flutuar, durante vários anos, antes de chegarmos à menopausa, durante uma fase de transição conhecida como perimenopausa. São estas flutuações hormonais e, depois, a sua subsequente perda, que causam sintomas durante a perimenopausa e a menopausa." Em média, de acordo com Potter, "a perimenopausa dura cerca de quatro a oito anos". Se os seus sintomas se apresentarem antes dos 45 anos, "normalmente são feitas análises ao sangue" para confirmar o diagnóstico, se tiver mais de 45, regra geral, não são necessárias análises e as queixas são suficientes para fazer o diagnóstico.
Falamos de três hormonas: o estrogénio, a progesterona e a testosterona. "O estrogénio é, sobretudo, produzido nos ovários. [...] Existem recetores de estrogénio nas células de todo o corpo. O estrogénio mantém o nosso corpo em perfeitas condições, desde ajudar a regular o nosso ciclo menstrual até melhorar o nosso humor e a nossa memória, fortalece os nossos ossos e protege o nosso coração. A progesterona ajuda a regular o nosso ciclo menstrual, prepara o corpo para a conceção e mantém o nosso corpo feliz e saudável durante a gravidez. [...] A testosterona não é apenas para os homens – ajuda a regular o nosso humor, o desejo sexual, a força, a resistência e a energia. Nas mulheres, diminui durante a menopausa e essa diminuição pode ser imprevisível", explica Naomi Potter.
Quais são os sintomas?
O livro Menopausar apresenta uma lista exaustiva de sintomas e alguns nunca lhe passariam pela cabeça. Ou, como dizem as autoras, "sintomas da menopausa que já conhece e aqueles de que ninguém lhe fala": queda de cabelo, olhos secos, zumbido nos ouvidos, ardor na boca, sangramento das gengivas, fadiga, alterações de humor, névoa cerebral, palpitações, seios doridos, aumento de peso, infeções do trato urinário, falta de libido, alterações do ciclo menstrual e do período, secura vaginal, pele seca e com comichão, dores nas articulações e nos músculos, ansiedade, depressão, afrontamentos e suores frios.
"TRH [terapia de reposição hormonal]. Três letras apenas, mas um salto gigante para a mulher", brinca Davina McCall. "A TRH é completamente transformadora. Não só atrasa a menopausa, como nos deixa a nós próprias como éramos antes. A terapia de reposição hormonal é exatamente aquilo que o seu nome diz que é: não passamos a tomar mais hormonas do que aquelas que tínhamos, estamos a substituir as que estamos a perder", explica.
Que tipos de terapia de reposição hormonal existem?
"A TRH só está disponível mediante receita médica e contém quase sempre estrogénio, muitas vezes contém progesterona e por vezes contém testosterona. Se a sua TRH contém apenas estrogénio, é conhecida como TRH de estrogénio isolado. Se a sua terapêutica contém estrogénio e progesterona, chama-se TRH combinada. Se tomar estrogénio e progesterona todos os dias, chama-se TRH combinada contínua. E, se tomar estrogénio todos os dias, mas só tomar progesterona uma parte do mês, chama-se TRH combinada sequencial ou TRH cíclica", explica Naomi Potter. Se tiver feito uma histerectomia, pode tomar apenas estrogénio, mas se tiver útero, tem sempre de tomar estrogénio e progesterona. E cada uma destas hormonas tem diversos métodos de reposição.
"O estrogénio pode ser administrado por via transdérmica (através da pele) ou por via oral (pela boca). [...] Ao contrário do que acontece quando toma estrogénio por via oral, a TRH transdérmica não passa pelo fígado e não existe um risco acrescido de coágulos, acidente vascular cerebral ou doença da vesícula biliar", diz a ginecologista.
O estrogénio pode ser administrado através adesivos que se colam na zona da anca e que são substituídos semanalmente ou duas vezes por semana. Outra opção é um gel, que deve ser esfregado, diariamente, na parte interna dos braços e/ou das coxas. E há também um spray para aplicar, todos os dias, no interior do braço. Estas são as opções transdérmicas. Depois tem a opções sistémicas, que consistem em comprimidos de estrogénio geralmente combinado com progesterona, com toma diária. Por último, tem ainda a hipótese do estrogénio tópico de aplicação vaginal – "sob forma de cremes, anéis e pessários que se inserem no interior da vagina ou se aplicam na vulva". De acordo com Naomi Potter, esta opção é particularmente útil nos casos de secura vaginal e sintomas urinários. "A diminuição da espessura dos tecidos pode provocar comichão, ardor e sexo doloroso, mas também sintomas urinários, tais como: fazer xixi mais vezes, ter de se levantar durante a noite para ir à casa de banho, perdas de urina, bem como infeções recorrentes do trato urinário", sublinha a médica.
