Os sete segredos das pessoas naturalmente magras
Um novo estudo revelou descobertas surpreendentes sobre como os super-esguios se mantêm em forma. Aqui ficamos a saber os seus segredos e rotinas diárias.

Todos nós conhecemos uma – ou sabemos de uma: daquela pessoa de sorte que se mantém de uma magreza digna das passerelles de Moda, apesar de comer tudo o que quer. Tal gente pode até queixar-se de que adoraria acumular algum peso, fazer alguns músculos ou ganhar umas quantas curvas, mas simplesmente não consegue.
Katreen Hardt é uma dessas irritantes pessoas sortudas. "Fui magra toda a vida", diz a escritora de 54 anos, que pesa 54 kg e mede 1,79m, conferindo-lhe um IMC [Índice de Massa Corporal] de apenas 17. "Na escola, as pessoas faziam pouco de mim por ser alta e magricela, mas ser assim tão magra também me tem ajudado. Quando estava nos meus 20 anos, tinha aspirações a atriz e fui contratada como dupla de corpo da Gwyneth Paltrow para o filme Grandes Esperanças. O departamento de guarda-roupa ficou extasiado quando descobriu que eu cabia facilmente nos trajes minúsculos de Gwyneth. Conheci-a e nós eramos muito parecidas, duas louras altas e desengonçadas. Mas nunca fiz uma dieta na vida e nunca passei fome."

Hardt tem tendência a evitar alimentos processados, lendo obsessivamente os rótulos para evitar gorduras trans e açúcares – "Sinto-me melhor se comer bem" –, mas continua a desfrutar de umas boas batatas fritas, de um ou outro pacote de salgadinhos e de um copo de vinho. Até aqui, tudo normal. Então qual é o seu segredo?

Estudos desenvolvidos ao longo das últimas décadas sugeriram que muitas pessoas naturalmente magras comem muito e queimam tudo isso sendo imensamente ativas, mas um novo estudo deu cabo dessa teoria. Segundo parece, os magricelas naturais são, na verdade, bastante preguiçosos. E embora possam comer seja o que for que lhes apeteça, acontece que comem muito menos do que os restantes de nós. O estudo foi conduzido por uma equipa internacional de cientistas, liderado pelo professor John Speakman, da Escola de Ciências Biológicas, da Universidade de Aberdeen, [Escócia], e do Instituto de Tecnologia Avançada de Shenzhen, na China. É a primeira investigação a testar, objetivamente, o quanto comem as pessoas "super-esguias" e quão ativas são, em vez de examinar a sua genética e relatar o que elas afirmam fazer.
Os resultados, como Speakman nos conta, demonstraram ser "uma grande surpresa". Segundo diz: "A explicação clássica para o indivíduo com peso a menos e saudável é que ele pode comer o que quiser e depois queima tudo, de alguma maneira. Portanto, nós esperávamos encontrar exatamente isso: níveis elevados de ingestão de comida, acompanhados por altos níveis de atividade física". Mas, diz ele, "isso parece ser uma espécie de mito urbano". O estudo, recém-publicado no jornal Cell Metabolism, observou 150 voluntários "super-esguios" com um IMC abaixo de 18,5. Isto significa que, tecnicamente, eles estão demasiado magros. Uma mulher com pouco mais de 1,62 metros pesava 49kg ou menos, enquanto um homem pouco acima de 1,80m nem chegava aos 70kg. Depois compararam-nos a 173 outras pessoas com um IMC normal, situado entre os 21 e 24.

A investigação descobriu que, em média, as pessoas saudáveis, mas naturalmente muito magras, que não impunham restrições à sua alimentação, comiam cerca de 12% menos do que as pessoas com peso normal. E, para assombro dos investigadores, elas são também cerca de 23% menos ativas. Isto foi medido por via de um acelerómetro, um dispositivo usado em torno da cintura que monitoriza os movimentos e é visto como a medida padrão-ouro para a medição da atividade física.

