Uma novela gráfica dedicada à sexualidade feminina
Com um olhar atento e mordaz, a artista sueca Liv Strömquist expõe, na novela gráfica ‘O Fruto Proibido - Uma História Cultural da Vulva’, as mais diversas tentativas de domar, limitar e padronizar o sexo feminino ao longo da História. Acaba de ser publicada em Portugal e é tão divertida como acutilante.

A maionese não liga, os bolos não crescem, os banhos não são recomendados e a ida à praia, uma loucura. Durante séculos, as mulheres passaram às filhas uma lista de atividades a evitar durante a menstruação, essa fatalidade biológica de que nunca se devia falar a não ser em surdina. Sem qualquer fundamento científico, preceitos como estes fazem parte do conjunto de mitos culturalmente construídos abordados pela sueca Liv Strömquist na novela gráfica O Fruto Proibido - Uma História Cultural da Vulva, publicada em Portugal pela Bertrand.


Do mesmo modo, Liv demonstra que, século após século, todos os discursos sobre o corpo e a sexualidade feminina foram invariavelmente produzidos por homens, de Santo Agostinho à Inquisição, de Jean-Paul Sartre a Sigmund Freud, com consequências devastadoras na saúde e direitos das mulheres. Exemplo disso mesmo são os mitos construídos, ao longo dos séculos, em torno do prazer sexual feminino e do orgasmo. Liv colige algumas dessas afirmações repetidas mil e uma vezes por peritos médicos, autoridades de saúde e organizações várias: "As mulheres não desejam necessariamente ter um orgasmo cada vez que têm relações sexuais. Por vezes, elas querem apenas sentir o homem dentro de si, sentir proximidade e carinho" ou então: "Para algumas mulheres, ter prazer sexual não é o mesmo que ter um orgasmo, porque para elas esse prazer é maior do que o do orgasmo." A que se deve esta diferenciação? Porque é que as narrativas da sociedade sobre o orgasmo feminino e sobre o orgasmo masculino são diferentes - o primeiro é difícil de atingir, e não necessariamente importante para a mulher, enquanto o masculino é demasiado fácil de atingir e muito desejado pelo homem? E, no entanto, mostra Liv, nem sempre foi assim. Antes do movimento das Luzes, no século XVIII, não havia diferenciação de abordagem e considerava-se mesmo que o orgasmo era fundamental para que a mulher engravidasse. Não faltavam, pois, os manuais de parteiras, médicos e outros especialistas encartados ou não sobre o assunto. É o caso de A Obra-prima de Aristóteles, publicado em 1689, em que, entre outras afirmações, se postulava: "Sem orgasmo, o belo sexo nunca desejará o amplexo conjugal nem terá nele prazer, nem dele derivará a gravidez."


Na tradição de cartunistas como Art Spiegelman (Maus) ou Marjane Satrapi (Persépolis), Liv Strömquist usa a novela gráfica como meio para expor, de uma forma sarcástica mas bem documentada, verdades desconfortáveis e colocar perguntas incómodas. Porque é que a vagina e toda a anatomia ginecológica feminina são tabu na sociedade? Porque é que a menstruação é estigmatizada na nossa cultura quando costumava ser algo sagrado para outros povos e épocas? Porque é que a sexualidade feminina é tão vigiada, punida e politizada? Com um olhar atento e mordaz, a artista sueca expõe as mais diversas tentativas de domar, limitar e padronizar o sexo feminino ao longo da História, que, após séculos e séculos de repressão sexual, continuam a encher as nossas cabeças com falsas conceções sobre os genitais femininos.

Ativista, podcaster e cartunista, Liv Strömquist teve o primeiro êxito com Hundred Percent Fat (2005), seguindo-se Eistein’s Wife (2008) e Prince Charle’s Feelings (2010). Em setembro próximo, publicará uma nova novela gráfica, de título igualmente promissor: The Reddest Rose: Romantic Love from the Ancient Greeks to Reality TV.

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