Alta Roma. Três tendências vindas da Moda italiana
Cinco dias em Roma para conhecer as novas tendências da Moda italiana. As principais? Materiais sustentáveis, coordenados genderless e malhas, apliques - como lantejoulas ou pedras - e transparências, evidenciadas em redes, tules ou rendas.

Durante cinco dias, acompanhámos a 40ª edição da Semana de Moda de Roma, organizada pela Alta Roma em colaboração com academias nacionais de design de Moda e com a Camera Nazionale della Moda Italiana, em Roma. Foi o regresso ao coração da cidade - no distrito Guido Reni - para apresentar em formatos de desfile ou showcase as novas coleções e tendências vindas tanto de jovens e emergentes criativos como de consagrados designers, numa onda quer experimental como madura, que se revelou uma lufada de ar fresco num momento em que regressamos aos eventos presenciais.
Ao longo destes dias, Alta Roma recebeu 107 marcas, 68 das quais em registo de showcase, e 19 da região de Lácio, que engloba Roma, em sítios tão emblemáticos como este distrito, junto ao rio Tibre, mas também noutros como o Museo Cívico di Zoologia, a Piazza del Campidoglio ou o Palazzo Firenze. Há pelo menos três tendências fortes a reter destes dias na cidade do amor e da Moda. Ei-las.

Sustentabilidade
A primeira é a sustentabilidade, a inovação tecnológica e a abordagem ética e ambientalmente consciente da Moda, transversal a todos os desfiles, de uma maneira mais ou menos evidente. Das tendências vindas de Itália, destacamos precisamente o recurso a tecidos recuperados, de dead stock ou reciclados, onde há uma consciência maior sobre o futuro da indústria. Expostas em formato showcase, as carteiras da marca Yese Studio, de Milão, não usam materiais prejudiciais ao meio-ambiente, e são embaladas em materiais que se desfazem naturalmente em contacto com a água. A marca aposta em tecidos orgânicos ou reciclados como o algodão, o nylon ou a caxemira, combinando-os com um design elegante.


Tal como esta, também a marca Francesca Marchisio cumpre os mesmos parâmetros, sendo ainda especialista em peças reversíveis. Em formato showcase, a designer com o mesmo nome que a sua marca mostrou precisamente como a Moda pode ser sustentável também em termos de reversibilidade, quando uma peça se desdobra em duas ou mais, aumentando o seu tempo de vida.




Em colaboração com empresas locais, a marca Dedo Natis é outro exemplo de uma insígnia com cunho made in italy pensada com o compromisso rígido de proteger o ambiente ao longo de toda a cadeia de produção. Para mulher, há vestidos e conjuntos pensados através do prisma da durabilidade.

Dentro dos desfiles de novos designers da Accademia Costume & Moda, destaque para o trabalho de Romi Shaked, combinando materiais como papel reciclado e malhas grossas, na coleção cápsula No Longer Human. Os modelos foram surgindo com carapaças na cabeça, uma inspiração no livro de Osamu Dazai, que dá nome à coleção, sobre um jovem incapaz de acreditar no ser humano, e que também não se sente como um. Um manifesto à desumanização, através do estilo, presumimos.
Genderless
Uma das tendências são as roupas que não têm género. A MUUSA, marca dos irmãos Bertini, revelou-se uma das mais surpreendentes desta mostra. Aliando a estética minimal da Ásia com o savoir-faire italiano, a MUUSA cria peças genderless ao imprimir grafismo em peças delicadas como quimonos ou calças oversized, em tecidos leves e multifuncionais como as malhas finas ou a seda.

Também Antonio Ragosta, Armando Benenato e Luca Ragosta fundaram a 3DICI, em Campânia, a pensar numa marca sem género. Destacam-se as fibras naturais e cores brilhantes, com padrões e cortes retro, em malhas e tecidos de ganga.
Por sua vez, o jovem designer da Accademia Costume & Moda Alessio Invidiato inspirou-se no livro de poesia de Ilaria Alfano para criar a coleção Fragmenta, com looks fluídos e em tons garridos, perfeitos para os dois sexos, em cores como o vermelho vivo, através de peças como camisas e calças straight. Destaque para os acessórios: as mochilas, que dão a volta ao peito, envolvem crochet e malha, sempre com recurso a fibras naturais.
O designer Mattia Piazza e o arquiteto Steve Gallay, fundadores da Casa Preti, revelaram ousadia numa coleção marcada por transparências e apliques oversized, onde mulheres e homens desfilaram com roupas de uns e de outros. Em Umane, as peças são pensadas para quem gosta de arriscar.
Malhas, apliques e transparências
Depois de frequentar a Academia Polimoda de Florença,Maria Sapio, que tem uma marca em nome próprio, dedica-se a fazer peças únicas, à mão, com materiais amigos do ambiente. Com uma técnica única, faz nascer vestidos e fatos onde as malhas são protagonistas.

Uma designer que trabalha com tecidos de luxo, Gretel. Z apresentou a coleção em tons pastel, como o rosa ou o verde, cheia de detalhes como bordados, apliques, penas e cristais. Tecidos leves e esvoaçantes, combinados com silhuetas que valorizam a feminilidade. Fechou o desfile com uma noiva, uma tendência dos anos 90, o que não deixa de ser curioso.

Talvez a designer que mais conjugou materiais ao longo do certame: Francesca Giannini, com a coleção Futura Nostalgia, repleta de brilhos, lantejoulas, bordados, redes, tule e veludo como tecidos principais, e cores berrantes como o roxo ou o amarelo.
