Embaraços, gaffes e humilhações no funeral de Isabel II
Tudo foi coreografado ao pormenor e seguindo as vontades que a rainha de Inglaterra expressara há muito para o seu próprio funeral. Mas as emoções humanas escaparam ao guião e tornaram-se um acontecimento dentro das maiores exéquias de Estado do nosso tempo.
Não fosse a cobertura mediática sem precedentes e a participação de cerca de 500 chefes de Estado de todo o mundo e o funeral de Isabel II parecer-se-ia com os que acontecem em todas as famílias: meteu beijinhos e abraços mais ou menos calorosos, reencontros com a fatal afirmação "só nos vemos nestas coisas", promessas de almoços e jantares que nunca acontecem, silêncios cortantes como punhais e embaraços mal disfarçados. Mas o facto da defunta ter sido a monarca com o reinado mais longo da História do Reino Unido fez com que toda essa coreografia do luto fosse escrutinada até ao limite por jornalistas, historiadores, especialistas em linguagem corporal e em protocolo ou simples bisbilhoteiros, que, como é sabido, não é espécie em vias de extinção.
Ficámos, assim, a saber que os duques de Sussex, Harry e Meghan, continuam de costas voltadas para William e Kate, os novos príncipes de Gales. Saíram juntos para cumprimentar a multidão em Balmoral e em Londres, mas mal trocaram olhares entre si, quanto mais conversas de circunstância. Como se não bastasse, notava o jornal The Guardian, o filho mais novo de Carlos III foi "stripped of his uniform" e obrigado a usar o traje civil enquanto o irmão se apresentou fardado e condecorado. Uma espécie de humilhação, pouco subtil, aliás, a que também foi sujeito o príncipe André na sequência das acusações de abuso sexual de uma menor que lhe foram recentemente dirigidas.

Não se pense, todavia, que as cenas potencialmente explosivas se limitaram à família restrita da rainha. De Espanha, chegaram mais Borbóns do que talvez o rei Filipe VI (e de certeza o governo de Pedro Sanchez) teriam desejado, já que ao monarca e à rainha Letizia se juntaram, já no interior da abadia de Westminster, Juan Carlos e a rainha Sofia.


O protocolo sentou-os no mesmo banco e assim foram fotografados, não sem que alguém captasse o olhar fulminante que Letizia dirigia a um sogro demasiado tagarela. Uma espécie de "porque no te callas?" silencioso, mas não menos veemente. Recorde-se que os escândalos sexuais e financeiros que, nos últimos anos, envolveram o rei emérito lançavam muitas dúvidas sobre a sua participação na última homenagem a Isabel II.

Mas, por fim, o convite lá chegou de Londres, atendendo a que Juan Carlos e Sofia são aparentados com a família real britânica. O duque de Edimburgo, marido da soberana britânica, grego por nascimento, era tio em segundo grau da rainha Sofia e os quatro eram tetranetos da rainha Vitoria de Inglaterra, a quem muito justamente se chamou ainda em vida "a avó da Europa", já que tratou de casar filhos e netos um pouco por todas as casas reais do continente. Convidados todos para uma recepção privada pós-funeral, Juan Carlos declinou e Letizia escusou-se por causa da sua deslocação a Nova Iorque para um evento sobre o combate ao cancro. O alívio deve ter sido mútuo, tratando o Ministro dos Assuntos Exteriores de assegurar aos jornalistas que quem representara a Espanha neste acontecimento tinham sido Filipe, Letizia e ele próprio enquanto membro do executivo. Com tais movimentações ao nível das cabeças coroadas, só os jornais britânicos deram pela ausência não justificada da irmã da princesa de Gales, a em tempos muito celebrada Pippa Middleton, e pelo lugar modesto reservado aos enteados de Carlos III, Thomas e Laura Parker Bowles.

Mas, nesta celebração ritual da monarquia, também as Repúblicas contribuíram para o manancial de gaffes ou de atos irrefletidos como o do Presidente da França, Emanuel Macron e sua mulher, Brigitte, apupados quando decidiram imitar a família real e visitar os súbditos enlutados em torno da Abadia.

O "prémio" de pior participação vai, no entanto, para o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que, ao chegar este domingo a casa do embaixador do seu país em Londres, decidiu fazer ali mesmo um comício com os simpatizantes que o esperavam. Chocados, os jornais britânicos notaram que Bolsonaro "aproveitou para fazer um discurso de campanha, apesar do momento de luto". Mas talvez não se esperasse melhor dum político que, segundo o jornal francês La Croix, foi resgatado à última hora duma lista de indesejáveis para o Foreign Office, em que figuravam nomes como os de Putin ou Erdogan.


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