Bruna Quintas grávida do segundo filho. “Quando és mãe, ficas mais vulnerável no trabalho”
Aos 28 anos, a atriz espera a chegada de um irmão ou irmã para Matilda e conta à Máxima o que muda com esta nova experiência. Fala-nos ainda da amamentação, da desigualdade entre mulheres e homens e da pressão para estar sempre bem na gravidez.

Como se vive a notícia da maternidade numa segunda vez? Quais as expectativas, os sentimentos que já esperavas ter e aqueles que te surpreenderam?
Foi bastante expectável para nós, estávamos a tentar, por isso não foi propriamente uma surpresa. Depois da primeira filha, as coisas são vividas de outra forma, com outra maturidade, com outra tranquilidade, a nossa grande preocupação agora é não querer que a nossa filha sinta que está à parte ou que já não é importante. Até agora tem sido incrível, porque a nossa filha está a adorar a ideia de ter um irmão. É engraçado viver isto uma segunda vez, em que já não temos tanta pressa, em que aproveitamos muito mais, em que já não estamos preocupados sobre como é que vai ser com o carrinho, com o quarto, com a roupa.
Eu acho que a criança vai nascer e eu ainda não vou ter nada pronto, porque eu estou tão tranquila. Já estou a ficar tranquila demais, mas... Vai ser muito bonito viver isso em família e viver isso com a nossa filha. E pronto, quando estamos à espera de um bebé, é sempre, não sei, é sempre especial. Fico com vontade de ter logo mais cinco. Quando eles nascem, eu penso, se calhar não, se calhar sim, quero mais. Mas tem sido mesmo bonito viver esta fase com a Matilda. Tem sido muito tranquilo. E toda a nossa família e todos os nossos amigos estão muito entusiasmados. Nós não dissemos a ninguém que estávamos a pensar nisso. Para eles acho que foi uma surpresa.

Por que decidiste fazer esta sessão para celebrar este momento? Que ideia querias passar e como te querias sentir?
O que me fez querer fazer esta sessão, no primeiro momento, foi saber que iria querer contar, não é? Até porque fico com uma barriga grande, não dá propriamente para esconder uma gravidez até ao final. Na verdade, é uma coisa que tenho muita dificuldade em partilhar, a gravidez, não sei, sinto sempre muita necessidade de a viver só, só com o meu marido e com a minha família. Não porque tenha medo de perder [o bebé], não sei. Sinto-me com muito mais vontade de me isolar. Mas, por outro lado, também queria celebrar, é uma questão de empoderamento feminino o quão fortes nos sentimos quando estamos a gerar uma criança. Às vezes também nos sentimos muito frágeis. Na gravidez da Matilda senti-me sempre muito vulnerável e muito assustada e era estranho passar por todas estas transformações, passar pelo pós-parto, etc. E quando terminei esse processo senti-me muito mais forte, senti-me muito mais capaz de ultrapassar seja o que for na minha vida porque é mesmo duro. Então desta vez eu queria celebrar-me a mim própria e celebrar o facto de que, mais uma vez, vou passar por este processo, de que, mais uma vez, o meu corpo está a gerar vida, de que, mais uma vez, vou ter de lidar com uma série de questões que são difíceis, sejam mudanças físicas, seja toda a alteração emocional e hormonal. Acho que faz todo o sentido sentir-me bonita, sentir-me sexy, sentir-me com força, então queria fazer uma sessão fotográfica que de alguma forma fugisse daquilo que é habitual, tive uma equipa inacreditável ao meu lado que me ajudou imenso. E gostei muito. E, acima de tudo, gosto muito de ter este registo. E acho que se identifica muito mais com a minha forma de falar sobre a gravidez ou de falar de como eu me sinto como mulher. Acho que é sempre uma coisa muito poderosa e era isso que queria passar.
Numa altura em que os temas da maternidade, como a amamentação, estão a ser tão falados, são assuntos que te chamam a atenção, especialmente nesta fase?
Acho que estamos longe de estarmos conscientes e de estarmos realmente disponíveis para debater vários temas relacionados com a maternidade. Não só a amamentação, mas a forma como nos exigem produtividade logo após sermos mães, a forma como nos pressionam. Na nossa profissão nós nem sequer temos dois ou três ou quatro meses para ficar em casa a amamentar ou para trabalhar menos duas horas. Tu chegas e tens de voltar a ser exatamente como eras antes, trabalhar 12 horas por dia e mostrar-te sempre muito disponível porque senão parece que te vão passar à frente. Porque parece que ficas meio frágil. E eu senti isto muitas vezes, senti que estava numa posição mais vulnerável: és mãe, tens de mostrar que continuas apta para trabalhar. Têm de existir mudanças para mães e pais para existir igualdade ou seremos nós mulheres a estar sempre em desvantagem. Porque seremos sempre nós a sair do trabalho mais cedo ou a abdicar da nossa carreira profissional para tomar conta dos filhos. Felizmente, tenho um marido e um parceiro inacreditável e nunca passei por isso, nunca senti que tinha de abdicar de objetivos profissionais porque não o tinha ao meu lado ou porque não tinha uma rede de apoio.

