Aveline de Bruin, a curadora de arte holandesa que está a agitar o Alentejo interior
A propósito da exposição coletiva Echoes of Our Stories, em exibição no Centro de Arte Quetzal, em Vila de Frades, conversámos com a diretora fundadora deste ponto de encontro para amantes de Arte e boa comida.

Em Vila de Frades, na fronteira com o Alto Alentejo – separada pela belíssima Serra do Mendro – ergue-se uma majestosa herdade. Chama-se Quinta do Quetzal e, para apreciadores de boa comida – é o talentosíssimo chef alentejano João Mourato quem comanda a cozinha do restaurante desde a sua fundação –, vinhos exímios e arte apurada, este destino é paragem obrigatória. Às mãos de Aveline de Bruin, diretora fundadora, está o Centro de Arte Quetzal, um projeto da família que se completa com a gastronomia e o universo vinícola. Aveline é responsável pela organização da coleção de Bruin-Heijn, uma coleção internacional de arte contemporânea sediada nos Países Baixos, cargo que ocupa desde 2008.


É curadora de exposições, organiza performances e projeções de filmes em diferentes contextos com e sem a coleção, e ativa promotora de colaborações entre artistas. Faz parte da nova geração de curadores que tem esse mote colaborativo. Atualmente faz parte dos quadros do ISO in Amsterdam. Tem um mestrado em História da Arte pela Vrije Universiteit, Amesterdão, e viaja com frequência até este Alentejo profundo cada vez mais aberto ao mundo.

Neste momento, na Galeria de Arte Quetzal, está em exibição a exposição coletiva Echoes of Our Stories, com curadoria de Aveline e Laurie Cluitmans, em estreita colaboração com Heske ten Cate e Filipa Oliveira. Trata-se de um encontro de "histórias que redefinem o nosso passado e imaginam o nosso futuro. Centram-se nos cuidados, na esperança e na transformação, justapondo o racionalismo científico ocidental a outras formas de conhecimento. As histórias orais, as ficções científicas, as visões e as intuições são colocadas em primeiro plano. Os seus mundos são criados por palavras, por professores de plantas, fungos sensíveis e magia prática", lê-se, na sinopse. Conversámos com a curadora.

Onde estudou e por onde viajou durante todos estes anos, para ganhar experiência como especialista em arte e empresária?
Estudei História da Arte em Amesterdão. Durante os meus estudos, trabalhei para galerias e artistas e, depois disso, abri uma livraria de arte juntamente com a editora Artimo. Adorava trabalhar na loja e ajudar as pessoas com as suas questões muito diversas. Na Droog Design, onde trabalhei durante um curto período, adorei a combinação que criaram com uma loja, uma livraria e uma galeria, tudo numa só.


O que é que a atrai na arte contemporânea? Onde a procura e como?
Gosto de toda a arte, até quis estudar Arqueologia no início dos meus estudos, mas com a arte contemporânea tem-se o grande prazer de trabalhar com o próprio artista. Viver em Amesterdão é um ótimo lugar para conhecer muitos artistas internacionais, devido às nossas grandes residências como os Ateliers e a Rijksakademie.
Como é o seu processo pessoal de curadoria?

Adoro colaborar! Por exemplo, na segunda exposição que fiz na Quetzal, fiz a curadoria de uma mostra com obras de arte da coleção da família que foram feitas por dois artistas. E depois pedi a quatro curadores de Portugal (Filipa Oliveira, Ana Cristina Cachola, Isabel Carlos e Luiza Teixeira de Freitas) para fazerem a curadoria, no centro do espaço, de uma sequência de exposições em mudança que mostravam obras de artistas portugueses que continuavam e expandiam o tema da colaboração.

Concentra-se principalmente em jovens artistas? O que a inspira neles?

