O nosso website armazena cookies no seu equipamento que são utilizados para assegurar funcionalidades que lhe permitem uma melhor experiência de navegação e utilização. Ao prosseguir com a navegação está a consentir a sua utilização. Para saber mais sobre cookies ou para os desativar consulte a Politica de Cookies Medialivre
Moda / Tendências

Manolo Blahnik, designer de sapatos da realeza: “Acho os ténis uma coisa horrenda”

O lendário designer de sapatos fala da princesa Diana, dos influencers e da razão por que adora vestir mulheres mais velhas.

Foto: Getty Images
26 de novembro de 2021 às 08:40 Máxima

Os sapatos que cria, adorados por toda a agente, desde membros da realeza a políticos e a estrelas de reality shows da TV, poderão até ser afetuosamente conhecidos por "Manolos", mas só há realmente uma maneira de dirigir palavra ao génio por trás de tais criações: sr. Blahnik. É o título usado por todos quantos trabalham com ele e que condensa um charme de velha guarda, a criatividade excêntrica e o romantismo que ele personifica como nenhum outro designer vivo.

Aos 78 anos, e assinalando 50 no negócio da criação de sapatos lindos, o sr. Blahnik é tão absolutamente ele próprio como sempre, intocado por delicadezas modernas de quem assinala caixinhas em listas de RP.

Por exemplo, apesar de ter criado algumas das peças de calçado mais emblemáticas do último meio século, retrai-se perante a ideia de se curvar às tendências. "Às vezes vejo sapatos que são tão hediondos, que me pergunto se sou eu que estou dessincronizado", diz-me ele, a partir de sua casa na ilha espanhola de La Palma, onde está rodeado pelos seus 17 labradores, incluindo a matriarca da ninhada, Apollonia. "E penso: ‘Já vi estes sapatos para aí umas quatro vezes ao longo da minha carreira’", continua ele, "e nunca tive a tentação de fazer tal coisa ou de estar em voga".

É por esta razão que nunca o encontraremos a conceber ténis. "Se é isso que as pessoas querem, então OK, ótimo", suspira ele, "mas, visualmente, acho-os uma coisa horrenda. Gosto que a extremidade final do corpo seja leve e que esteja maravilhosamente trajada, não com aquelas coisas pesadonas".

Manolo-Blahnik jpg
Manolo-Blahnik jpg Foto: Getty Images

O sr. Blahnik, cujo negócio continua a ser propriedade privada e tem sido gerido em conjunto com a sua sobrinha Kristina como CEO desde 2013, também não é pessoa para elogiar profusamente a celebridade du jour, apesar do facto de ser provável que os pés dela estejam calçados com Manolos. "Não sei os nomes de todas aquelas raparigas. Já não reparo em miúdas novas, hoje em dia", diz ele com indiferença. Não tem vagar para "todas aquelas raparigas que perdem tempo como influencers: é meio horrível. Talvez esta pandemia venha alterar isto?", interroga ele, esperançado.

Em vez disso, o mundo do sr. Blahnik é um refúgio rarefeito, onde a Netflix e o Zoom estão interditos (ele diz que não se dedicou a perder horas na plataforma durante a pandemia) e as recordações dos "espontâneos" anos 1970, quando ele estava apenas a começar, e das mulheres sofisticadas que foi conhecendo pelo caminho, são permitidas.

Nascido em La Palma em 1942, o sr. Blahnik frequentou um colégio interno na Suíça. Depois começou por fazer o curso de estudos políticos e direito na universidade, mas depressa acabou por seguir o canto da sereia da criatividade, mudando-se primeiro para Paris e depois Londres, onde ficou cada vez mais imerso na Moda.

"Foi a sra. Vreeland quem realmente começou tudo: ela disse-me que eu tinha um talento incrível", recorda ele acerca do encontro com a lendária editora da Vogue, Diana Vreeland, que o encorajou a iniciar o seu próprio negócio, o que ele fez em 1971. "Levei anos a aprender o meu ofício", diz ele. "Foi tudo muito casual, de início, eu não fazia a mínima ideia de coisa nenhuma.

As pessoas costumavam ficar a tarde inteira só a conversar na minha pequena lojinha". E por pessoas ele que dizer gente como Bianca Jagger e Grace Coddington, possivelmente as influencers do seu tempo, embora provavelmente com um maior foco na aventura do que nos algoritmos – Jagger levava uns Manolos calçados quando entrou montada a cavalo no Studio 54.