Então, o que torna os super-esguios tão diferentes?
Speakman diz que suspeita que o principal fator seja o facto de as pessoas magras terem genes magros. "Nós encontrámos diversas mutações genéticas comuns que estavam mais valorizadas no grupo super-esguio, em comparação com grupo de peso normal", diz ele. E estes genes podem não apenas estar associados a que tenham menos apetite, mas também levar a que as pessoas tenham menor massa muscular, bem como reduzida gordura corporal. Speakman diz que os seus generalizados níveis de atividade mais baixos podem ocorrer porque, ao terem menos músculo, isso significa que "se cansam mais rapidamente". Ainda que eles nem sempre se apercebam disso. "Quatro dos sujeitos objeto de estudo super-esguios disseram-nos que faziam exercício até 10 vezes por semana, para controlarem o peso. Quando fomos verificar, no entanto, a atividade física destes quatro sujeitos não era mais intensa do que os níveis de atividade das pessoas normais", revela Speakman.
Ainda assim, apesar dos seus estilos de vida, as pessoas mais magras eram, em média, mais saudáveis do que as pessoas mais ativas com peso normal, como níveis mais baixos de LDL [sigla inglesa para Lipoproteína de Baixa Densidade] – ou "mau" colesterol – e menos gordura no sangue. E embora possam desfrutar deste ou daquele pacote de batatas fritas, se escavar um pouco mais fundo, provavelmente vai descobrir que os magricelas sem esforço na verdade não comem assim tanto. Vejam o caso de Hardt, que toma sempre o pequeno-almoço, mas normalmente come flocos de cereais e frutos secos com leite de aveia, "uma vez que [é] intolerante à lactose". O almoço é uma Salada César, com camarão, ou uma Salada Niçoise, ou apenas uma maçã, uma mão-cheia de azeitonas e um pouco de húmus com cenoura. "Depende de quanto tempo tenho. Nunca tenho pão em casa – só me faz sentir inchada –, por isso nunca faço uma sanduíche para mim." O jantar ou é uma salada ou salmão com vegetais grelhados ou assados.


Para o resto de nós, isto poderia parecer suspeitamente tal e qual uma dieta. Mas não para Hardt ou, muito provavelmente, para os outros 1,7% da população que pertencem à mesma corte de magriços sem esforço, que simplesmente se esquecem de comer quando estão ocupados. Ou que demoram uma eternidade para comer uma refeição ou que simplesmente não gostam de comida de plástico e a quem nunca sequer ocorre virarem-se para a Häagen-Daaz em momentos de aflição. "Eu nunca passo fome. Apenas gosto de comer saudavelmente", diz Hardt, com ar pensativo. "Às vezes, vejo as pessoas a comerem imensa comida de plástico. Vejo como isso afeta o seu peso e disposição e interrogo-me por que farão elas isso."
Talvez menos surpreendentemente, descobriu-se que os muito magros naturais têm metabolismos superativos. Tinham os níveis de hormonas tiroideias mais elevados do que o normal, o que contribuía para uma taxa metabólica de repouso cerca de 22% mais alta do que as taxas de metabolismo mais reduzidas que eram esperadas, tendo em conta a sua dimensão corporal e massa muscular.
Tal como a maioria dos muito magros sem esforço, Hardt nunca teve, conscientemente, cuidado com o seu consumo de calorias. Nem tão pouco o seu peso sofreu efeitos de ioiô. Só houve uma vez em que aumentou de peso. "Há anos, aumentei cinco quilos enquanto estava a passar por uma fertilização in vitro, sem sucesso. Pouco depois, a minha relação chegou ao fim, seguida pela repentina morte do meu pai. O trauma provocou a perda desse peso e nunca mais voltei a acumulá-lo", diz ela. O peso simplesmente não é um problema, para ela. "Estou extremamente confortável com o meu corpo, agora. Se eu aumentasse 4,5kg não me sentiria bem, mas não me parece que isso seja provável."
Speakman salienta que é demasiado cedo para apreciar se há algo de especial na dieta alimentar destas pessoas naturalmente magras, mas diz: "Pedimos aos voluntários objeto do nosso estudo para fotografarem toda a sua comida. Isso deverá dar-nos uma imagem mais clara daquilo que comem e de que maneira tal difere potencialmente do das pessoas com IMC normal. "O argumento de base é que, se queremos saber como tornar as pessoas magras, então devemos estudar as pessoas magras, não aquelas que já vivem com obesidade."


Sete segredos das pessoas magras
Não podemos comprar genes magrinhos, nem, infelizmente, se pode tornar o nosso metabolismo hiperativo. Mas estudos anteriores sugeriram que há certos hábitos que pessoas naturalmente delgadas tendem a adotar.
1. Não fazem dieta
Em 2015, investigadores do Laboratório de Alimentos & Marcas na Universidade Cornell, nos EUA, apresentaram os resultados do seu estudo Slim by Design [Esguio de Propósito] que inquiriu 852 pessoas que toda a vida foram magras, 72% das quais mulheres, sobre os seus hábitos quotidianos. Cerca de 75% disseram que nunca ou raramente faziam dieta. Poderá pensar que isto é óbvio – porque haveriam as pessoas magras de fazer dieta? Mas estudos que remontam aos anos 1940 revelaram que até mesmo pessoas que partem de um peso normal, fazer dieta pode levá-las a ultrapassar os seus anteriores níveis de gordura quando os quilos começam a acumular-se de novo, como por norma acontece. Um relatório de 2013 revelou que em 15 de 20 estudos, fazer dieta implicava uma previsão de futuro aumento de peso e não perda. A decisão de passar a comer sobretudo comida saudável, com moderação, poderá ser uma melhor estratégia.

