Raquel Tillo e Inês Marques Lucas lembram a forma invulgar como se conheceram

Fomos voyeurs, imortalizámos o amor alheio. Depois da pandemia, num mundo assumidamente individualista, que lugar têm as ambições pessoais numa relação amorosa? Quatro casais contam-nos as suas histórias de amor no século XXI.

Foto: Andy Dyo
26 de dezembro de 2023 às 07:00 Tiago Manaia

Factos. No dia 18 de outubro de 2023, a proteção civil lançou um alerta laranja (o segundo mais grave numa escala de três) para oito zonas de Portugal. Ventos fortes, chuvas torrenciais e risco de cheias. Por momentos a sessão que juntava os protagonistas deste editorial esteve para ser anulada. As ruas da capital encheram-se de água, andaimes que cobriam as fachadas das obras ameaçaram soltar-se, algumas árvores voaram. Foi nesta energia que conhecemos os protagonistas destas imagens. É costume evocar-se a bonança depois de uma tempestade, só que Lisboa parece não querer parar. Mais elétrica e engarrafada que nunca, promete continuar a crescer no tamanho das linhas de metro que agora se constroem e deixam as ruas com alcatrão aberto. A tempestade parece ter ativado a procura de boémia na fauna do centro da cidade, como se a vontade de novos encontros, antes de um possível mergulho no inverno, gritasse aos lisboetas e seus aliados internacionais que depois da tempestade… há uma possibilidade de amor.

Inês Marques Lucas e Raquel Tillo

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Foto: Andy Dyo

Há um palco constante no meio desta história de amor. Como se conheceram? Podemos dizer que foi num cenário virtual. Durante a quarentena, a atriz Raquel Tillo criou lives no Instagram. O projeto chamava-se Gayla, tinha vários tipos de talentos e muito humor. Os atores Manuel Moreira, Rui Maria Pêgo e Inês Aires Pereira faziam parte da equação. Foram vários os patrocinadores que se juntaram à gala, era um concurso com contornos delirantes, pessoas que tocavam flauta com o nariz podiam ganhar prémios – Inês decidiu concorrer. "Mandei uma mensagem à Raquel com vídeos meus a tocar covers da Mayra Andrade e disse ‘talvez me deixes entrar no teu concurso’." Há um crush entre as duas quando se falam virtualmente. "Nessa altura muita gente se conheceu em diretos nas redes virtuais, não havia outra coisa", diz Inês. A cantora participou duas vezes no The Voice Portugal. 

Raquel estava em Nova Iorque a fazer a tal Gayla virtual. O seu percurso enquanto atriz já a dividia entre continentes. Viveu na América onde fez vários espetáculos, em Lisboa participou na peça de teatro Avenida Q. Neste momento há de novo um palco entre as duas – o palco do Teatro Maria Matos.

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Foto: Andy Dyo

Inês está a ensaiar o concerto de apresentação do seu primeiro álbum Horas Mortas, inspirado nas suas madrugadas. Raquel sobe à cena de noite, para apresentar a peça O Regresso de Ricardo III no comboio das 9h24. "Vivem o palco da mesma maneira?" – Perguntamos. Inês fala de uma aprendizagem ainda enquanto performer ou cantora, "sinto que ainda me estou a conhecer, é o meu nome como artista que ali está, e quando estou em palco são as minhas canções, escrevi-as sobre a minha vida, é pessoal e ainda estou a ver até onde consigo ir". 

Raquel é uma atriz com treino e anos de estudo em escolas internacionais, "o tamanho do palco mostra-me o tamanho da peça que estou a fazer... E também não sou eu, posso esconder-me por trás de uma personagem". O que seriam capazes de fazer por amor? Inês responde rápido que "mudava de país." 

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Quatro casais, quatro histórias de amor

E Raquel pergunta: "É preciso dizer assim uma coisa que faria por amor?" (pausa) "Bom eu vou ao pão, ir ao pão de manhã é amor." Tem um dom cómico, Raquel. Muda de tom, volta a ficar séria. "A pandemia – embora nos tenha afastado fisicamente – obrigou-nos a arranjar maneiras de nos conectarmos uns aos outros. Percebemos agora que é importante alimentar o amor."

Realização de Ruben de Sá Osório

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Fotografia de Andy Dyo

Maquilhagem e Cabelos: Beatriz Texugo

Estúdio: Playground

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*Artigo originalmente publicado na revista que celebra os 35º anos da Máxima.

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