"Comer o mínimo possível é chique." As influencers que fazem dinheiro com o culto da magreza
Frases motivacionais, restrições calóricas e cursos que ajudam a perder peso. Quem são as criadoras de conteúdos que fazem da filosofia de emagrecimento um ganha-pão?

O reinado da body-positivity parece estar a aproximar-se da sua morte anunciada. Os números não mentem: em janeiro deste ano, o hashtag #SkinnyTok já tinha ultrapassado 2,4 mil milhões de visualizações no TikTok, num alfa-pendular algorítmico que inclui uma corrente de vídeos destinados à thinspiration (inspiração para a magreza) e que, para os millennials que viveram o auge do Thumblr, lembra as perturbadoras comunidades pro-ana (pro-anorexia) da altura.
A mudança de mentalidades que está em curso relativamente ao que é considerado o "corpo ideal" deve-se, em parte, ao crescimento da cultura K-pop, que tem na magreza um pilar central. Ídolos influentes na Ásia — como Lisa, que entrou no elenco da última temporada de White Lotus — estão a conquistar o mercado ocidental, importando consigo uma panóplia de padrões de beleza exigentes. Outro fator de influência vem da recente proliferação do Ozempic como medicamento para emagrecer. E o regresso da viragem do milénio às tendências da Gen-Z não fez só regressar a procura por câmaras digitais ou calças de cintura descaída — também está a romantizar aquilo que as redes sociais batizaram como Y2K Skninny, isto é, a magreza ao estilo de Paris Hilton e das Angels da Victoria's Secret.
Antes de ser banida do TikTok por, alegadamente, infringir as regras comunitárias da plataforma, Liv Schmidt tinha por lá mais de 670 mil seguidores. No Instagram, seguem-na atualmente 326 mil pessoas. Foi na plataforma da Meta que fundou o grupo privado Skinni Societé. Por 20 dólares mensais (cerca de 17 euros), os membros têm acesso a receitas, exercícios, diários de registo dietético e um chat onde partilham entre si os seus objetivos e progressos, apoiando-se mutuamente, celebrando perdas de peso e restrições calóricas. "É como um pequeno culto da magreza", descreve Emma, ex-membro, ao The Cut.
Modelo e influencer, natural de Nova Iorque, Schmidt partilha mantras com as suas seguidoras (o grupo é restrito a "mulheres biológicas") que, supostamente, ajudam-nas a manter-se motivadas e focadas na perda e manutenção de peso. "Comer o menos possível não é restritivo, é regulador. É chique", apregoa. "Rastrear a comida não significa obsessão, significa informação." A filosofia de Schmidt baseia-se numa restrição calórica disciplinada — alguns chamar-lhe-iam extrema — acompanhada por exercício físico de baixa intensidade, com foco nas caminhadas diárias.
A própria "líder do culto" percorre uma média de 15 mil passos por dia, explicando às seguidoras ser preferível comer pouco e complementar dieta com exercícios leves a ingerir um maior volume de calorias e precisar de queimá-las com esforços excessivos no ginásio. “Come como se fosses a personagem principal. Porque és”, declara nas suas redes sociais. De acordo com Schmidt, a magreza simboliza um estilo de vida de luxo — no seu caso, literalmente. Com cerca de 6.500 membros, a Air Mail estimava em março deste ano que a Skinni Societé daria à influencer um rendimento de cerca de 130 mil dólares por mês (acima de 111 mil euros).
Também norte-americana, Brooke Molyneaux, de 26 anos, revelou aos seguidores que as inseguranças em relação à sua auto-imagem apareceram na adolescência. Seguia influenciadores ligados à saúde mas que não percebia porque é que as dietas não funcionavam consigo. Com um público de cerca de 260 mil pessoas no TikTok, partilha atualmente as suas idas à mercearia e receitas que daí derivam, como um jantar de 125 calorias, composto por iogurte grego, clara de ovo e espinafres. Com o dinheiro que faz na plataforma, diz que consegue pagar a renda e as despesas do carro.
Amanda Dobler, de 32 anos, tem perto de 390 mil seguidores no TikTok. É a autora de um programa de mentoria de quatro meses chamado "Fat Loss Formula" (ou "fórmula da perda de peso", em português). Por 4.500 dólares (aproximadamente 3.850 euros), apresenta mensalmente masterclasses novas, ora inseridas no programa, ora que podem ser compradas avulso.
Com uma atitude tough love ("amor duro", traduzido livremente), tornou-se ínfame por proferir frases como: "O motivo por que és gorda é que não te esforças o suficiente"; ou "a menstruação não é desculpa para comer como o raio do Shrek." Dobler tem sido acusada de incentivar a cultura de dieta tóxica através de uma linguagem dura, que já levou alguns especialistas a apontar críticas à abordagem da criadora de conteúdos.
"Se fores uma pessoa na nossa sociedade obcecada por dietas, a tua relação com a comida e com o movimento já é, provavelmente, complicada. A pressão e a culpa só tornam as coisas piores", afirmou Sarah Herstich, profissional clínica licenciada, ao site Bored Panda. "A vergonha nunca foi um bom motivador. Se sermos duros connosco próprios funcionasse, já estávamos todos curados por esta altura." A verdadeira mudança, defende a especialista, acontece quando adotamos uma atitude de auto-confiança e compaixão.

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