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Celebridades

A verdadeira história da princesa Diana e os seus empregados pessoais

Em 'Spencer', muitas vezes acontece que o problema que parece aborrecer Diana, papel protagonizado por Kristen Stewart, é, mais do que o seu marido reservado ou a dinâmica controladora dos seus parente reais, é a ausência da sua adorada camareira, Maggie. Mas como foi na vida real?

Foto: Getty Images
18 de novembro de 2021 às 07:00 Máxima

No início do filme, já nas salas de cinema nacionais, é Maggie (Sally Hawkins) quem surge como sua única aliada adulta no oceano da frieza de Sandringham, rindo-se com ela à medida que vão metodicamente desenvencilhando a fiada de fatos que Diana terá de usar ao longo da agenda festiva (o chá da véspera de Natal, o jantar da véspera de Natal, o pequeno-almoço do Dia de Natal, a missa do Dia de Natal e assim sucessivamente).

Quando Maggie é repentinamente retirada para atender a outros serviços e substituída por uma alternativa tipo percetora de colégio ríspida, Diana é atirada para um estado de angústia ainda mais profundo do que aquele que já estava a sentir. Por fim, é uma declaração de amor ligeiramente bizarra da parte de Maggie, numa praia de Norfolk, no dia a seguir ao Natal, depois de ela ter voltado do seu súbito afastamento, que confere a Diana a confiança necessária para tomar o assunto nas próprias mãos.

Foto: Getty Images

Qualquer pessoa sem um conhecimento íntimo da família real poderia sair da visualização de Spencer acreditando que Maggie foi uma figura essencial na evolução de Diana de uma princesa encurralada para uma divorciada cheia de poder, mas a verdade, como sempre, é mais matizada.

Como todas as mulheres da família real, Diana iria com certeza ter à sua disposição uma camareira em qualquer palácio onde estabelecesse residência – e teria aquelas em que confiaria e aquelas em que não teria confiança. Mesmo que não houvesse qualquer "Maggie" específica, estas pessoas têm acesso aos aposentos privados da vida real, provavelmente vendo os elementos da realeza num estado de nudez com maior frequência do que os seus próprios consortes.

Foto: IMDB

"A relação entre os elementos da realeza e os seus camareiros é incrivelmente íntima", diz a autora de conteúdos sobre a família real Anna Pasternak. "Existe este vínculo de confiança entre eles que não tem só a ver com as roupas, envolve muito mais".

Personagens como Paul Burrell, que começou a trabalhar para Carlos e Diana em Highgrove em 1987 e que foi um dos poucos membros do pessoal que ficou com a princesa após o seu divórcio, acabou por representar o epítome da relação entre a realeza e os seus criados. Tal como Pasternak coloca a questão, "estas são as pessoas que enfiam os lenços nas suas máscaras de seda" – embora no caso de Burrell, o perfil que ele criou para ele próprio perante os media com proclamações de que Diana dizia que ele era "o único homem em que ela alguma vez confiou" muito provavelmente trai a expetativa de lealdade.

Foto: Getty Images

Uma mulher que tem recebido os créditos por ter sido simultaneamente stylist e confidente da falecida Princesa de Gales é Anna Harvey, uma editora da revista Vogue a quem foi atribuída a tarefa de auxiliar Diana com o seu guarda-roupa pouco depois do seu noivado. "Foi um grande sinal de fé confiar em mim tão cedo", disse-me Harvey em 2017 (ela morreu em 2018). "A Diana e eu continuámos a trabalhar juntas por mais 16 anos".

Foto: Getty Images

As memórias de Harvey fazem eco de alguns dos dilemas enfrentados por Maggie em Spencer: "‘Vamos para Balmoral e teremos de nos vestir para o chá’, diria Diana e, depois, teríamos de tentar adivinhar o estilo de indumentária que ela deveria usar e encontrar imensas opções". Ela testemunhou também momentos íntimos entre o príncipe e a princesa de Gales: "Certa vez, ela vestiu um maravilhoso vestido de veludo preto com uma saia de tafetá cinzento. ‘Importa-se que eu chame o meu marido para ver?’, disse ela. O príncipe Carlos entrou e ali ficou, com um ar bastante perplexo, a olhar para ela com aquele vestido extraordinário, enquanto eu, de joelhos, ia pondo alfinetes na bainha.

Mas Harvey foi sempre muito cuidadosa em se cingir aos detalhes da roupa, em vez de discutir a crise do casamento real ou o estado de espírito de Diana, mesmo apesar de dever ter testemunhado bastantes episódios à porta fechada.

Foto: Getty Images

Para uma criada pessoal ou camareira tradicional, os deveres podem ser tão insignificantes como coser um botão ou tão monumentais quanto ser o único ouvido de confiança num momento de crise – pensem só em todas aquelas conversas de alma e coração nas mãos entre as condessas e senhoras de Downton Abbey e as suas criadas enquanto estas prendiam os seus cabelos com ganchos antes do jantar. Janette Huskie, uma ex-criada do palácio, recordou ter vestido Diana em Balmoral. "Ela era muito jovem e muito bonita", relembrou, acrescentando que Diana procurou reafirmação, perguntando "Que tal lhe pareço? Ok?" antes de descer para jantar. Pasternak enfatiza que uma camareira "nunca pode ser uma amiga social; há este misto peculiar de intimidade e deferência".

Ela refere Angela Kelly, a camareira sénior da rainha como o derradeiro exemplo moderno da camareira com um "poder tremendo". "Ela passou da mulher que usa os sapatos da rainha até os amaciar e é a curadora do seu guarda-roupa para a pessoa que se senta a ver TV com Sua Majestade depois de o seu marido ter morrido". Kelly foi alcunhada de AK47 graças à sua formidável reputação dentro da casa real como guardiã da rainha. "Ela tem uma posição indispensável no seio da hierarquia", diz Pasternak.

Foto: Getty Images

Depois há a equivalente da duquesa de Cambridge, Natasha Archer. Casada com o fotógrafo real da Getty, Chris Jackson, ela foi uma das primeiras visitantes a ir à Ala Lindo após o nascimento do príncipe George, em 2013.

A influência de uma camareira nunca deve ser subestimada. Mais do que alguém que fecha fechos éclair e engoma vestidos de noite, Spencer sugere que estas são pessoas com potencial para provocarem uma crise constitucional. Basta apenas uma palavra cuidadosamente dita ao ouvido de uma princesa vulnerável.

Bethan Holt/The Telegraph/Atlântico Press

Tradução: Adelaide Cabral

Foto: Getty Images
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