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Moda

Kozii, uma marca portuguesa made in mundo

Pensada em Portugal e produzida com tecidos e estampagens feitos na Índia, é uma marca que conta a história nómada de quem a criou e é tudo o que parece: confortável, sustentável e cool.

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12 de abril de 2021 às 07:00 Patrícia Barnabé

"Foi muito natural e orgânico", diz-nos Cecília Silva por Zoom a referir-se à vida que a levou à Kozii, mas podia estar a falar da sua próxima colecção. Aqui não existe artifício, o que nos faz respirar fundo quando olhamos para as suas peças que recusam a pretensão. Sempre viajou muito, é filha de diplomatas e criou, também ela, uma família com esse espírito aberto ao mundo. Viveu "aqui e ali com os pais na Bélgica e Estados Unidos, e estudou em Nova Orleães, São Francisco e Vancouver, onde se formou em Antropologia Cultural e Artística que, segundo ela, é quase Filosofia "porque mais do que estudar diferentes culturas, quer entender o ser humano."

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Acaba o curso em 2000 e regressa a Portugal, nesse verão vai parar ao festival Boom: "Fiquei fascinada com aquela cultura de viagem". Viaja seis meses para a Índia e leva contactos e ideias na mala: "Tinha um propósito que era fazer qualquer coisa com a população local." Neste caso, foi roupa, sempre adorou texturas, e foi uma "experiência: procurar tecidos, técnicas, escolher costureiros e quem fazer a produção." E escolheu Hampi, "um lugar muito bonito." Começa a vender o que produziu em "pequenas lojinhas de festivais e correu bem", recorda. Por isso, conforme os anos foram passando, aventurou-se por outros países e diversificou as coleções com detalhes em pele vinda da Tailândia, pedrarias do México, bordados Maias da Costa Rica e da Guatemala, e sementes dos índios Patachó, no Brasil. "A ideia era viajar, conhecer o país e descobrir materiais e pessoas que os trabalhassem bem, para depois os trazer e vender."

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E assim foi por oito anos, até sentir estar a repetir-se. Conhece o Nuno, que vem a ser o seu marido, compram uma casa em Trancoso, e mudam-se para o Brasil por três anos. Na altura, 2010, decide afastar-se um pouco da roupa e fazer um mestrado em direção e gestão de marketing na Universidade de Barcelona. Têm uma filha e mudam-se para Vila Nova de Milfontes onde abrem um restaurante que continua "a ideia de viagem", enquanto iam ver o mundo sempre que possível. Ao fim de quatro anos perceberam que a restauração e a vila alentejana não lhes estavam destinados e arriscaram mais a sul, numa cidade pela qual sempre tiveram "uma certa paixão": Tavira. Mudam-se em 2014, o ano em que nasce a Kozii. A primeira coleção chamou-se Natural Disaster: "Éramos nós, sempre a mudar!", ri-se. Compraram uma casa com jardim onde acolheram um cão que encontram no lixo e sentiram que pertenciam: "Há muitos anos que Tavira atraía gente alternativa e com uma visão de sustentabilidade, pessoas que estavam a viajar e acabaram por ficar. É uma cidade muito antiga e boémia, tem muitos artistas, é diferente do resto do Algarve". Os nómadas sedentarizaram-se? "Acho que sim, mas connosco nunca se sabe!".

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Cecília desenha a roupa e os padrões da Kozii, a impressão é o trademark, mais propriamente a técnica wax de Batik, uma estampagem de tecido à base do antiquíssimo block printing. Agora vai usando a serigrafia e gostava de experimentar o printing digital. E produzir cá? "A India é incomparável porque eles são muito abertos à experimentação, o que é muito interessante; para eles ‘tudo é possível’, estão sempre a dizer. E são milhares de anos a trabalhar uma grande quantidade de técnicas de tecelagem e estampagem e a distribui-las para o mundo inteiro. Mas não está posto de parte preparar lá os tecidos e costurar as peças cá", sublinha Cecília. Até porque faz cada vez mais sentido produzir localmente. Para as estações mais frias, ela mistura estes tecidos com as lãs portuguesas. E embora a marca tenha sempre uma coleção de inverno e uma de verão, esta tem sempre mais procura, por isso Cecília acrescenta-lhe uma coleção-cápsula. Tem naturalmente uma linha de básicos, os best-sellers, e vai introduzindo modelos novos e padrões diferentes. Agora vai lançar uma colecção à base de flor de lótus orgânico, uma só a preto e branco, Black is black, que "está muito bem conseguida", uma colorida chamada Element e a Wax nova. "Depois posso ir à India descobrir coisas novas!", ri-se.

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A Kozii é uma marca maioritariamente feminina, mas também tem camisas e calças de homem e algumas peças de criança. "Desenhámos a Kozii com esta visão que tínhamos de Tavira". E se a ideia era viver de brisa, pé descalço e duma pequena loja, foram atropelados por um "sucesso descomunal". Ao contrário da tendência, desenvolveram a venda direta e só investiram no online durante a pausa da pandemia. Têm quatro lojas, duas em Tavira, uma na Praia Verde e a mais recente em Lagos, "numa casa antiga com grande janelas e pé direito alto", inaugurada duas semanas antes do primeiro confinamento. São oito empregados fixos e são mais no verão "uma equipa espetacular". Continuam a trabalhar com a mesma fábrica, em Jaipur, no estado do Rajastão "que tem vindo a crescer connosco", e todos os anos procuram novas fábricas com novas especialidades.

O nome Kozii vem do facto do seu "valor mais ressonante ser o conforto, é o que procuramos a todos os níveis" explica Cecília. A seguir vem a sustentabilidade: "A marca começou por ser uma extensão da nossa experiência de vida e só depois nos disseram que nós éramos sustentáveis", sorri. "Agora é uma expressão over used , um carimbo, até perde um pouco o seu significado, o que me deixa irritada, mas é bom e maravilhoso que seja levado a sério. Já não estamos em tempos de pensar de outra maneira que não seja globalmente." Estavam com contactos na Austrália para tornar a Kozii internacional, "com reuniões todas as manhãs, e de repente dissemos que não. Tivemos de controlar o seu crescimento para não perder a qualidade de vida", diz. "Mas tem sido uma aventura".

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