Reconheces essa experiência de quase choque no regresso ao trabalho?
Eu amamentei e amamentei a trabalhar, o que foi duro. Acho que as pessoas não têm essa sensibilidade, não têm a consciência do que é amamentar um bebé durante toda a noite e a seguir acordar às sete da manhã e ir trabalhar. E mesmo que não se amamente, mesmo que se dê biberão, tratar de um bebé é exigente, tratar de um bebé é difícil, é desgastante e portanto acho que faz todo o sentido que os pais tenham espaço para trabalhar menos horas e ficar com essas crianças em casa, o debate deveria ser como é que nós vamos criar condições no nosso mercado de trabalho, como é que nós vamos criar um espaço inclusivo para pais. Porque deixa de efetivamente fazer sentido exigir-se a um trabalhador que trabalhe 10, 8 horas depois de ter uma criança, seja porque a criança é amamentada ou porque a criança bebe biberão. Tal como não faz sentido deixar uma criança de 5, 6 meses numa creche, não é expectável e não é saudável nem para a mãe, nem para o pai, nem para o bebé. É um assunto que me incomoda, que me irrita, que eu passei na pele. Acho mesmo que na nossa profissão e no nosso mercado de trabalho estamos longe de estarmos disponíveis para debater sobre estes assuntos e para debater como é que nós, enquanto mulheres, nos sentimos. E como é que os pais se sentem também? Porque de alguma forma, quando são obrigados a voltar ao trabalho, eles carregam esse peso de sentirem que estão a deixar as suas parceiras em casa num momento altamente vulnerável ou porque gostariam de ter espaço para estar mais tempo com os seus filhos e não têm. Estamos a perder tempo a discutir se existem mães que dizem que estão a amamentar e não estão quando, na verdade, é tudo muito mais profundo do que isso.
Conheço muitas mulheres que já passaram por isto e sinto-me sempre muito revoltada. Faço sempre questão de ser altamente empática e altamente consciente com qualquer pessoa que esteja perto de mim, no meu trabalho, e que esteja a passar por isso; ou que precise de parar para tirar leite, ou que precise de sair para ir tomar conta dos filhos ou para os ir buscar à creche porque estão doentes.

Qual a tua rotina de beleza nesta altura?
Acho que a minha rotina de beleza não se altera muito nesta fase, ou seja, eu sou bastante preocupada em tratar de mim, gosto muito de tratar bem da minha pele, fazer exercício, comer bem. Tenho mais dificuldade nesta fase em comer bem porque tenho muita vontade de comer porcarias e até de comer coisas das quais nem sequer gosto, eu só penso em comer batatas fritas e doces.
Sou mais atenta com a questão de usar creme no corpo e na barriga e nas maminhas do que, se calhar, noutras fases. Acho que é importante comprarmos roupa que nos faça sentir confortáveis, isso foi uma coisa que não fiz na primeira gravidez e depois é estranho porque nós vamos engordar e as nossas roupas deixam de nos servir, não estamos confortáveis para sair de casa, não nos sentimos bonitas, desta vez não será assim.
Há truques de beleza e bem-estar que aprendeste na gravidez anterior e que vais repetir nesta?
Percebi que não é preciso comprar muitas coisas, mas comprar as coisas certas. Comprar peças de roupa que nos façam sentir confortáveis, acho que isto é importante. Fazer exercício para sentir que estamos a mexer o corpo. Ter atenção àquilo que comemos. Eu sei que dá muita vontade de comer imenso e achamos que estamos a comer por dois e pronto, mas depois é muito mais duro. Isso foi uma coisa que eu fiz com a Matilda. Eu engordei 20 kg, não fazia nada, ainda por cima foi época de Covid, não podia sair de casa, estava sempre a comer. Desta vez vou manter-me muito mais ativa, vou ter mais atenção àquilo que como e não é na perspetiva de não querer engordar muito, quero sentir-me bem, sentir que estou a cuidar de mim, sentir que não me estou a pôr de parte, se calhar às vezes acordo e sinto-me inchada, não me sinto bem, mas vou usar maquilhagem que era uma coisa que eu não faria porque normalmente ando sempre sem maquilhagem. Vou tentando fazer este tipo de coisas.

Como defines o teu estilo nesta altura?
O meu estilo, nesta altura, é tudo à larga. Ainda por cima sendo verão, está tanto calor, está a ser mesmo difícil de gerir esta temperatura. Vestidos, saias largas, está completamente impossível para mim usar calças. Ou usar alguma coisa que me faça sentir desconfortável ou apertada.
Créditos:
Make up e cabelo: Eduardo Estevam
Stylist: João Telmo
Fotografia: Joanna Correia
Vídeo: Mariana Lokelani
Produção: Laura Dutra

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