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Dormir na cama com os pais: sim ou não? Dois pediatras dividem-se nas opiniões

Manuel Ferreira de Magalhães, pediatra no Hospital Lusíadas Porto, e Beatriz Beltrame, pediatra no Hospital Lusíadas Braga, conversaram com a Máxima sobre um dos temas que continua a dividir opiniões entre pais e especialistas: o bed-sharing.

Foto: Pexels
10 de novembro de 2022 Ana Filipa Damião

Dividir a cama com os filhos pequenos. Um tema (entre muitos outros) que continua a assombrar a consciência dos pais e a suscitar debates entre os especialistas. E embora não exista uma resposta padrão para a pergunta "devemo-lo fazer?", os pediatras alertam para os riscos, sendo que uns têm uma postura mais permissiva que outros.

"A proximidade, o colo, a contenção e o mimo são elementos-chave na criação do vínculo entre pais e filhos e devem fazer parte do seu dia a dia, de acordo com a vontade dos pais", começa por dizer Manuel Ferreira de Magalhães, pediatra no Hospital Lusíadas Porto. Esta é uma questão frequente em Portugal e que causa muita ansiedade aos pais, que muitas vezes estão cansados porque os filhos dormem na cama com eles e não os deixam estar tranquilos, quer porque dormem na própria cama, quer porque acordam várias vezes durante a noite, continua. 

Beatriz Beltrame, no Hospital Lusíadas Braga, tem uma opinião diferente. Não é uma boa prática por vários motivos, sendo o perigo de morte um deles - o único ponto em que ambos os médicos estão de acordo. É essencial que exista um ambiente seguro para a criança dormir, visto que em bebés com menos de um ano, o risco de morte súbita é três vezes superior se dormirem na cama dos pais", diz-nos Manuel Ferreira de Magalhães. Entre as causas estão asfixia com tecidos pesados que bloqueiem a passagem de oxigénio ou com almofadas, queda da cama ou lesões causadas por ficarem por baixo dos adultos. O melhor local para se dormir é no berço, de costas, sem almofadas (embora existam umas próprias, "anti-giro") ou roupa de cama como cobertores, aconselha a Academia Americana de Pediatria.

Ter o bebé na cama dá jeito quando as mães amamentam, mas o ideal é deitá-lo no berço quando já não estiver a mamar, explica Beatriz Beltrame. Além disso, as crianças têm de perceber desde pequenas que cada um tem o seu lugar. "Quando elas crescem, é realmente [importante] começar a trabalhar a sua individualidade", porque de outra forma ficam extremamente dependentes da prática. Se eu acordar todos os dias às cinco da manhã, chega a um certo ponto que já não consigo acordar a outra hora. E o mesmo acontece com os bebés". Estão ao lado dos progenitores, sentem o seu cheiro, a sua presença, ouvem-nos, exemplifica a especialista. A única exceção é em caso de doença.

"Mas o meu filho tem mais de 12 meses. Pode dormir na cama comigo?"

"O bed-sharing (expressão inglesa para a partilha da cama) poderá ser feito de forma positiva se for intencional e por vontade dos pais e da criança", defende Manuel Ferreira de Magalhães, mas o mesmo já não se aplica se for feito como forma exclusiva de resolver os problemas de sono da mesma, remata. 

Ao longo dos anos, múltiplos estudos tentaram descobrir ao certo os benefícios e as desvantagens do bed-sharing, contudo, as conclusões permanecem pouco claras. "Isto deve-se ao facto das motivações para a prática em questão serem diferentes de família para família. Na verdade, as estratégias parentais globais é que podem determinar se dormir na cama dos pais será algo positivo ou negativo para os mais pequenos".

No lado oposto do espectro, a pediatra aconselha as recém-mamãs e papás a porem sempre o filho no berço (que até pode ser daqueles semi-abertos, que ficam colados à cama de casal) e no quarto dos pais, mas apenas até aos seis meses. A partir dessa altura ele já não precisa de comer durante a noite, e aí já deve dormir no próprio quarto. 

Uma forma dos pequenos se habituarem a dormir sozinhos no local indicado é asseguar que aquela é uma área confortável e cativante com que a criança se identifique. Claro que, se os bebés acordarem a meio da noite, deve-se ir ter com eles e ficar ali um pouco antes de se voltar para a cama, ressalva Beatriz Beltrame. Também existem certos objetos de transição que ajudam no desapego, como um doudou, uma t-shirt com o cheiro da mãe ou um peluche em forma de polvo, tipicamente feito em crochê. Estes peluches têm um grande impacto junto dos prematuros, pois oferecem-lhes uma sensação de aconchego e presença.

"O meu filho acorda a meio da noite e vai ter comigo. O que faço?"

A resposta não é linear e irá depender de cada caso. "Desde que essa situação de bed-sharing seja a ideal para a família e para a criança, está tudo bem. Mas se não for, e se e a vontade dos pais for criar mais autonomia de ambos durante a noite, então poderão pegar nela e pô-la novamente na cama, dia após dia", até ela se habituar, afirma Ferreira de Magalhães. A solução está no diálogo e em encontrar técnicas que funcionem para todos.

Beatriz Beltrame deixa uma orientação: primeiro o pai deita-se ao pé da criança enquanto ela adormece, depois senta-se na cama do filho, depois numa cadeira à beira da cama, depois move a cadeira para junto da porta, e depois sai do quarto. "Não queremos crianças que chorem a noite toda e que se sintam abandonadas. Embora haja sempre aquelas que precisam de mais tempo no que toca à extinção gradual da presença dos pais durante o sono, uma técnica validada e aceite como positiva para ambos. "Há pais que precisam de mais tempo para se desligar dos filhos. Muitas vezes, são eles que são dependentes, e não o contrário", clarifica a médica. "Inclusive, há mães que têm medo de deixar o bebé a dormir num berço ou num quarto à parte, com medo de que ele morra durante a noite", quando o mais perigoso, na realidade, é praticarem o bed-sharing antes dos 12 meses de idade. 

No entanto, é importante ter sempre presente que a responsabilidade do pediatra é informar, e nunca dizer à mãe ou ao pai que está a errar por dormir ao lado do filho, "até porque não sabemos o contexto daquela família", remata.

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