Rebeldes e polémicas: a princesa Diana e as mulheres da dinastia Spencer
A 31 de agosto de 1997, o mundo acordava chocado com a notícia da morte de Diana de Gales. Bela, carismática mas insubmissa com o papel passivo que a monarquia britânica lhe destinava, a "princesa do povo" pertence a uma família de mulheres fortes, pouco destinadas aos bastidores da História.

Doce mas irreverente, romântica mas epidermicamente incapaz de se submeter às regras de autoapagamento que a Casa de Windsor impõe às mulheres que nela nascem ou entram por via conjugal, assim era Diana de Gales, vitimada por um acidente de automóvel há precisamente 25 anos, num acontecimento que não só abalou, como transformou para sempre, a família real britânica. Mas a verdade é que Diana Frances Spencer, nascida em Sandringham a 1 de julho de 1961, pertence a uma centenária linhagem de mulheres carismáticas, pouco dispostas a ficar na História como decorativas peças de biscuit. Tudo começa no século XVIII...
Georgiana Cavendish, Duquesa de Devonshire

A sua história foi celebrizada no filme A Duquesa, com Keira Knightley no principal papel. Antepassada em linha direta da Princesa Diana, nasceu a 7 de Junho de 1757 e, por conveniência dinástica da família Spencer, casou ainda adolescente com William Cavendish, Duque de Devonshire. Não foram felizes para sempre, apesar do extremo requinte em que viviam. Uma vez casado, o Duque nunca abdicou, ou sequer escondeu, o facto de manter várias amantes. O problema foi quando, sentindo-se negligenciada, a Duquesa considerou que tinha o mesmo direito de procurar o amor noutro lugar que não o gélido leito conjugal. Foi obrigada pelo marido a exilar-se em França e afastada à força dos filhos, situação que se prolongaria durante dois anos. Celebrada pela sua beleza e inteligência, Georgiana ficou na História como uma mulher ilustrada, com grandes dotes políticos e intelectuais.

Frances Shand Kydd, a mãe de Diana
Passam-se 200 anos, cheios de transformações na História da Grã-Bretanha e do mundo, e, no entanto, a vida de Frances Shand Kydd (1936-2004) não é muito diferente da de Georgiana. Nascida em Sandringham House, em Norfolk, Frances era a segunda filha do 4º Barão Fermoy e de sua mulher, Ruth Sylvia Gill, que, ao longo da década de 1930, se tornaram muito próximo do rei Jorge VI e da rainha Elizabeth. Aos 18 anos, Frances casa com o então Visconde Althorpe e têm duas filhas, Sarah e Jane. Desesperado para ter um rapaz que lhe continuasse a linhagem (sobretudo depois de, em 1957, nascer um bebé de sexo masculino que apenas viverá dez horas), o Conde obriga a mulher a sujeitar-se a todo um manancial de testes e consultas de obstetrícia que muito contribuirão para o desgaste do casamento. Quando Diana e Charles nascem (em 1961 e 1964 respectivamente), a relação já estava muito deteriorada. Jovem e financeiramente independente, Frances arranjou um apartamento em Londres onde passava alguns dias da semana.

Seria, aliás, em Londres, durante um jantar de amigos, que Frances conheceu Peter Shand Kydd, um empresário que enriquecera com o negócio do papel de parede. Apaixonaram-se. Em breve, Peter deixava a sua esposa Janet para se encontrar com Frances durante suas visitas à capital. Em setembro de 1967, Frances contou ao marido o que se passava e ambos concordaram com a separação. Um mês depois, Diana, o irmão Charles e a ama foram para o apartamento de Frances, localizado em Cadogan Place. Sarah e Jane, as mais velhas, estavam já a fazer estudos secundários num colégio interno. Mas tudo mudou drasticamente no Natal seguinte, quando a família se reuniu em Park House e Spencer recusou-se a deixar que os filhos mais novos acompanhassem a mãe no regresso a Londres. Iniciava-se uma longa luta pela custódia de Diana e Charles, que Frances perderia depois da sua própria mãe, Lady Fermoy, se ter mostrado publicamente escandalizada com o comportamento da filha e ter dito ao juiz que as crianças estariam melhor junto do pai. Abria-se uma ferida na vida familiar que não voltaria a sarar. Com Diana, Frances manteve uma ligação irregular: embora tivesse participado ativamente nos preparativos do casamento com Carlos, tudo indica que, nos últimos meses de vida, a Princesa de Gales não trocou uma palavra com a mãe. Frances morreria em 2004.

