A diferença começa logo na filiação partidária, há mais homens do que mulheres a pertencer a um partido. Na Europa, a média é de 70% de homens e 30% de mulheres. Em Portugal também é assim. Continuamos com as quotas que impõem um determinado número de mulheres no Parlamento, mas também consta que as mulheres não permanecem e não fazem carreira. Não deixa de ser surpreendente que, nestes quase cinquenta anos, sejam raros os nomes das mulheres que estiveram em cargos de liderança. Segundo Sandra Ribeiro, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), numa entrevista recente à CNN, «apesar da lei da paridade que efectivamente conseguiu trazer muitas mais mulheres para o exercício de cargos políticos, a verdade é que se percebe claramente que ao nível dos partidos políticos, de uma forma geral, continua a ser um mundo de homens. A igualdade entre homens e mulheres implica sempre que alguém tem de abdicar de poder para que outras pessoas entrem para o círculo do poder e, obviamente, essa é sempre uma equação muito difícil. Mas precisamos mesmo de mais mulheres na política, mais mulheres em cargos governativos de relevo, porque isso dá ânimo a outras mulheres para também entrarem na política. Os modelos são muito importantes, e a maioria dos modelos na política ainda são masculinos.» Sandra Ribeiro indica um dos pontos fundamentais que perpetua a ausência das mulheres em cargos de liderança na política: a ausência de modelos que motivem outras mulheres. Mas a dificuldade passa precisamente por conseguir furar esse círculo de poder, maioritariamente constituído por homens. Por isso precisamos obviamente de homens feministas na política, aliados que reconheçam valor nos seus pares femininos e que estejam dispostos a abdicar de algum poder. Caso contrário essa conquista teria de ser pela força, o que me parece impensável. Não é difícil entender que se tivéssemos mais mulheres em lugares de liderança teríamos um olhar mais amplo e diversificado sobre a sociedade e o mundo. Isto não significa que uma governação feita por mulheres seja melhor ou pior, simplesmente constituiria um outro olhar, uma forma nova. Penso que não só sou eu a desejá-lo: Mais mulheres na política, por favor. Em Portugal e no mundo. Queremos mais exemplos de liderança para que as nossas filhas, sobrinhas, irmãs, tenham referências que as possam balizar. Sei que estamos a caminhar para que tal aconteça, mais ainda falta bastante.*A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.
*A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.