Paris de Gabrielle ‘Coco’ Chanel: antes e hoje
Recuámos no tempo para descobrir os espaços e lugares preferidos de uma das criadoras mais relevantes da história da Moda – mas também quisemos imaginar onde iria Gabrielle Chanel agora. Este é um novo roteiro de Paris, à medida da sua criatividade e glamour.

Quinze anos depois do lançamento de Chance, o icónico perfume feminino da Chanel, Olivier Polge (o nez da casa, que ocupou o lugar depois da saída do seu pai, Jacques Polge) criou um perfume inspirado em Gabrielle Chanel. Quis pensar como seria a criadora hoje – era uma mulher à frente do tempo nos anos 30 e continuaria a sê-lo agora. O que vestiria? Que perfume usava? Se estas perguntas despertaram a curiosidade de Olivier Polge (e as respostas que imaginou acabaram por o inspirar), nós procurámos adivinhar os seus lugares preferidos: onde iria hoje às compras ou sair para se divertir? Viajamos pela história de Gabrielle e traçámos um novo roteiro – esta é a cidade de Coco Chanel, em 2017.

Um almoço em Paris
A casa de chá parisiense Angelina abriu portas em 1903 pela mão de Antoine Rumpelmayer, que pediu ao conhecido arquiteto Edouard-Jean Niermans que desenhasse o espaço, profundamente influenciado pela Belle Epoque e intocado até hoje. Se recuássemos no tempo, à Paris da primeira metade do século XX, o mais provável era encontrar ali Proust ou Coco Chanel, que tinha uma mesa sempre reservada em seu nome.
A casa e o ateliê

O número 31 da Rue Cambon tornou-se um dos lugares mais importantes para Chanel – o primeiro piso era ocupado pela sua loja, onde também eram apresentadas as coleções (conta-se que Gabrielle Chanel gostava de se esconder entre as escadas e espreitar a reação dos clientes). No segundo, a designer criou um showroom e, no último, o seu apartamento.
A decoração da casa (que pouco mudou desde a sua morte em 1971) em nada se aproxima do universo estético que sempre marcou as suas criações. Chanel foi uma pioneira na moda e, ainda que de uma modernidade surpreendente, as suas criações preferiam as tonalidades neutras, as silhuetas clássicas, a sofisticação como ponto de partida para a construção de uma imagem forte, que nunca quis explorar a excentricidade. As paredes do seu apartamento contam outras histórias – são forradas com livros, fotografias e obras de arte.
Visualmente, a casa transborda informação, influências e referências e os seus objetos estão exatamente nos lugares onde a designer os queria, desde as peças em ouro ao leão, à (icónica) camélia e uma surpreendente coleção de joalharia.

Naturalmente, a maison definiu que seria aqui a sua sede: é ainda no número 31 que Karl Lagerfeld tem o seu escritório, apesar de ter expandido a presença da marca na icónica avenida, acumulando casas que pertencem agora ao império Chanel.
O hotel de sempre

Desde 1937 que uma suite do Ritz de Paris era a sua segunda casa. Era aqui que a criadora dormia e vivia a maior parte do tempo, já que a sua casa na Rue Cambon era o lugar preferido para as festas que organizava, mas também para receber os seus amigos e clientes mais importantes.
Gabrielle Chanel decorou o interior do quarto de hotel com objetos da sua casa e adornou as paredes com poemas de Jean Cocteau e os exóticos biombos Coromandel, peças de que gostava especialmente.
O hotel (que também foi recentemente renovado) manteve a suite de Chanel e os seus objetos, mas modernizou o espaço: pintou-o de preto e branco e redecorou-o com imagens da designer. Durante o tempo em que viveu no Ritz da Place Vendôme, Gabrielle Chanel tinha combinado uma renda fixa com o hotel – hoje (e por sua causa) teria de pagar quase 13 mil euros por noite para ali dormir.
O roteiro de cultura
A criadora sempre se inspirou na cultura, chegando mesmo a apoiar artistas financeiramente, como aconteceu com Igor Stravinsky, por exemplo. O teatro dos Champs Élysées, na Avenue Montaigne, era um dos seus lugares preferidos em Paris – era aqui que Chanel assistia a peças e bailados, para os quais chegou a desenhar figurinos. Esta casa das artes performativas continua a ser uma referência hoje e é particularmente conhecida pelas óperas que acontecem aqui três vezes por ano.

Paris de agora
Hoje, imaginamos Gabrielle Chanel a sair da sua suite no Ritz para espreitar a agitação que se vive em Paris. A atravessar a Place Honoré para se perder na livraria Colette, que se mantém tão relevante como no seu tempo. Depois, seguiria pelas arcadas do Palais Royal (onde em tempos viveu o seu amigo Jean Cocteau) até à maison Kitsuné ou às compras na loja de Pierre Hardy, onde provavelmente compraria um novo par de sapatos. Passava pelo antiquário do Louvre e seguia em direção à impressionante Cour Carrée, talvez para beber um copo de vinho no Fumoir. Depois atravessava a Pont des Arts, passeava pela Rue de Verneuil e visitava a casa onde morreu Serge Gainsbourg. Acabava a noite a jantar na Brasserie Lipp, até voltar para a sua casa na Rue Cambon e ajudar Virginie Viard, a atual diretora criativa a desenhar a próxima coleção Métier de Arts, inspirada na sua própria vida e nos lugares mais icónicos associados à casa que fundou.

