A equipa de Alexandra Moura esteve em confinamento, mas a criatividade da marca nem por isso. "2020 fez-nos pensar que se calhar não podemos estar sempre tão agarrados à mesma mecânica e que temos de ter pensamentos mais versáteis sobre a estratégia e estrutura da empresa, das coleções e do trabalho criativo", começa por dizer à Máxima a designer portuguesa.
O isolamento, continua Alexandra Moura "levou-nos a estar muito conectados uns com os outros, tanto a nível da equipa como a repensar a própria marca e o conceito da coleção seguinte. Pensámos novas formas de criar projetos, novas formas de gerar ideias para produtos, ou seja, acalmámos fisicamente e acalmámos aquele lado frenético de fazer as coisas, o que nos deu tempo para pensar um bocadinho e amadurecer outras ideias que assim que acabou o confinamento começámos a pôr em prática".
A criadora lisboeta descarta a ideia de ano "negro" para a marca, no sentido em que "com todas as condicionantes que tivemos aprendemos a dar a volta e a trabalhar de uma outra forma". Admite que houve quebras nas vendas, em grande parte à conta das restrições de circulação, que tiveram consequências para os pontos de venda físicos. Já online, "houve uma procura maior, muito mais curiosidade, mais visitas e também vendas", diz. "No final disto tudo, acho que obviamente diminuíram de alguma forma os resultados de vendas, mas estas não foram totalmente aniquiladas porque se deixou de ter um tipo de canal e as pessoas abriram-se para outro. Até isso foi uma forma de adaptação", nota.
Para Moura, o clima pandémico não teve qualquer influência no seu processo criativo: "Faço mesmo questão que não me afete e não me atinja. Não quero ter uma coleção que na memória de alguém fique conotada com mensagens relativas a um estado negro da humanidade naquele ano. Não quero de todo uma coisa dessas, muito pelo contrário."
Com uma marca assumidamente de nicho, a designer, que nos últimos anos apresenta as colecções em Portugal e também na Semana de Moda de Milão, garante que os próximos passos passam por continuar "em linha" com o trabalho desenvolvido. Quanto ao futuro do consumo, acredita que este passa por um "investimento na Moda [que] deve ser ponderado o mais possível, para ver se conseguimos largar esta coisa do comprar barato, muito e muito mau, e ser uma coisa mais pensada, mais consciente". Sem ilusões, ou não fossem as imagens que inundaram as redes sociais nos dias após o primeiro confinamento prova de que ainda há muita gente que procura o contrário. "As filas para o fast fashion eram imensas (...), acho que vai sempre haver uma grande franja que vai continuar a consumir desmesuradamente, mas acredito que haja já um conjunto de pessoas no mundo com muito mais consciência e que já percebeu que tem mesmo de haver esta contenção. É um caminho que tem de se seguir", remata.