Foto: Getty Images

Em breve, o visual Manolo virou global e ele tornou-se uma estrela na América (isto foi muito antes de O Sexo e a Cidade, a série que fez dele um nome quotidiano em todos os lares, ser sequer um lampejo no olhar da HBO), onde as pessoas faziam filas durante horas a fio só para o conhecerem. Em Atlanta, ele lembra-se de uma mulher que lhe pediu para autografar a perna e que voltou várias horas mais tarde para lhe mostrar com orgulho a tatuagem com a tinta ainda fresca do seu autógrafo. "A América é tão extraordinária, tão estranha e divertida", diz rindo-se.

Hoje, as duquesas de Sussex e de Cambridge têm ambas consideráveis coleções de sapatos de salto Manolo Blahnik nos seus guarda-roupas, mas foi a sua falecida sogra quem usou Manolos perante o olhar público ao longo de toda a sua vida, mas talvez de forma mais célebre na noite em que estreou os seu "vestido da vingança", em 1994, o qual o sr. Blahnik admira especialmente. "A princesa de Gales estava divina. Ela estaria agora na casa dos 60 anos e eu sinto umas saudades dela tremendas. Poderíamos ainda ter uma princesa linda", diz ele nostalgicamente.

Foto: Getty Images

Ele sente igual admiração por Carolyn Bessette Kennedy. "Ela casou-se com o filho do sr. Onassis e depois ambos morreram num avião. Era linda, tão elegante. Podia ter sido filha de Carolina Herrera. Tinha umas camisas brancas da Gap que usava com saias compridas."

Em vez de andar obcecado com a jovenzinha mais brilhante do momento, o sr. Blahnik reserva os seus louvores para "senhoras de uma certa idade, são as minhas favoritas. As miúdas novas nunca vão ter comparação possível com aquelas outras mais velhas". Anna Wintour, de 72 anos e uma devota de há longa data de Manolo, poderá ficar encantada ao ouvir isso. "Eu adoooooro a Amanda Harlech: ela ainda pertence ao derradeiro bastião do estilo", arrulha o sr. Blahnik. "Adoro os ingleses assim, desta maneira: têm uma loucura incrível, mas sabem vestir-se maravilhosamente".

O mais famoso design do sr. Blahnik é, possivelmente, o dos Hangisi, a criação de salto alto forrada a cetim e adornada com uma fivela de cristais que foi imortalizada pelo primeiro filme de O Sexo e a Cidade, quando o Sr. Big pede Carrie em casamento com um par de sapatos em vez de um anel de noivado. A série transformou os seus designs em clássicos de culto para a geração moderna de amantes de sapatos.

Foto: Getty Images

Sarah Jessica Parker até foi fotografada a usar os Hangisi nos cenários do reboot da série, intitulado And Just Like That, mas o sr. Blahnik prefere concentrar-se em estilos menos conhecidos.

"Quando eu era novo, fiquei muito apaixonado por uns sapatos que fiz para a Ossie Clark que eram verdes e tinham cerejas e hera trepadeira a subir pela perna acima", explica ele. "A razão por que gostei tanto daqueles sapatos foi porque eram divertidos e tipificavam os tempos da altura. Anos mais tarde, fins uns sapatos chamados Tortura, que eu adorei porque foram os últimos que pude fazer com coral siciliano – depois disso passou a ser proibido colher coral porque estavam em extinção."

Foto: https://www.manoloblahnik.com/

Para celebrar o seu 50º aniversário, não haverá uma enorme e faustosa festa, cheia de mulheres calçadas com Manolos – "Uma celebração, com esta pandemia em curso? Isso seria obsceno, não seria responsável", exclama ele –, mas todos aqueles que estão a preparar-se para a quadra festiva que aí vem, há uma fabulosa nova coleção de sapatos completamente dourados (o sr. Blahnik adora os Rayuelas, mesmo apesar de serem rasos) e uma nova experiência virtual para descobrir – The Manolo Blahnik Archives: "A New Way of Walking" [Os Arquivos Manolo Blahnik: "Uma Nova Forma de Caminhar"] –, que nos levará para o mundo de Manolo, através de "salas" cheias de esboços, extratos e fotografias. Está muito bem feito", diz o sr. Blahnik acerca do projeto, que foi supervisionado pela curadora de Moda Judith Clark.

Não que este marco histórico deva ser visto como um sinal de que o sr. Blahnik esteja a planear tão cedo começar a levar as coisas a um ritmo mais lento. "Nunca trabalhei tanto na minha vida", exclama ele. "Tenho andado a fazer milhares de sapatos. Só Deus sabe se eles vão vender." Algo me diz que talvez possam vender bem.

Bethan Holt/The Telegraph/Atlântico Press

Tradução: Adelaide Cabral

Foto: Getty Images
Leia também
As Mais Lidas