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Moda

Herança de moda: a marca de Maria Veloso é para mulheres "com power"

A Wheat & Rose é a jovem marca de roupa de Maria Veloso que se inspirou na sua bisavó cheia de pinta. Linhas descontraídas em texturas sofisticadas, e com detalhes pensados para que a magia dure.

Foto: D.R.
23 de dezembro de 2020 às 11:04 Patrícia Barnabé

A bisavó Angela vivia em Hong Kong e veio para Portugal trazendo no barco o recheio de sua casa. "Era uma mulher do mundo, que valorizava o sentido estético e a qualidade das coisas boas da vida", e as mulheres da família Trigo da Roza herdaram o bom gosto. São mulheres "com power", feministas no verdadeiro sentido da palavra (como qualquer mulher devia ser)."  E foi nesses recantos asiáticos, entre peças de mobiliário e os candeeiros da casa dos bisavós, onde mora a mãe de Maria, que nasceram os primeiros desenhos da sua primeira coleção. "É a cara da minha marca", diz-nos, visivelmente entusiasmada e iluminada pelo sol de outono numa esplanada de Lisboa.

De repente, essa herança sofisticada estava por todo o lado, principalmente na escolha de cores e materiais e inspirada na maneira de vestir das matriarcas da família. A Wheat & Rose nasce dos apelidos desta costela: "Quando construí o branding foi óbvio e inevitável, era a marca que eu andava a desenhar na minha cabeça há muitos anos." Do lado do pai, o músico Rui Veloso, herdou a sensibilidade artística e um ar mais despojado que veio da sua avó, que "pintava e escrevia", e também a personalidade "terra a terra" do pai, "é uma pessoa humilde, simples. Eu sou um bocadinho as duas coisas."

Foto: D.R.

O resultado são "roupas fluidas, confortáveis, clean e delicadas" que cruzam a estética asiática e a honestidade e saber fazer portugueses. Pelos 17 anos, Maria percebeu "que gostava de fazer qualquer coisa ligada às artes". Estudou Design de Moda na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa e depois fez um mestrado de Gestão na Universidade Católica. Com ambas acreditava atingir "a independêcia, flexibilidade e liberdade para trabalhar para mim própria", diz no seu tom focado. "Uma marca de moda foi o que sempre quis fazer, porque me permitia explorar a criatividade." Na verdade ela é uma espécie de one-girl show, faz tudo na sua Wheat & Rose, o que lhe dá "um drive enorme": desenha a roupa, trata da produção, do branding, do design gráfico, das sessões fotográficas, do site e dos eventos. Aos 27 anos, é uma filha da sua geração que teve de fazer acontecer. Também descobriu este multitasking numa experiência de trabalho que teve numa empresa de uniformes do Porto, onde entrou para produzir um catálogo e acabou "por fazer o rebranding da marca".

Foto: D.R.

Desenhou duas coleções de verão para a Wheat & Rose, e agora criou uma para o outono 2020, em sedas com viscose, bordadas e com forros com padrões. "É muito como eu me visto. E a maneira como as pessoas se vestem é como são. Às vezes não o sabem, mas transparece sempre", sorri. "Aliás, a moda não é assim tão óbvia, pode ser muitas coisas e reflete imensas coisas, até o clima político e económico." Esta coleção chama-se Octopus’s Garden, título de uma música dos The Beatles, que Maria Veloso cresceu a ouvir e a lembrou dos "polvos da Nazaré": "Queria muito que o mar estivesse presente, mas o seu lado forte e agressivo, queria que essa força e essa irreverência estivessem nas peças. E queria transmitir a sensação, que eu adoro, de dar um mergulho na água do mar gelada num dia quente, és absorvida por aquela calma, é muito regenerador."

Foto: D.R.

No dia 15 de dezembro lançou ainda uma colecção-cápsula para subir os ânimos festivos da época em tempo de pandemia, uma pequena linha "retro Chritsmas" à base de veludos verdes, beges cotelê e castanhos chocolate, com referêcias aos Beatles e ao grande David Bowie.

Foto: D.R.

Em moda, gosta de pensar nos materiais e nas formas, "tens um mundo infinito de possibilidades, é divertido e intuitivo. Não sou muito boa a desenhar, e sou péssima na costura, chorei à frente da máquina muitas vezes", ri-se. "O que gosto é de estar no meio dos tecidos, escolher os botões, ver os acabamentos, fazer o fitting. Sinto-me mais uma diretora criativa do que uma designer de moda. É uma marca que vivo e sinto imenso". Fez um vestido de casamento para uma prima e já recebeu várias encomendas, por isso vai começar a fazer roupa por medida, assim como gosta que a etiqueta das suas peças indique quantos exemplares foram produzidos. "Acredito em peças de qualidade em materiais de qualidade, com bons acabamentos e versáteis, para que possam durar e passar de geração em geração."

Foto: D.R.

Organiza eventos privados para mostrar e vender as suas colecções, como num antigo boudoir, mas estas podem ser adquiridas online ou em pontos de venda escolhidos. Ali recebe as "mulheres inspiradoras" que vê espelhadas na sua marca e que espera inspirar. Como quem? "Como a Cuca Roseta, que tem uma carreira, filhos, faz desporto e está sempre impecável. É capaz! As mulheres têm vidas muito loucas, e é assim que quero que se sintam na minha roupa: confortáveis, requintadas e versatéis, para fazerem tudo o que quiserem." Porque o novo luxo verdadeiro é "tempo e conforto."

Foto: D.R.
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