Cancro da mama: uma procura constante por respostas
No Mês Internacional da Luta contra o Cancro da Mama, o Instituto de Medicina Molecular lança o iMM-Laço Hub, um projeto inovador que junta médicos e cientistas com o objetivo de encontrar soluções para a deteção e tratamento da doença. Sérgio Dias e Mariana Matos, respetivamente consultor cientifico e coordenadora do iMM Laço Hub, falaram com a Máxima.

Em Portugal, cerca de sete mil pessoas recebem todos os anos o diagnóstico de cancro da mama e mais de 1500 perdem a vida para esta doença. Neste mês, mais um Outubro Rosa, surge o iMM-Laço Hub, lançado pelo Instituto de Medicina Molecular, uma iniciativa que visa encontrar respostas para o cancro da mama metastático, e que quer simplificar a linguagem médica e usar as redes sociais para fazer chegar questões do cidadão comum ao corpo científico.
O iMM Laço Hub é um novo projeto sem fins lucrativos que pretende promover a interligação entre médicos e cientistas para que juntos alcancem uma meta: a compreensão do comportamento das células do tumor da mama no seu microambiente, procurando descobrir futuras terapias contra o cancro metastático." Em termos práticos, qual vai ser o trabalho do iMM Laço Hub?
O iMM-Laço Hub é uma iniciativa cujo objetivo é de facto encontrar novas soluções para o cancro da mama metastático, passando o caminho também pelo envolvimento da sociedade civil. Temos um novo laboratório liderado por uma cientista especializada neste tipo de cancro e temos uma equipa que é responsável pela comunicação e pela angariação de fundos. Estas duas estruturas trabalham em conjunto e compõem o iMM-Laço Hub. Por estar inserido no Instituto de Medicina Molecular (iMM), é possível ter uma ligação a outros laboratórios, como o de Oncologia ou de Bioinformática, e ainda ter uma ligação privilegiada à clínica, contando com o envolvimento de médicos.
O laboratório vai, então, focar-se no estudo do cancro que metastiza. Porquê?

A mestastização, também no cancro da mama, é a principal causa de morte em doentes com cancro. É o processo celular e molecular mais complexo, por envolver propriedades das células do cancro e também do seu hospedeiro. É necessário perceber como é que a metastização funciona para a conseguirmos impedir.

Em entrevista assumiram que "o iMM-Laço Hub surge por pensarmos que tínhamos de fazer mais" – o que estava a faltar à investigação do cancro da mama?
Consideramos que o que faltava era a criação de um projeto mais abrangente, que conseguisse caracterizar o processo metastático de forma mais completa (a nível genético, imunológico e metabólico). Esta será a única forma de conseguirmos respostas concretas. Até agora tinham sido financiados projetos que não tinham esta valência multidisciplinar, daí a necessidade que sentimos em criar algo mais.

O iMM tem um lema: 'Chasing Questions' – quais são as questões mais urgentes relacionadas com a doença? E aquelas a que o iMM-Laço Hub se vai dedicar?
As questões são várias, deixamos algumas a que vamos tentar dar resposta. Porque é que alguns cancros metastizam mais eficazmente que outros? Porque é que alguns cancros metastizam para o osso e outros para o fígado? Porque é que em algumas pessoas o sistema imunitário é eficaz a controlar o processo de metastização e noutras não? Entre tantas outras…

Um dos objetivos do iMM-Laço Hub é estreitar a relação entre a ciência e a sociedade civil. O que impede esta aproximação? E que benefícios trará uma relação mais próxima (e honesta?) entre ambas as partes?

Já há alguns anos que o iMM tem procurado fazer este caminho. Porém, no último ano e meio de pandemia percebemos claramente que há interesse da sociedade civil na ciência. Foi um diálogo focado num tema muito específico e que tocou a vida de toda a gente, é certo, mas o cancro da mama também toca diretamente a vida de mais de sete mil pessoas todos os anos em Portugal (e indiretamente muitas mais!).
Sabemos que uma melhor compreensão da doença faz com que se tomem melhores decisões e acreditamos que para muitas pessoas passe também por aqui a forma de lidar com um diagnóstico desta natureza. Queremos ser uma fonte fidedigna e séria de informação e pretendemos que os cidadãos confiem na ciência.
Por outro lado, queremos também que o diálogo flua no outro sentido: queremos ouvir o que preocupa a sociedade civil e tentar responder às dúvidas das pessoas.
Muitas vezes a linguagem médica que nos chega através dos média é demasiado complexa para que o cidadão a compreenda – faz também parte dos objetivos a simplificação dessa linguagem? Haverá formas diretas de colocar questões ao Hub?

Esse é precisamente um dos objetivos do iMM-Laço Hub: tornar a linguagem científica complexa e específica em algo que o cidadão comum consiga compreender.
Queremos ser um "agregador" de informação científica fidedigna sobre o cancro da mama, mas explicada de forma mais simples. Teremos no nosso site resumos de artigos científicos sobre o tema, em português e com os links para as respetivas fontes, tornando assim mais acessível esta informação que de outra forma seria de nicho.

É também possível fazer perguntas diretamente aos cientistas. A título de exemplo, já este mês tivemos uma iniciativa nas redes sociais (Instagram e Facebook) em que pedíamos aos nossos seguidores que fizessem perguntas a um cientista. Houve algumas participações e as respostas foram dadas no dia seguinte, também nas redes. Queremos fazer desta iniciativa algo regular, criando aqui um canal de comunicação entre o cidadão e o cientista.

Este laboratório nasce, em parte, de uma doação. Qual a importância das doações neste tipo de projetos e qual a diferença em colocar esse financiamento na mão do cidadão ‘comum’? Acha que a sociedade já está preparada para este tipo de iniciativas, sendo de certa forma pioneira em Portugal?
Uma mulher, bailarina e coreógrafa luso-espanhola, Ana Lázaro, deixou parte do seu legado para apoio à investigação de cancro e era esta a peça que faltava para podermos arrancar com o iMM-Laço Hub. Para nós este gesto é muito significativo e foi um passo no sentido para onde queremos ir: tornar o mecenato científico uma realidade em Portugal. Esta é apenas uma forma de envolvimento que qualquer pessoa pode ter com a ciência, mas também disponibilizamos formas mais ágeis de fazer donativos (através do nosso site, por exemplo).
O envolvimento da sociedade civil no financiamento de ciência resulta também da forma como estes projetos são comunicados. A pouca expressão que o mecenato cientifico tem em Portugal pode resultar também da ausência de projetos desenhados para serem apoiados desta forma.

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