Por graça de Deus e do Instagram. Quem são os grandes reis e rainhas da Europa?
Reinam, embora não governem, em dez democracias europeias, com um “público” que ultrapassa muito as fronteiras nacionais. No livro 'As Dez Monarquias da Europa', o jornalista Alberto Miranda analisa quem é quem nestas dinastias e quais as razões do seu fascínio em pleno século XXI.

Tempos houve - e não foram breves - em que, para impôr a sua lei, absoluta e inquestionável, aos reis bastava apresentarem-se como escolhidos de Deus. "Dom fulano de tal, por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarve, decreta que…", lia-se na entrada dos documentos emitidos pela chancelaria real para conhecimento e obediência da plebe. Mas como explicar que no século XXI, em dez democracias europeias, o chefe de Estado seja não um presidente eleito em sufrágio universal mas um monarca, que herda dos ancestrais esse papel, na aparência mais própria dum reino medieval ou dum filme da Disney?
Perguntas como esta são feitas no livro do jornalista português especializado no tema, Alberto Miranda, intitulado As Dez Monarquias da Europa (edição Casa das Letras). Logo no prefácio Charles-Philippe d’Orléans, duque de Anjou, descendente do último rei de França, assinala com realismo como o conceito evoluiu desde o tempo em que a sua própria avó, condessa de Paris, afirmava: Uma pessoa não se torna um príncipe. Nasce-se príncipe. "Perdoe-me, Madame, com todo o amor de um petit fils de France pela sua avó, vou ousar contradizê-la. Hoje a realidade é que já não é suficiente nascer-se príncipe ou princesa, é preciso merecê-lo. (...) Se se tornam demasiado populistas, o que não é bom, irão sofrer a perseguição da imprensa, o que não jogará a seu favor nem da instituição que representam. Se se tornam demasiado conservadores, os membros das famílias reais desligam-se dos seus cidadãos e da sua realidade, deixando-os desiludidos, e, em última, análise, revoltados. Não, a tarefa não é fácil e não há nenhuma universidade do mundo que os prepare para esta missão."


Dom Miguel de Portugal, "avô" de meia Europa
Não se pense, todavia, que Alberto Miranda, autor de uma página de Instagram exclusivamente dedicada a temas da realeza (@diario.da.realeza), faz o elogio cego e cor-de-rosa desta instituição milenar e dos que ainda a representam em dez Estados europeus, vários dos quais membros de direito da União Europeia. Em primeiro lugar, apresenta uma contextualização histórica muito séria da questão, onde se conclui que, afinal, os laços familiares entre estas dinastias são muito mais fortes do que possamos imaginar hoje, num tempo em que a obrigação de príncipes casarem com princesas se desvaneceu.


Porque se, no final do século XIX, a rainha Vitória era considerada a avó da Europa, o nosso rei Dom Miguel (1802-1866) também "sentou" a sua descendência em vários tronos europeus. Obrigado a exilar-se de Portugal na sequência da vitória dos liberais, encabeçados por seu irmão D. Pedro e sobrinha, Dona Maria II, casa com a princesa Adelaide de Löwenstein, com quem tem uma vasta prole. "Deste casamento - escreve o autor - descendem hoje três soberanos nos tronos da Europa: o príncipe do Liechtenstein, o rei Philippe dos belgas e o grão-duque Henri do Luxemburgo. É deste ramo que descende também a família imperial da Áustria (não reinante) e a família do duque de Bragança. Por outras palavras, os apelidos Bragança, Liechtenstein, Saxe-Coburgo e Gotha, Nassau e Habsburgo são todos primos entre si".




Ao longo das mais de 300 páginas do livro, Alberto Miranda detém-se com atenção sobre as várias figuras da realeza de hoje, desde as mais mediáticas (como os membros das famílias reais britânica, espanhola ou monegasca) às mais discretas e desconhecidas do grande público como o grão-ducado do Luxemburgo ou o principado do Liechtenstein. Embora muito mais escrutinados do que há 150 anos, por exemplo, os membros das famílias reais continuam a exercer um magnetismo sobre as multidões, sobretudo em momentos tão marcantes como casamentos, coroações, funerais ou jubileus.


"A magia das monarquias é um caso sério de popularidade - escreve o autor - o peso das casas reais na Europa ultrapassa as fronteiras nacionais, o que explica a popularidade, por exemplo, da rainha Isabel II, da princesa Diana ou de Catherine de Cambridge fora do seu próprio país." Cientes do poder do glamour e da comunicação adequada (que se tornou muito evidente após a crise provocada na casa real britânica pelas reações desajustadas à morte de Diana), as famílias reais de hoje apostam a sua sobrevivência nas suas contas de redes sociais, onde têm milhões de seguidores. Um passo em falso, que pode ser uma má resposta no momento errado ou uma escolha questionável de guarda-roupa, e a popularidade esvai-se num instante. Há, pois, que afinar as estratégias de comunicação e contratar os melhores profissionais da área.


A maior vulnerabilidade da imagem pública das monarquias é o seu alegado despesismo, o que é paradoxal se sabemos que o glamour é uma das funções com que um público supra-nacional investe estas famílias. A questão, sensível pelo menos nos últimos 80 anos (ou muito mais se pensarmos que a pobre Maria Antonieta era apelidada de "Madame Défice", o que não pesou pouco na sua condenação), tornou-se ainda mais premente após o conhecimento e divulgação dos desmandos de Juan Carlos de Bourbon, o que terá levado o monarca (até aí com uma boa imagem pública até pelo seu envolvimento na democratização de Espanha) a abdicar e o filho a demarcar-se das posições paternas.

Vão longe os tempos em que os interesses dinásticos ditavam quem casava com quem e em que príncipes e princesas (mais elas do que eles) eram jogados como peças dum xadrez europeu bem mais amplo do que os anseios individuais. Era a época em que o príncipe Michel da Grécia (nascido em 1939), filho do rei da Grécia, descendia pela via materna da família real francesa, mas tinha um avô dinamarquês, uma avó Romanov (logo, russa) e outra espanhola.


Pelo menos desde a época em que Grace Kelly se tornou Sua Alteza Sereníssima, a princesa do Mónaco, são cada pessoas de sangue não real (e até de classe média, como a rainha Letizia) conquistam os corações de monarcas e seus herdeiros e casam sem abdicar previamente dos seus direitos (como antes acontecia com os casamentos morganáticos). Nem sempre são felizes para sempre, mas o mesmo se pôde dizer, desde sempre, sobre ligações entre príncipes. Quem arrisca dizer que Sofia da Grécia foi feliz com Juan Carlos de Bourbon?


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