Passemos agora para a reposição de progesterona. Assumindo que não está a fazer um TRH combinada, com estrogénio e progesterona, como vimos acima, mas que, por exemplo, optou pelo adesivo, tem de suplementar essa terapia com a progesterona. De acordo com Naomi Potter, duas das melhores opções são a progesterona micronizada (em comprimidos que podem ser administrados por via oral ou por via vaginal) e o DIU (dispositivo intra-uterino) Mirena. Este último, "pode estar colocado durante cinco anos e é uma excelente opção se procura combinar a sua TRH com um contracetivo", diz a ginecologista.
Já a testosterona é, normalmente, administrada por via transdérmica, e consiste num creme ou gel que é aplicado, diariamente, na zona das coxas. A quantidade costuma ser muito pequena. E, já agora, se acha que a testosterona é para os homens, retenha as palavras de Naomi Potter: "A testosterona é uma hormona feminina – na realidade, produzimos mais testosterona do que estrogénio."
Todos estes métodos têm prós e contras, pelo que deve fazer a sua escolha com a ajuda do seu médico. Encontrar a combinação certa costuma ser um exercício de tentativa e erro, mas vale a pena perseverar.
Mulheres que ainda têm o período e mulheres que já não têm, mulheres com menos de 45 anos e com mais de 50, com excesso de peso, com tensão alta, com historial de coágulos, com historial familiar de cancro da mama (na maioria das vezes), com historial da maioria dos cancros, e, ocasionalmente, mesmo com cancro da mama. Na prática, a Naomi Potter faz uma lista dos diversos motivos que os médicos – maioritariamente, os de clínica geral – apresentam às mulheres como impedimentos para fazer terapia de reposição hormonal. Se o seu médico lhe apresentar alguma destas razões para não fazer a prescrição, procure uma segunda opinião.
Todas as medicações têm riscos e efeitos secundários e a TRH não é excepção. Porém, a terapia de reposição hormonal sofreu um grande golpe em 2002, quando foram divulgados os resultados de um estudo norte-americano chamado Women’s Health Initiative (WHI) cujo "objetivo era analisar os efeitos na saúde de milhares de mulheres que tomavam estrogénio isolado ou TRH combinada". Algumas conclusões eram alarmantes e foram divulgadas de forma descontextualizada e sem contraditório pela comunicação social. Conforme Davina refere, "os rótulos de que 'a TRH causa cancro da mama' e de que 'a TRH não é segura' mantiveram-se até hoje" – mesmo junto da comunidade médica, que tem obrigação de estar melhor informada. Hoje sabe-se que o WHI tinha inúmeras falhas, por exemplo: "a idade média das mulheres que participaram no estudo era 63 anos – mais de uma década mais velhas do que os 51 anos, a idade média da menopausa. Na verdade, as mulheres mais velhas que participaram no estudo tinham 79 anos. Isso significa que, por causa da idade, as mulheres já estavam em maior risco de ter cancro da mama e problemas cardiovasculares", explica Naomi Potter.
Sobre os riscos reais da TRH, esta médica diz o seguinte: "O estudo mais recente confirma aquilo de que já se suspeitava: a TRH só com estrogénio não aumenta o risco de cancro da mama.O estrogénio combinado com a progesterona micronizada (idêntica à do corpo) também não está associado a um risco acrescido de cancro da mama. O estrogénio com progesterona sintética está associado a um pequeno aumento do risco de cancro da mama." Mais à frente, Naomi Potter contextualiza: este aumento de risco é inferior ao risco de desenvolvimento de cancro da mama em mulheres que bebem duas ou mais doses de álcool por dia.
Além disso, "existe um ligeiro aumento do risco de desenvolver um coágulo, se tomar estrogénio oral. Não há um risco aumentado de coágulos devido à utilização de estrogénio através da pele", garante a ginecologista.
Apesar do tamanho generoso deste texto, é apenas um guia muito básico sobre a menopausa, os seus sintomas e tratamentos, de acordo com os testemunhos e os ensinamentos de Davina McCall e Naomi Potter. Nesta sua Bíblia menopáusica de 365 páginas, as autoras aprofundam temas muito mais específicos, como a menopausa precoce e a insuficiência ovárica prematura, a menopausa e a endometriose, o que fazer se a TRH estiver, realmente, contraindicada para si, dicas para preparar uma conversa com o seu médico, o sexo durante a menopausa, e muito mais.
À partida, qualquer pessoa diria que comer uma tablete de chocolate ao pequeno-almoço é meio caminho andado para ter excesso de peso e fraca saúde dentária. Mas um estudo recente demonstrou que, pelo menos no que toca a mulheres pós-menopáusicas, isso não é verdade.