O nosso website armazena cookies no seu equipamento que são utilizados para assegurar funcionalidades que lhe permitem uma melhor experiência de navegação e utilização. Ao prosseguir com a navegação está a consentir a sua utilização. Para saber mais sobre cookies ou para os desativar consulte a Politica de Cookies Medialivre
Atual

Todas as coisas maravilhosas

“Pensei como seria diferente uma lista criada por mim aos 8 anos ou agora; ou talvez não.”

Foto: IMDb
01 de janeiro de 2021 às 08:00 Cláudia Lucas Chéu

Há semanas, depois de assistir à comovente interpretação do actor Ivo Canelas, no monólogo Todas As Coisas Maravilhosas, de Duncan Macmillan, senti que devia plagiar o mote e começar a fazer a minha lista. Já se sabe que Dezembro e Janeiro, mesmo num ano bizarro como este que estamos a viver, são sempre meses de balanço em que tentamos organizar mentalmente, por listas ou não, o que fizemos e o que faremos. Pensei que, tal como sucede no texto do monólogo, quando somos miúdos é mesmo fácil indicarmos milhentas coisas maravilhosas, até porque ainda não nos apercebemos nem vivemos uma data de coisas feias e perigosas com que somos confrontados mais tarde na vida. Pensei como seria diferente uma lista criada por mim aos 8 anos ou agora; ou talvez não. Então, aqui vai – 10 coisas maravilhosas que desejo em 2021: 

  1. Rir acompanhada, de preferência até me doer a barriga e/ou me faltar o ar (também estaria na minha lista aos 8 anos).
  2. Nadar nua no mar (também na lista dos 8 anos).
  3. Andar de bicicleta (provavelmente a primeira da lista aos 8 anos).
  4. Abraçar (idem aos 8 anos, mas referindo-me ao meu cão).
  5. Comer cenas à mão (idem aos 8 anos).
  6. Fazer sexo com alguém que amamos (esta não, claro, o sexo metia-me nojo).
  7. Descobrir sítios novos (idem aos 8 anos, fosse uma rua a um quilómetro da casa dos meus pais ou uma cidade no outro lado do planeta).
  8. Conduzir sozinha sem destino, a ouvir alto As Variações de Goldberg de Bach (aos 8 preferia ouvir rádio em cima do telhado dos meus pais, mas a música também estava lá).
  9. Ajudar alguém, mesmo numa coisa pequena como baixar-se para apanhar algo que caiu (fui escuteira aos 8 anos, o instinto já lá estava).
  10. Gostar do mundo e das pessoas; chega de tanto sarcasmo e misantropia. Ter noção do privilégio de poder assistir ao momento irrepetível de uma folha que cai da árvore, ou ao nascimento de alguém (em pequena gostava de quase tudo e nunca me queixava do que não gostasse).

É surpreendente fazer este exercício e descobrir que não há praticamente alterações de gosto da infância até agora. E fiz este exercício também na esperança de inspirar quem me lesse a fazer o mesmo, a criar a sua lista de coisas maravilhosas. Não é uma lista de objectivos, disso estamos fartos e não nos ajuda, mas um inventário de coisas lindas, que nos animam. Como aconteceu comigo depois de ver o tal espectáculo, queria que acontecesse convosco. Acredito que é preciso encontrar beleza e alegria nas pequenas coisas e que, muitas vezes, é uma escolha decidir onde colocamos os nossos olhos — nos picos do cacto ou na sua flor.

*A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.

*A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.

Leia também

A alegria de viver na bolha

"Esta crónica é dedicada à alegria de não se ser conhecido por absolutamente mais ninguém para além dos que realmente nos conhecem."

Faz de conta que as cidades são cidades

Começámos a reparar no vizinho de cima a puxar a expetoração, na vizinha da frente que gosta de caril com bastante regularidade e na velhota do rés-do-chão que talvez tenha desistido de limpar a areia dos gatos.

O tempo é relativo, excepto para as rugas

"Tivesse eu dinheiro suficiente e a certeza de que voltaria a ficar como antes, sem correr o risco de correr mal e de tornar a cara um bolo com excesso de fermento, ia a uma clínica fazer uso das borrachinhas do tempo e apagava-as."

A miúda debaixo da mesa

"Nos sonhos tudo é espelho, tudo aquilo que vemos somos nós, por isso, sonhar com um dos filhos em perigo é tentar salvar a nossa criança."

As Mais Lidas