2. Não fazem tanto exercício quanto se pensa
No estudo Slim by Design, a maioria das pessoas disse que fazia exercício, mas 38% fazia-o entre uma a três vezes por semana, ao passo que 10% nunca o fazia de todo. O exercício físico é vital para a saúde e ajuda a abrandar o aumento do peso ao longo do tempo, mas os estudos demonstram que é pouco provável que o façam perder peso. E gratificar-se a si próprio por um treino puxado comendo iguarias pouco saudáveis pode até resultar no aumento de peso.
3. Eles petiscam… saudavelmente
Os mesmos participantes reportaram que o seu lanche preferido era fruta (39%) e frutos secos (20%). Giles Yeo, um investigador em obesidade da Universidade de Cambridge, [Inglaterra], é autor do livro Why Calories Don’t Count [Por Que Razão as Calorias Não Contam]. Segundo ele, enquanto os frutos secos têm uma má reputação por engordarem: "Estudos feitos por investigadores dos EUA demonstram que um quarto das calorias das amêndoas inteiras não-torradas não eram absorvidas depois de os participantes as comerem. De igual modo, os participantes absorviam apenas 80% do total das calorias das nozes.

"Isto deve-se ao facto de as gorduras e proteínas estarem contidas no revestimento externo mais rígido dos frutos secos, que é difícil ao organismo processar." Um estudo de 2011 revelou que comer frutos secos, mais até do que vegetais, estava associado a uma ligeira perda de peso ao longo do tempo.

4. Nem todos são vegans inveterados
Estudos demonstram que os vegetarianos e os vegans tendem a pesar menos do que os consumidores de carne, mas apenas 7% dos que responderam ao Slim by Design disseram ser vegetarianos, embora 61% preferissem frango a carne vermelha. Mais de 80% consumia bebidas alcoólicas.

5. Tomam pequeno-almoço… mas evitam cereais açucarados
"Uma importante conclusão a retirar deste estudo é que uma proporção muito elevada de pessoas delgadas na verdade toma o pequeno-almoço em vez de ficar em jejum", disse a sua autora principal Anna-Leena Vuorinen. Quase metade dos respondentes comia fruta ao pequeno-almoço (46%), enquanto os ovos eram a opção escolhida por 31%. Um escolha sensata, diz Yeo: "Um caloria de proteína faz com se sinta mais cheio do que uma caloria de gordura, porque a proteína é mais complexa para metabolizar".
6. Comem refeições a sério e adoram vegetais
Quase dois terços dos respondentes comem vegetais ao jantar todos os dias (63%) e mais de um terço consome saladas ao almoço na maioria dos dias. Não apenas os vegetais têm naturalmente poucas calorias, como as fibras que contêm também alimentam um diversificado microbioma intestinal, que em vários estudos é associado a um peso mais reduzido e até uma elevada perda de peso. Muitos estudos demonstram que uma dieta de fibras mais elevada equivale a menos peso. Um estudo norte-americano de 2019 revelou que as pessoas que comiam refeições compostas por alimentos ultraprocessados ingeriam mais 500 calorias por dia e aumentavam mais 9kg em apenas duas semanas.

7. Comem lentamente
Um estudo japonês publicado no jornal BMJ Open revelou que as pessoas que comiam lentamente tinham umas impressionantes probabilidades 42% menores de serem obesas do que as pessoas que engolem a comida a toda a velocidade. Mais do que isso, as pessoas que deliberadamente optavam por abrandar a sua velocidade de alimentação perdiam peso e tinham diâmetros de cintura mais finos. Porquê? Comer lentamente leva o seu corpo a produzir mais hormonas de "sensação de saciedade".
Texto - Leah Hardy/The Telegraph/Atlântico Press
Tradução - Adelaide Cabral

Saúde, Educação, Corpo, Magreza, Segredos, Forma
O que tem Gwyneth Paltrow no seu frigorífico?
Do vinho lançado por Cameron Diaz a sobras do almoço, sabemos que a guru de bem-estar guarda no eletrodoméstico muito mais do que comida.