Raine Spencer, a madrasta

Em 1976, o divorciado Conde Spencer (título que assumira em 1975) casou, em segundas núpcias, com Raine Spencer, filha da rainha dos romances cor-de-rosa Barbara Cartland, mas o que se passou não teve esse tom, já que os quatro jovens Spencer, incluindo Diana, não pouparam a nova madrasta. Diana tê-la-á mesmo empurrado por uma escada abaixo, quando já era Princesa de Gales, na sequência de uma discussão entre ambas, como é revelado por um antigo empregado da família no documentário Princess Diana’s ‘Wicked’ Stepmother. Obrigada pelos enteados a abandonar a casa imediatamente após a morte do marido, em 1992, para surpresa de todos, Raine retomaria a ligação com Diana após o divórcio desta. Numa entrevista ao New York Post, o antigo mordomo da princesa, Paul Burrell, comentaria a propósito: "Elas eram mulheres muito fortes. Sobreviventes. Tinham passado por várias tragédias e acabaram por se entender." Raine morreu em 2016.
Sarah Spencer, a irmã rebelde e inseparável


Diana tinha duas irmãs mais velhas, Sarah e Jane. Esta é a "bem-comportada", mas Sarah, a primogénita, aspirou a ser rainha e deu muito que falar na juventude. Em 1977, o seu breve namoro com o Príncipe Carlos levou ao primeiro encontro deste com a sua irmã mais nova, então com 16 anos. Mais tarde, com grande desportivismo, ela diria: "Fui eu que os apresentei. Eu fui o Cupido". Carlos foi um dos muitos namorados que Sarah teve nesta época, mas os seus contemporâneos dizem que a publicidade em torno desse affair real deu-lhe literalmente a volta à cabeça. Mantinha um álbum de recortes e tomava a iniciativa de procurar os jornalistas para lhes dar pormenores sobre o namoro. Confrontado com este facto, o Príncipe de Gales, muito irritado, pôs fim à relação. Aos poucos, Sarah foi vencendo os problemas de anorexia nervosa e alcoolismo e tornou-se, segundo o biógrafo de Diana, Andrew Morton, um dos maiores apoios da irmã convertida em Princesa de Gales. Nos últimos anos de vida desta, Sarah acompanhou-a em várias visitas oficiais no Reino Unido e no estrangeiro.
As sobrinhas modelos


Embora Diana só tenha tido rapazes, as três sobrinhas, filhas do irmão Charles Spencer, parecem ser dignas herdeiras da sua beleza e sentido de estilo. Kitty, nascida em 1990, começou há muito uma carreira profissional na Moda (a mãe, Victoria Lockwood, também foi modelo), tendo sido várias vezes capa de revistas como a Vogue ou a Harper's Bazaar e desfilado na semana da Moda de Milão com peças da Dolce & Gabbana. Nunca escondeu os seus problemas de excesso de peso e falou deles com uma abertura de espírito impensável, por exemplo, na época da sua tia. Também as suas irmãs mais novas, as gémeas Amélia e Eliza (nascidas a 10 de Julho de 1992), se tornaram ícones de estilo e aparecem regularmente nas capas de publicações como a britânica Tatler. Em perguntas sobre a tia, dizem que se lembram pouco dela (até porque viveram muitos anos na África do Sul) mas mostram-se conscientes do seu legado. Uma herança feita de muito estilo mas também de independência e coragem.


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