O nosso website armazena cookies no seu equipamento que são utilizados para assegurar funcionalidades que lhe permitem uma melhor experiência de navegação e utilização. Ao prosseguir com a navegação está a consentir a sua utilização. Para saber mais sobre cookies ou para os desativar consulte a Politica de Cookies Medialivre
Beleza / Wellness

Pronta para renascer?

E se um retiro de saúde e bem-estar puder ser um recomeço? Três dias a mergulhar e a descobrir hábitos mais saudáveis, de viver, sentir, pensar. E outras formas de olhar o mundo em que vivemos. O próxima é já em maio de 2022.

25 de março de 2022 às 14:28 Patrícia Barnabé

O ano de 2021 a acabar e muitos de nós atropelados pela vida, pela circunstância invulgar de uma pandemia, algures entre a introspeção forçada e uma reprimida vontade de expansão. Assim aterrámos neste retiro. Ir ao Six Senses é, já por si, um exercício de evasão, natureza e inspiração, um dos recantos mais belos do país numa quinta senhorial do século XIX aninhada nos vales do Douro e transformada num despretensioso cinco estrelas. 

O quarto em que ficamos três noites é um ninho no meio da floresta, a paz que antecipa este retiro invulgar. Ao mesmo tempo que a Dra Ana Moreira, especializada em medicina integrativa nos ensina a usar a alimentação e os nossos hábitos como ferramentas de vitalidade e prevenção, também nos fala de um certo entendimento do mundo, mais aberto e plural, mais espiritual. Licenciada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, é pós-graduada em Climatologia e Hidrologia, agora prepara o doutoramento em Ciência Quântica da Saúde. Ao mesmo tempo, investigou abordagens médicas como a Medicina Ayurvédica, a Medicina Tradicional Chinesa, a Acupuntura, a Homotoxicologia, a Medicina Ortomolecular, a Medicina Biológica e Antienvelhecimento e a Medicina Sintergética. 

Foto: Six Senses

O arranque dá-se numa consulta prévia com a médica, onde ela traça o nosso perfil e nos prepara para o que vamos experimentar. Dá-nos conselhos simples de alimentação e propõem-nos substitutos, a ideia é conseguirmos estender os bons hábitos por pelo menos dois meses. Seguem-se três dias de absoluta dedicação pessoal, desaconselham-se portáteis, e-mails e redes sociais. Afinal, a ideia é ir mais fundo: "A intenção é que, nos tempos complicados em que vivemos, onde tudo é muito rápido e queremos tudo para ontem, fazermos uma pausa. Esta pausa vai ajudar-nos a fazer um reset e a sentirmo-nos melhor num sítio muito bonito onde tudo apela à calma e ao sossego", assegura a médica. 

O que é a medicina integrativa e funcional?

"É uma especialidade nos Estados Unidos e a área da medicina que pretende utilizar técnicas complementares para um diagnóstico holístico e integral dos pacientes, e depois usar alguma terapêutica também considerada complementar. Dentro desta, vamos incluir as mudanças nos hábitos, no estilo de vida dos pacientes e isto é a pedra basilar para que se possam sentir melhor física, emocional e mentalmente", explica. Numa consulta de medicina integrativa no seu consultório no Porto, Ana Moreira recebe de crianças à terceira idade, e procuram-na regularmente pessoas com doenças crónicas e doentes  de cancro.

E porque é importante cuidar da saúde como um todo? "Porque sabemos que não somos só um corpo físico e a definição de saúde da Organização Mundial de Saúde é exatamente essa: é o bem-estar físico, emocional e mental, não apenas a ausência de doença. No nosso dia a dia, em temos médicos convencionais, vamos dizer assim, falta-nos essa ligação de tudo com o todo, estamos às vezes muito preocupados com uma visão mais materialista do mundo."