Não creio que os artistas com quem trabalho sejam especificamente jovens, já mostrei artistas de todas as idades, a exposição de abertura foi mesmo com Pat O'Neill, que está agora na casa dos oitenta! Mas adoro estar em diálogo com os artistas e colaborar com eles.
Sempre foi apreciadora de vinhos? Quem é o grande especialista da família?
(Haha!) Provo quando gosto mesmo do vinho e o meu pai mimou-me com muito bom vinho, mas o especialista é mais o meu irmão Cees, que também está envolvido no projeto da Quetzal. Juntamente com a nossa equipa, sob a orientação de Reto Jorg, tentamos encontrar a simbiose perfeita entre arte e vinho. Esperamos lançar este ano uma nova garrafa especialmente dedicada a realçar a importância da arte na Quinta do Quetzal.

No início, quando o centro de arte foi construído, quais eram as expectativas da família? E agora, como é evoluiu?
A razão pela qual nos pediram para fazer algo adicional à adega foi para criar mais enoturismo, por isso começámos o restaurante e o centro de arte. A minha mãe e eu queríamos criar um espaço que fosse contemporâneo, mas também acolhedor e concebido apenas com produtos e materiais de Portugal. Mas será que as pessoas viriam? Tivemos muita sorte com o João Mourato que cozinha comida tradicional alentejana com um toque moderno, juntamente com a sua equipa, que faz um trabalho fantástico. O facto de muitos turistas encontrarem o seu caminho [para o restaurante] é muito importante, mas adoro o facto de tantos portugueses virem regularmente. Tal como acontece com o espaço artístico, quem nos visitaria numa zona bastante remota? Mas a cena artística portuguesa abraçou-nos e apoiou-nos, e sinto-me orgulhosa por fazer parte dela com o nosso programa.


Qual foi a exibição mais visitada e a mais rara?
Acho que a que foi colaborativa – porque tivemos 4 inaugurações! Mas as duas exposições que fiz com a Luiza Teixeira de Freitas logo a seguir à Covid-19 também tiveram muito sucesso, acho que em parte porque havia muitos artistas portugueses a expor e trouxeram o seu próprio público. Além disso, alguns dos espectáculos faziam parte do programa VIP do Arco Lisboa, o que também ajudou. Durante as semanas normais, não faço ideia do que se passou...
Claro que adorei todos os espectáculos, mas construir a Gruta Profunda de Pauline Curnier Jardin para o espectáculo "Cave Myths Endless Spelunking" foi um verdadeiro prazer e para esse mesmo espetáculo criar a bizarra parede de escalada com Luís Lázaro de Matos, com vampiros.

E sobre esta nova exposição? Pode falar um pouco sobre ela?
Echoes of Our Stories é o nosso projeto mais ambicioso até agora, porque quase todas as obras foram produzidas de raiz para a exposição, em vez de utilizarmos também obras da coleção. Começámos com uma visita de estudo em abril e as obras foram feitas mais tarde, inspiradas na região. Além disso, esta exposição foi, desta vez, uma colaboração com a curadora Laurie Cluitmans do Museu Centraal de Utrecht. A exposição coletiva Echoes of Our Stories reúne os trabalhos de Claudia Martínez Garay, Diana Policarpo, Jennifer Tee, Agnes Waruguru e Müge Yilmaz. Cinco artistas que contam histórias de formas diferentes que remodelam a nossa relação com o ambiente e com os outros seres humanos. Gosto muito do facto de uma obra estar agora instalada no exterior!

Quais são os planos futuros para a galeria?
Trazer mais obras de arte para o exterior e para a adega. Gostaríamos que os visitantes descobrissem a beleza dos arredores. Já temos uma bela obra específica para o local, Tomorrows Sky, de Susan Philipsz, no topo da nossa icónica colina. As pessoas voltam mesmo para ver esta obra; esperamos criar mais instalações permanentes como esta. Em 2027, Évora e o Alentejo serão também Capital Europeia da Cultura, e a Quetzal fará parte deste programa. Iremos focar-nos no terroir da nossa herdade.
