Diogo Miranda: “Gostava que as pessoas consumissem Moda como vão ao futebol”
Será que a pandemia mudou a forma como compramos? E que impacto teve este ano na Moda nacional? O criador português Diogo Miranda desenha hipóteses para o que aí vem.

Chegou a estar infetado com covid-19, mas nem assim parou. "Estive 15 dias em casa sempre a falar com o atelier, felizmente não tive sintomas graves e não tive de ir ao hospital", conta à Máxima por telefone. Diogo Miranda diz que este ano lhe deu "tempo para fazer coisas que normalmente não consegue fazer no dia a dia", apesar de lhe ter trocado as voltas no que diz respeito ao processo de criação. Tudo o que tinha idealizado foi descartado. "A partir de março, quando começámos a passar por esta situação [pandémica], achei que devia fazer uma coleção completamente diferente [da que estava a fazer], inspirada em Portugal (...) Acho que nesta altura, nós cidadãos portugueses, temos de nos voltar para o que é português e valorizar o que é nosso." Provocador, o designer lança: "Gostava que as pessoas gostassem de Moda e consumissem Moda como vão ao futebol, adorava".
A última coleção, apesar de ter algumas peças pensadas para o universo da passerelle, é, no geral, "muito prática", a pensar no tempo que cada vez mais passamos em casa. "Tem muitas camisas de pijamas, peças confortáveis, saias amplas, mesmo a nível de cores é tudo muito neutro", diz. A ideia "é que as pessoas comprem peças que usem uma estação e a vida toda", promete.

No que se refere ao negócio, o impacto foi evidente. "Já é um desafio bastante exigente trabalhar em Moda em Portugal, a nossa única alternativa acaba sempre por ser dirigirmo-nos a um mercado mais de cerimónia, das noivas, das festas, ou o mercado estrangeiro que tem sempre muito mais poder de compra do que o nacional. Não quer dizer que não haja [esse poder], porque há, as pessoas é que não têm essa cultura de consumir e valorizar o que é português. Acho que isso se notava e agora ainda se passou a notar mais. As vendas caíram, não há festas, não há casamentos, existem vendas, mas são coisas muito residuais", admite.
Ainda assim, o espaço físico em Felgueiras, onde tem loja, escritório e atelier, não está em risco. "Se eu tivesse um espaço físico que fosse apenas loja provavelmente teria de o fechar", confessa. Sobre este novo ano, Diogo Miranda acredita que "as coisas vão lentamente voltar ao seu lugar, mas as pessoas vão começar a pensar melhor sobre as suas compras". O futuro, aponta, vai passar por "comprar peças timeless para usar ao longo de várias estações, com bons tecidos, bom corte, peças que se consiga rentabilizar". Por último, Diogo Miranda rejeita a ideia de existir o dever de "apoiar" as marcas: "acho que as pessoas quando querem comprar, e se gostarem do produto e da qualidade, compram".

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