Como é o sexo na terceira idade? "Existe dificuldade em dizer ao parceiro o que é que queremos"
Até tempos não-tão longínquos assim, sem sexo não haveria vida. E mesmo assim este continua a ser um tema tabu — principalmente quando se atinge a idade madura.
Falar de sexualidade na terceira idade ainda é assunto proibido — para não se dizer falar de sexualidade, ponto. Sendo um tema já vagamente abordado pelos mais "novos", é natural que quando se atinja a idade madura as conversas em torno do mesmo passem a ser praticamente inexistentes. Contudo, são cada vez mais as excepções a esta regra que parece quase universal. "Embora ainda não sejam a maioria, a verdade é que há cada vez mais casais de idosos a procurar ajuda especializada. Isto acontece tanto em casais de longa duração como em casais que se formam em idades maduras e que vêem na sexualidade um pilar importante para a relação amorosa", esclarece o sexólogo Fernando Mesquita. Explica que, apesar da nossa sociedade estar cada vez mais envelhecida, e as pessoas idosas saberem que podem ter uma vida sexual ativa, ainda existem muitos preconceitos e tabus sobre a sexualidade na maturidade que impedem estas pessoas de viver a sexualidade de uma forma mais gratificante.
Entre as crenças mais comuns, aponta o sexólogo, estão a imposição do sexo como reprodutivo. "Uma vez que, com a menopausa, cessa a capacidade de ter filhos, muitas mulheres acreditam que não faz sentido continuar a ter uma vida sexual ativa nesta fase; o sexo associado à jovialidade, a ideia de que o sexo é para os jovens e que as pessoas mais velhas com vida sexual ativa são depravadas ou promíscuas pode ser um entrave para muitas pessoas mais velhas".
Tempo de amar
É sabido que o avançar da idade é acompanhado por algumas alterações e limitações (físicas e/ou psicológicas). No entanto, salvo raras exceções, tal não deve ser visto como um entrave para a sexualidade na velhice: "Por vezes, o maior entrave está nos mitos e tabus associados à sexualidade na velhice", insiste Fernando Mesquita. Teresa Sousa, 78 anos, é prova disso mesmo. Já foi casada duas vezes e afirma: "Nunca tive problemas com a minha sexualidade". Confirma, contudo, que o tema da sexualidade na nossa cultura ainda é, sim, tabu: "É difícil falar-se de sexo abertamente; ou sobre a libido da mulher após a menopausa. Não sei se é vergonha, se falta de à-vontade…".

Teresa traz à conversa o filme Boa Sorte, Leo Grande (2022), que viu recentemente. Nesta comédia dramática, a veterana atriz Emma Thompson surge naquele que é apontado como sendo o papel mais ousado da sua carreira e derruba estereótipos sobre sexualidade na terceira idade, ao lado do ator irlandês Daryl McCormack. "O filme é interessante porque ela [a personagem de Emma Thompson] fica viúva e fala acerca das experiências que não teve durante o seu casamento. Eu julgo que com muitas de nós [na terceira idade] acontece o mesmo, seja por preconceito, vergonha, educação… Quase todas nós temos dificuldade em dizer ao parceiro, marido ou companheiro o que é que queremos ou o que é que gostávamos de experimentar. No meu caso tal não aconteceu. Sempre tive à-vontade suficiente para falar ou experimentar qualquer outra coisa que me apetecesse ou que tivesse ouvido falar…", deslinda Teresa Sousa. Embora existam algumas alterações biológicas (normais com o envelhecimento) que poderão condicionar a sexualidade, é importante que as pessoas consigam distinguir as alterações ‘normais’ do processo e as que podem indicar um problema de saúde que requer acompanhamento médico.

E a menopausa? Será esta o grande "anafrodisíaco" de que tanto se fala? "Infelizmente, essa é uma crença totalmente errada, mas que ainda é muito divulgada. De acordo com alguns estudos, muitas mulheres na menopausa têm uma vida sexual mais satisfatória da que tinham quando eram mais novas. Isto acontece porque, ao terem mais experiência sexual, sabem melhor o tipo de estímulos que as excita, apresentam menos inibição sexual e atingem mais facilmente o orgasmo. No entanto, poderá ocorrer alguma dor ou desconforto, durante a penetração vaginal, associada à ausência de lubrificação devido à diminuição de produção de estrogénio. Na maior parte dos casos, o uso de lubrificantes, à base de água, pode ajudar a ultrapassar esta dificuldade", clarifica o sexólogo. Do alto dos seus 78 anos, Teresa confirma a teoria do profissional de saúde: "Com a menopausa não tive qualquer problema, a libido não se afastou de mim… Neste momento tenho um companheiro holandês, que vive na Holanda. Apesar de ele não estar permanentemente ao pé de mim, a minha libido permanece a mesma". E acrescenta: "Há uma coisa muito importante que é estar apaixonada e gostar do homem com quem eu estou. Se me apetecer qualquer coisa diferente, ou uma noite mais calorosa, com mais paixão, faço uma jantar à luz das velas. Cozinho algo à base de gengibre ou picante, bebo um bom vinho e tenho a noite que eu quero. Mas acima de tudo [a libido saudável] resulta de eu gostar muito da pessoa com quem eu estou".


Vale mais prevenir
Que é possível manter a chama acesa mesmo na terceira idade já o entendemos. Mas como caminhar nesse sentido? De acordo com Fernando Mesquita, é importante alertar as pessoas que ainda não chegaram a esta fase para que adotem alguns comportamentos saudáveis que podem vir a ser muito importantes para uma vida sexual gratificante quando forem mais velhas. Entre eles: "Evitar o consumo de álcool e tabaco; procurar ter uma alimentação equilibrada; evitar o sedentarismo; praticar atividade física com regularidade; não construir guiões sexuais baseados na performance sexual e focadas no coito". Soma ainda a importância das pessoas mais maduras procurarem adaptar a sua sexualidade às circunstâncias normais de uma idade mais avançada: "Se as dificuldades persistirem e se isso causar mal-estar devem procurar ajuda médica e/ou psicológica", remata.

Beleza, Educação, Sexo na velhice, Libido, Orgasmo, Sexualidade
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