É oficial: Hollywood está praticamente sem atores e as consequências estão aí
Pela primeira vez desde 1960, atores e guionistas aderem a uma paralisação histórica. Até a cerimónia dos Emmys já teve de ser adiada para data incerta. Esta e outras consequências na indústria.
A meca do Cinema está quase sem atores e guionistas, pelo menos nos próximos tempos. A ameaça já tinha sido feitae há duas semanas aconteceu mesmo. Dezenas de filmes e séries que deveriam alimentar a indústria nos próximos tempos entraram em pausa no dia 14 de Julho. São milhares os atores que estão unidos e que se têm juntado às manifestações de rua.
Festivais cruciais, como o de Veneza, que costuma acontecer no final de agosto e início de setembro, estreias de grandes filmes como Oppenheimer ou Barbie, e séries que já estavam a "sobreviver" sem guionistas (em greve desde 1 de maio) ficam agora sem estrelas e intérpretes. Os espectadores vão, entretanto, começar a sentir as consequências.
São muitos os rostos conhecidos que se têm juntado às manifestações. É o caso do ator Colin Farrell.
Foto: Getty Images
Os atores não aparecerão em filmes, nem na promoção dos mesmos, filmes em produção, incluindo as sequelas de Avatare Gladiador, podem vir a ser afetados, assim como as próximas temporadas das séries Stranger Things, Family Guy e Os Simpsons. Também as cerimónias de prémios ligadas ao Cinema e televisão como os Óscares poderão vir a sofrer alterações devido a esta greve. Os Emmys foram agora adiados, algo que não acontecia desde os ataques terroristas de 11 de setembro em 2001. Costumava acontecer sempre em setembro, mas não estea ano. Ainda não é conhecida uma data oficial, mas será anunciada em breve.
As negociações para um novo contrato com estúdios e gigantes do streaming foram interrompidas, com o Screen Actors Guild (SAG, sindicato que representa mais de 120 mil atores dos EUA) a acusar a Alliance of Motion Picture and Television Producers(AMPTP, associação comercial que representa mais de 350 empresas de produção de televisão e cinema dos EUA) de "não querer oferecer um acordo justo". Cerca de 160 mil artistas pararam de trabalhar, juntando-se aos 11 500 membros do Writers Guild of America (WGA). Basicamente, pedem melhores salários, aumento de royalties, maiores contribuições para os seus planos de pensão e saúde e salvaguardas no uso de Inteligência Artificial (IA) na indústria.
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As manifestações somam-se e têm recebido o apoio de algumas das maiores celebridades do cinema e da televisão, incluindo as estrelas do filme de Oppenheimer, que abandonaram a red carpet na noite da estreia em Londres. Quer os argumentistas, quer os atores, reclamam que ganham muito menos dinheiro do que costumavam ganhar e que os contratos foram minados pela inflação.
Matt Damon, Emily Blunt, Cillian Murphy e Florence Pugh na estreia do filme "Oppenheimer" em Londres.
Foto: Getty Images
No caso dos atores, o pagamento por papéis individuais diminuiu, forçando-os a procurar vários outros papéis para ganhar a mesma quantia de dinheiro de alguns anos atrás. Por outro lado, os contratos de escrita tornaram-se mais curtos e incertos, com o pagamento muitas vezes não incluído no trabalho dos escritores em revisões ou no caso de novo material.
Tudo isto pode parecer-nos estranho, tendo em conta que sabemos que os atores de Hollywood por norma ganham bem, mas o que sucede devido a todas estas alterações provocadas pelas plataformas de streaming é bem diferente. Consta, por exemplo, que a atriz da série This is Us, Mandy Moore, recebeu 73 cêntimos pela exibição da série na plataforma Hulu. Numa entrevista ao Hollywood Reporter, a atriz que ficou conhecida por dar vida à personagem Rebecca Pearson, garante que os rendimentos que tem recebido depois dos direitos da série terem sido vendidos são muito baixos.
A atriz Mandy Moore ("This is Us") na manifestação de Los Angeles.
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Entretanto, os atores representados pelo sindicato irmão do SAG no Reino Unido - Equity - devem continuar a trabalhar normalmente, devido às leis trabalhistas do país. Isso inclui as estrelas da série House of the Dragon, da HBO, por exemplo. Poderá haver a possibilidade de transferir as produções americanas para o Reino Unido, mas para já, isso está fora de questão
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A última greve dos atores, em 1980, durou 10 semanas. Há quem diga que esta vai estender-se até 2024. E com a perspetiva de que a greve possa durar meses, os cinemas podem enfrentar problemas e os espectadores podem ficar sem nada de novo para assistir nos tempos mais próximos.
Nova Iorque não está imune às manifestações.
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