Os pais devem beijar os filhos na boca? Esta é a opinião dos especialistas
Conversámos com Margarida Crujo, pedopsiquiatra, e Nathalie Marques, psicóloga clínica na área infanto-juvenil, para descobrir tudo sobre um tema que continua a dividir opiniões.

Beijar os filhos na boca, principalmente quando são pequenos, é um hábito que diversos pais partilham. Um dos exemplos mais famosos é David Beckham, conhecido por postar estes momentos ternurentos nas redes sociais. Há uma semana, o ex-futebolista e marido de Victoria Beckham publicou uma fotografia no Instagram onde surge a beijar a filha Harper, de 10 anos, na boca, e as reações não tardaram a chegar. Houve quem o criticasse - "ela já é uma menina crescida, está na hora de parar de beijá-la nos lábios." Contudo, a grande maioria dos comentários não eram depreciativos. "Nada como o amor de um pai pela sua filha!" ou "lamento, mas quem interpretar isto como algo mais que [um beijo de ] família tem problemas sérios que precisa de resolver o mais rapidamente possível!", lê-se nos comentários ao post de Beckham.
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O debate nas redes sociais e até na comunidade médica não parece ter fim à vista. "O consenso não existe, havendo, contudo, concordância quando o assunto é mais específico, como as consequências imediatas ao nível da saúde física", explicou Nathalie Marques, psicóloga clínica especializada na área infanto-juvenil na Academia Transformar, em entrevista à Máxima. Já Margarida Crujo, pedopsiquiatra na CUF, acredita que é uma demonstração de carinho que não se deva praticar. "Cada um pode escolher como se quer comportar, mas na minha opinião, não devem [fazê-lo], o que naturalmente não quer dizer que não o façam."
Para alguém poder concordar ou discordar com os ditos beijinhos, há que primeiro relembrar que "as demonstrações de afeto variam consoante os hábitos culturais", clarifica Marques. "Para algumas culturas, qualquer intimidade é vista como algo negativo, enquanto para outras, o amor é para ser sentido e expresso sem tabus. Os beijos na boca às crianças levantam debates acesos, mas a resposta está sempre na análise de diferentes fatores."

Por um lado, Crujo afirma que "o beijo na boca, pelo menos na nossa cultura, assume uma conotação mais sexualizada, e existem outras alternativas várias para os pais manifestarem amor pelos filhos que não esta." Por outro, tudo depende da intenção e da intensidade do beijo, da fase de desenvolvimento da criança e do bom senso quando existem questões de saúde. "Um beijo rápido (ou um selo como é mencionado comumente) associado a uma ação (despedida, um breve carinho, uma parabenização, entre outros) estará muito provavelmente isento de sedução ou de prazer sexual", responde Marques.

Riscos e benefícios de saúde
Ao fator cultural, juntam-se também possíveis problemas de saúde - o primeiro mês de vida de um bebé é um período sensível e há que evitar gestos demasiado próximos caso o progenitor padeça de alguma doença infetocontagiosa. Este é um aspeto com que todos os médicos concordam. Porém, a conversa é outra se nos referirmos ao ponto de vista psicológico.

O beijinho na boca "pode trazer alguma confusão na aprendizagem dos papéis e das dinâmicas sociais, se os filhos não puderem perceber que os beijinhos na boca são reservados para relações de intimidade privilegiada (como a que têm os pais), ao mesmo tempo que poderá não ajudar a criança a aprender os limites do seu corpo no momento certo do seu desenvolvimento, o que poderá acarretar consequências para a própria", continua Crujo. No entanto, não existem provas que baseiem estas previsões, acrescenta a especialista.

"A investigação é ainda escassa", afirma Nathalie Marques. "Na prática diária e observação no contexto da psicologia clínica, é possível afirmar que não é um assunto que seja abordado regularmente nem são apresentadas consequências comuns desta prática." Quanto a possíveis benefícios, tudo depende da forma como o afeto é vivenciado. "Se for um comportamento experienciado por pais e filhos como tradutor de ligação íntima, de carinho e proximidade então o impacto é positivo."

Quando se deve parar?
Não perdendo de vista a noção de que este tipo de beijos apenas é aceite em algumas famílias e culturas, "diria que o entrave se coloca quando os filhos manifestam vontade de não o fazer mais", sendo um tópico potenciamente sensível a partir da pré-adolescência, diz ainda a pedopsiquiatra.

Devemos ter em conta que a curiosidade e a descoberta da sexualidade fazem parte do desenvolvimento infantil. É importante, por isso, "consciencializar as famílias de que a exploração dá-se essencialmente quando há tomada de consciência das sensações de agradabilidade, do que veem ou tocam, sem se tratar diretamente de um impulso sexual cru, como poderá percecionar um adulto", explica Marques. "A maturidade e capacidade de entender o meio envolvente são balizas fundamentais para saber quando adaptar a forma como o amor é expresso. Isto é, ter em consideração que a criança ao aproximar-se dos 3,4 anos ganha maior consciência e maior discernimento da sua própria existência e da realidade que a envolve. Por isso, a psicóloga afirma que esta fase é a oportunidade perfeita para os pais avaliarem se os beijinhos na boca continuam a enquadrar-se, ou não, num desenvolvimento infantil saudável.

Independentemente da opinião dos pais quanto ao assunto, "os limites que definem o que é aceitável nesta manifestação de afeto devem ser o respeito pelo que cada um aceita receber ou dar, e/ou aquilo que opta por ser a sua forma de se expressar", conclui.
Embora tenha crescido em popularidade nos últimos anos, pelo menos em alguns países ocidentais, os especialistas não sabem ao certo de onde vem a prática. "O contacto com diferentes famílias, oriundas de diferentes pontos do mundo, assim como a multiculturalidade dos casais parentais, poderão estar na origem da disseminação desta forma de expressão de carinho. E as figuras públicas que expõe esta realidade do seio familiar contribuem para o generalizar, enquanto modelos para a população em geral."

saúde, disscussão, filhos, pais
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