Helena Coelho e Paulo Furtado recordam a sua história de amor

Fomos voyeurs, imortalizámos o amor alheio. Depois da pandemia, num mundo assumidamente individualista, que lugar têm as ambições pessoais numa relação amorosa? Quatro casais contam-nos as suas histórias de amor no século XXI.

Foto: Andy Dyo
28 de dezembro de 2023 às 07:00 Tiago Manaia

Factos. No dia 18 de outubro de 2023, a proteção civil lançou um alerta laranja (o segundo mais grave numa escala de três) para oito zonas de Portugal. Ventos fortes, chuvas torrenciais e risco de cheias. Por momentos a sessão que juntava os protagonistas deste editorial esteve para ser anulada. As ruas da capital encheram-se de água, andaimes que cobriam as fachadas das obras ameaçaram soltar-se, algumas árvores voaram. Foi nesta energia que conhecemos os protagonistas destas imagens. É costume evocar-se a bonança depois de uma tempestade, só que Lisboa parece não querer parar. Mais elétrica e engarrafada que nunca, promete continuar a crescer no tamanho das linhas de metro que agora se constroem e deixam as ruas com alcatrão aberto. A tempestade parece ter ativado a procura de boémia na fauna do centro da cidade, como se a vontade de novos encontros, antes de um possível mergulho no inverno, gritasse aos lisboetas e seus aliados internacionais que depois da tempestade… há uma possibilidade de amor.

Helena Coelho e Paulo Furtado (The Legendary Tigerman)

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Foto: Andy Dyo

É cinematográfico, este encontro. No bar Incógnito em Lisboa, as pessoas dançam apertadas umas contra as outras, numa combustão de corpos, em três pisos minúsculos. Durante a pandemia houve uma fase em que era obrigatório mostrar comprovativos de vacinas e um teste para entrar no bar dançante de aspiração rock. "Tínhamos de ir de máscara, lembra Helena, vi o Paulo e cruzámos olhares, a minha máscara era preta." Reconheceram-se. 

Anos antes, tinham-se apercebido um do outro nas festas anuais do artista Julião Sarmento (1948-2021), mas só naquela noite da pandemia falaram. Casaram-se em fevereiro deste ano, Paulo sorri quando nos verbaliza o compromisso.

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"Será ainda possível o amor?" – perguntamos. "Terão os tempos em que estivemos isolados em lockdowns nesta pandemia, a comunicar digitalmente, tornado as relações mais individualistas?" Paulo responde – "Há uma frase que diz Love is the power supreme, nos tempos que vivemos é absolutamente fundamental, o amor, se não nos salvar, pode pelo menos ajudar esta realidade complicada para tanta gente, tem o potencial de cura e pode ser algo positivo no meio da escuridão... Não quer dizer que seja o amor carnal, mas qualquer tipo de amor."

Foto: Andy Dyo

 Abordamos a ideia de indivíduo numa relação a dois, onde fica o indivíduo? "A parte individual é mantida, mas em conjunto", diz Helena, ela acompanha Paulo com frequência na estrada, nos concertos que dá com regularidade. "Acho que nos completamos bastante, estamos sempre a trocar ideias do ponto de vista musical." Em tempos teve uma banda, chamava-se Helen Hates Troy, "lançámos só um single, era uma coisa muito descontraída, tudo o que eu fizer não será feito com a forma profissional do Paulo". Mas à nossa frente o cantor vinca e verbaliza que "ela escreve e canta muito bem, gostava de produzir um álbum para a Helena... Se ela me deixar". Será uma pergunta?

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Quatro casais, quatro histórias de amor

No seu álbum Femina de 2009, The Legendary Tigerman cantava em dueto só com mulheres, Asia Argento, Maria de Medeiros e Cibelle – a figura feminina funciona como uma musa na sua obra? "Há sempre uma faísca diferente, quando faço música com uma mulher, o que funciona para fora é sempre muito diferente das músicas que faço com homens." Helena adora essa sua proximidade com as mulheres, "foi uma das coisas que mais me apaixonou nele, até antes de o conhecer pessoalmente eu gostava desse universo feminino dele, a própria capa do disco Femina em que está só de um lado maquilhado...Eu gosto de seres andrógenos e ele tem esse tipo de personalidade, tem a capacidade de perceber o feminino e isso é tão raro nos homens."

Enquanto são fotografados, um contra o outro, no estúdio de fotografia começa a tocar a balada de Billie Eilish, What Was I Made For?, sucesso planetário. A melancolia apodera-se do espaço onde estamos.  Alguém diz, "isto está a ficar muito triste". Helena sorri, "não faz mal, nós somos pessoas tristes". Realização de Ruben de Sá Osório

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Fotografia de Andy Dyo

Maquilhagem e Cabelos: Beatriz Texugo

Estúdio: Playground

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*Artigo originalmente publicado na revista que celebra os 35º anos da Máxima.

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