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Beber vinho na gravidez: sim ou não? A opinião de uma médica

A opinião de Irina Ramilo, ginecologista e obstetra no Hospital Lusíadas Lisboa, sobre um dos temas mais delicados da gravidez: álcool.

Foto: The Back-up Plan @IMDB
02 de novembro de 2022 Rita Silva Avelar
Debatido nos fóruns de grávidas, segredado entre amigas que estão para ser mães ou já foram, discutido em família. O tema do álcool na gravidez divide opiniões, como de resto quase tudo o que diz respeito à gestação. "Sabe-se que a comunidade desvaloriza o consumo leve de álcool e que cerca de 20-30% das grávidas consumem álcool na gravidez", começa por dizer Irina Ramilo, ginecologista-obstetra no Hospital Lusíadas, em Lisboa, e autora do blogue A Ginecologista da Melhor Amiga, que está do lado dos que aconselham a não consumir qualquer tipo de álcool, por achar que "não há um nível de consumo de álcool que possa ser considerado seguro".

As opiniões são díspares. "Mas as associações de Ginecologia e Obstetrícia em Portugal são peremptórias em defender a abstinência do álcool durante a gravidez. O álcool atravessa livremente a barreira placentária e isto significa que atinge os mesmos valores, a mesma concentração, no sangue da mãe e do feto. Há, porém, uma agravante! É que o fígado imaturo do feto ainda não consegue processar o álcool circulante", assegura. "Além disso, não há um estudo que determine um valor de álcool considerado seguro. E é exatamente a falta de conhecimento sobre esse valor que gera condutas discrepantes."

Quais são, afinal, os efeitos do álcool durante uma gravidez inteira, com situações de exagero recorrentes? "O consumo de álcool numa gravidez associa-se ao risco de abortamento no 1.º trimestre. O álcool tem potencial teratogénico, com risco de malformações fetais, e ao longo da gravidez com risco de prematuridade e restrição de crescimento fetal. Além disso, há estudos que mostram repercussão do consumo de álcool em crianças aos 10 anos. Logo, alguns estudos mostram que mesmo quantidades mínimas álcool no sangue na mãe podem provocar alterações nas células do feto, principalmente nos neurónios. Podendo levar a hiperatividade, défices de coordenação motora, atenção e de desenvolvimento."

Entre os maiores mitos dentro deste tema, explica a médica, está "estipular-se qual seria a medida ou bebida considerada segura para o consumo na gravidez… Muito provavelmente não há uma resposta única que se encaixe para todas as grávidas e todos os fetos. Assim como duas pessoas distintas podem beber quantidades semelhantes de álcool e apenas uma desenvolver cirrose, fetos diferentes podem ter limites de segurança diferentes em relação ao contacto com o álcool."

E remata: "existem estudos que mostram que mesmo em pequenas doses, o álcool é capaz de provocar alterações tanto ao nível molecular quanto ao nível de formação óssea do feto. Além de entrar na corrente sanguínea do feto através da placenta, pode bloquear o oxigénio e interferir na parte nutricional, retardar ou prejudicar o crescimento dos órgãos e causar danos cerebrais permanentes ao bebé em desenvolvimento."
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