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Moda / Tendências

Filipa de Abreu x Tavares: joias para guardar

A ourivesaria centenária desafiou a consultora e criativa a curadoria de uma coleção, interpretada a partir das peças tradicionais e antigas de arquivo da Tavares. Uma homenagem à família e ao ouro popular.

Foto: DR
24 de novembro de 2023 às 07:00 Máxima

"Nunca foram só joias", as palavras da família Tavares são fortes e permanecem, um ano depois do evento comemorativo dos 100 anos da empresa familiar de ourives da Póvoa do Varzim, no Hotel Lapa Palace, em Lisboa. Filipa de Abreu, consultora de moda e interiores, também esteve presente e dali saiu uma bonita amizade, mas não só – foi feito um convite.

Desta feita, o encontro é no Palácio de Santa Catarina, local eleito para o lançamento da coleção Joias com História de Filipa de Abreu com a Tavares. "Conhecemo-nos e encontrámos logo pontos em comum", desvenda Carlos Tavares, sócio-gerente da ourivesaria Tavares, à frente do negócio juntamente com a irmã Ana. "Senti que a Filipa era uma apaixonada por Portugal, pelas nossas tradições e pela origem dos produtos portugueses". O processo criativo começou com a visita de Filipa ao arquivo pessoal da Tavares, para conhecer todas as peças da coleção privada da família. "O nosso pai gostava muito de colecionismo. Colecionava moedas, caixas de fósforos antigas, prata e o ouro popular sempre foi uma paixão [que nos passou] por todas as histórias que estão associadas a cada peça. Pelo aforro, pela beleza, pela ostentação", desvenda Ana com o irmão a seu lado a completar, "adorava joias antigas que comprava, restaurava e guardava, não as comercializava. Algumas são peças únicas, outras nunca foram vistas.". É uma homenagem impregnada de sentimento, percebemos. A coleção criada e cuidada por Miguel Tavares apresenta-se agora numa reprodução exclusiva, mais contemporânea, a promover a ourivesaria tradicional portuguesa.

Foto: DR

"Quando a Filipa conheceu a nossa coleção, interpretou as nossas peças de uma forma completamente diferente daquela a que estava habituado e isso foi fascinante", declara Carlos em comunicado oficial, considerando-o mesmo um marco na história da Tavares.

Já a consultora e criativa, que nasceu em Amarante, e cedo partiu com a família para Inglaterra onde se formou em Literatura, também viveu em Espanha, na Suíça e na Grécia. "De cinco em cinco anos mudávamos de país", confessou, contando que mais tarde passou por Los Angeles já grávida (tem três filhos) e durante um período se dividiu por motivos profissionais entre Nova Iorque, Nova Deli e Portugal. Talvez por este incomum background internacional seja tão peremptória na assunção de que os portugueses têm uma grande dificuldade se valorizar, e consequentemente promover o que têm de melhor e que é tanto. Com a coleção Joias com História procurou reverter um pouco isso. "Tentei utilizar o que já temos, que é tão bonito e tão único – e que geralmente só via em fotografias, pessoas mais velhas ou mesmo grupos etnográficos - e puxar para uma narrativa mais moderna e atual, verdadeira, realista". 

Foto: DR

A proposta passou por redesenhar e transformar a coleção original, através de uma redução em escala, de dimensões e pesos, para que pudesse ser usada diariamente, com jeans e uma t-shirt, por exemplo. Naquela quinta-feira de manhã, num look total preto, Filipa de Abreu já estava a usar algumas das peças que nos apresentava e com as quais fotografou a campanha Tavares. Um favorito? "Todas são preferidas, as argolas [Legado] uso todos os dias, já fazem parte do meu ADN", confessa entre risos.

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O ouro e a ourivesaria tradicional, associados no passado essencialmente a três motivos – fé e devoção; ostentação e estatuto social e poupança ou aforro -, como nos explicam os irmãos, revelam-se em peças tão tradicionais como as gramalheiras (medalhões ornamentados), as argolas carniceiras, o coração minhoto ou a tradicional medalha borboleta.

Mais do que um negócio com forte legado afetivo, a Tavares – família e ourivesaria –são uma só, é fácil percebê-lo ao ouvir Carlos e Ana, a terceira geração. Após a comemoração 100º aniversário, o propósito de perpetuar esta dupla história portuguesa intensificou-se. A fachada da Tavares foi totalmente renovada – um deleite para os transeuntes da famosa pedonal que a acolhe – e para manter a tradição viva, lançaram um profundo manuscrito a honrar a arte do saber-fazer. Querem chegar um público mais jovem, que não se interessaria espontaneamente pelo ouro popular português ou daria atenção a outros símbolos nacionais como a técnica filigrana e por isso apostam agora numa colaboração em tom de desafio.

Foto: DR

Para além da icónica loja – que também é oficina, atelier e arquivo – no número 54 da Rua da Junqueira, na Póvoa do Varzim, e que poderá visitar e regozijar-se em histórias e aprendizagens sobre a joalharia antiga e contemporânea de Portugal, a Casa lançou recentemente um catálogo digital, no seu site oficial. No caso da coleção com Filipa de Abreu, disponível em ambos os locais, 13 joias estão prontas para entrega até duas semanas e quatro peças mais detalhadas e trabalhadas deverão ser pedidas por encomenda, podendo a produção prolongar até dois meses.

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