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Beleza / Wellness

É possível melhorar a performance do cérebro? Em 8 semanas, diz esta autora

Escreveu "Cérebro Eficiente", um guia fundamental com exercícios e explicações médicas para treinar a memória, o foco e a velocidade mental. Conversámos com a psicóloga Sandra de Carvalho Martins.

Foto: Pexels
02 de julho de 2022 às 07:00 Rita Silva Avelar

Como surge a ideia de escrever este livro? Como psicóloga, o cérebro sempre a interessou de maneira particular?

Sempre me interessou a forma como o funcionamento cognitivo tem impacto na nossa vida diária. Conhecer as vantagens que as capacidades que aprimoramos proporcionam ao nosso dia a dia e os prejuízos que decorrem das capacidades que não exploramos. Este funcionamento cognitivo decorre no cérebro, pelo que otimizar o seu funcionamento ajuda-nos de várias formas. É esta a relação que sempre me apaixonou: cérebro – cognição – comportamento.

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Ainda há a ideia que o cérebro degenera como um processo irreversível?

Este é um mito que se encontra bastante difundido. Se, por um lado, hoje sabemos que o cérebro tem plasticidade e não é inevitável a sua degeneração, por outro ainda não adotamos comportamentos que se coadunem com esta descoberta. Continuamos a não tirar proveito dos fatores que estão sob o nosso controlo e que preservam o bom funcionamento do cérebro: a alimentação equilibrada, a prática de exercício físico, os bons hábitos de sono e o envolvimento em atividades cognitivamente estimulantes.

Como chegou a este plano de 8 semanas?

Este resulta de três ingredientes: o conhecimento dos diferentes domínios cognitivos, a resolução de muitos exercícios numa pesquisa feita em dezenas de livros e, acima de tudo, uma boa dose de criatividade.

Foto: DR

Quais são os piores inimigos do bom funcionamento do cérebro, porquê?

Os piores inimigos, isto é, aquilo que pode contribuir para uma maior probabilidade de comprometimento cognitivo ou demência, são: os maus hábitos alimentares, o excesso de peso e a obesidade; a ansiedade, o stress e a depressão; a doença vascular e hipertensão; o sedentarismo e o isolamento social; e os baixos níveis de atividade mental complexa ao longo da vida ou de estimulação no início da vida.

E os maiores aliados?

No que diz respeito aos maiores aliados, temos o estilo de vida saudável e estimulante, funções profissionais e atividades de lazer complexas e o gosto pela aprendizagem. Estes proporcionarão que a nossa reserva cognitiva saia reforçada, tornando-nos mais protegidos contra o risco de vir a desenvolver demência. A reserva cognitiva funciona como uma espécie de caminhos alternativos de que o cérebro dispõe para atingir um determinado objetivo. Quantos mais caminhos formos construindo ao longo da nossa vida, mais alternativas temos no caso de um desses caminhos sofrer um dano.

Foto: DR

Que pequenas coisas podemos implementar no nosso dia a dia?

Podemos sempre melhorar o nosso funcionamento cognitivo com atividades desafiantes: aprender um novo idioma ou algo que nos fascina, viajar para novos lugares e usar novas rotas em ambientes conhecidos, tocar um instrumento musical, juntar-se a um clube ou grupo para conhecer pessoas e fazer amigos, envolver-se em debates de troca de ideias, ouvir músicas novas, dedicar-se a atividades artísticas, jogar jogos de tabuleiro, ler livros que o façam refletir, escrever o que lhe aprouver e fazer diariamente exercícios de treino cognitivo (como os do livro "Cérebro Eficiente"). Há muitas formas de desafiar o cérebro, só é preciso selecionar as que são do nosso agrado, diversificá-las e desafiar-se.

Como treinar a velocidade mental quando se tem pouco tempo, por exemplo, para fazer uma conta de cabeça?

É por termos pouco tempo que a velocidade de processamento é tão importante. Uma conta de cabeça pode ser mais demorada do que uma conta de calculadora se não estivermos habituados a fazer contas de cabeça, mas se estivermos muito habituados pode ser mais rápido do que pegar na calculadora, digitar os números e fazer o cálculo. A velocidade de processamento refere-se à velocidade com que as atividades cognitivas são realizadas, bem como a velocidade das respostas motoras face aos estímulos que recebemos. A velocidade de processamento tem influência em todos os domínios cognitivos, pois é a velocidade com que conseguimos responder a uma dada situação. Quando exercitamos qualquer capacidade cognitiva poderemos obter melhorias que se refletem na velocidade de processamento, que nos permite poupar tempo.

Foto: DR

As redes sociais e a tecnologia vieram prejudicar o funcionamento do cérebro, ou pelo contrário?

Como uma boa parte das coisas na vida, se exageramos em algo, podemos estar a prejudicar-nos. As redes sociais são um ótimo veículo para estarmos a par do que vai acontecendo ao nosso redor, mas isso não substitui a importância de nos relacionarmos presencialmente com os nossos amigos, familiares e colegas de trabalho. A interação presencial estimula o nosso cérebro de formas diferentes, desde tentarmos compreender o que o outro nos está a explicar no momento em vez de o fazer em diferido, interpretar o tom da voz, apreciar as expressões faciais e os gestos de uma conversação, tudo isso estimula-nos beneficamente de forma diferente daquela que se obtém pela via digital.

A tecnologia, a internet, o modo como hoje em dia rapidamente obtemos informação, é também uma excelente forma de nos estimularmos, de procurarmos coisas novas ou assuntos relacionados com algo que ouvimos ou lemos. Contudo, não devemos alhear-nos do mundo, devemos sim encontrar um equilíbrio saudável entre todas as ferramentas de estímulo que temos ao nosso dispor.

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