Foto: Six Senses

Acredita profundamente na medicina preventiva, "seria o ideal e à qual todos os seres humanos deviam ter acesso. Olhamos para uma pessoa, que não é um doente porque ainda não tem nenhuma doença, e conseguimos, a partir da análise e observação do seu meio sócio-económico, profissão e ambiente familiar, etc, mas principalmente do seu estilo de vida - o que come, onde respira, quais os vícios e os maus hábitos, a que horas se deita ou como funciona o seu intestino, estes pormenores - podemos fazer uma mudança de estilo de vida e prevenir uma doença, antes que ela apareça ou, se existir, estamos a prevenir alguma complicação". 

A alimentação ideal

Bebemos um copo de água morna com meio limão a cada acordar, talvez o hábito que permanecerá connosco mais tempo fora desta bolha de bem-estar. Só depois de uma sessão de relaxamento, que muito se inspira nas práticas ancestrais de meditação, é que tomamos o pequeno-almoço, que quebra 12 horas de jejum e é um merecido festim de cores e sabores verdes. É aliás, uma das assinaturas do Six Senses. 

Além da variedade de sumos naturais e da já conhecida lista de chás e infusões, destaque para a bebida adaptogénica feita com extratos vegetais que ajudam a restaurar a capacidade natural do corpo para lidar com o stress, e para as bebidas fermentadas caseiras como o kefir, que é um potente antibacteriano e uma óptima fonte de nutrientes ou a kombucha, uma bebida fermentada de chá, um pouco amarga, mas que depois se entranha e nos enche de probióticos e antioxidantes.

Foto: Tânia Araújo

"O chef Mark é muito acessível e sentámo-nos a planear a dieta, moderadora da inflamação e desintoxicante", diz-nos Ana Moreira. Os menus são maioritariamente vegetarianos, mas também existe proteína animal, servido num crescendo, isto é, se os primeiros pratos são mais frugais, o primeiro jantar foi um consommé de cogumelos com miso de grão de bico caseiro seguido de noodles de courgette, hummus de feijão branco, molho de coentros e nozes, o  último jantar já foi salada de beterraba com radicchio, frango do campo no forno, legumes verdes e molho picante fermentado e rematado por um cheesecake vegan sem glúten. Como é natural, ninguém bebe álcool nestes dias, apesar da gloriosa vista para os socalcos do Douro, é a parte mais difícil do retiro.

Foto: John Athimaritis

Tratamentos invulgares 

Ao chegamos à sala de reuniões, que era o ponto de encontro, já a maioria tinha uma agulha de soro ortomolecular enfiada no braço. A primeira reacção é de apreensão e estranheza, afinal é um cenário que só encontramos num hospital, mas este soro tem super poderes, isto é, vitaminas, minerais e antioxidantes. Os nossos estilos de vida são uma constante oxidação do corpo que, por seu lado, cria uma espécie de "enferrujamento". Este soro é como se tomássemos um tónico e a via intravenosa é um corta-mato pois entra "diretamente no espaço celular sem passar pelo trato digestivo onde perde força", explica a médica, tem por isso muito mais efeito do que um suplemento vitamínico comum. 

Trata-se de um cocktail de vitamina C, "que perdemos a capacidade de produzir", super anti-oxidante e "uma polícia das células e da sua imunidade e uma chave para a produção de colagénio", responsável pela saúde e vitalidade da pele e dos tecidos em geral. Também tem magnésio que faz "a síntese de proteínas da função nervosa e muscular"; zinco que é antioxidante, anti radicais-livres e "atrasa o envelhecimento"; selénio, um micro-nutriente, e muitas outras coisas: n-acetilcisteína, o ácido fólico e um complexo de vitamina B, como a B9 que faz uma protecção do DNA e do sistema nervoso e imunitário ou a B12, também a co-enzima Q10, que é um potente antioxidante, ácido alfa-lipoíco, que trabalha a capacidade cognitiva, e ficávamos aqui uma vida a tentar explicar os pós de magia.

Foto: Six Senses

O soro ortomolecular já é usado de forma corrente em países como os Estados Unidos, o Brasil, a Suíça ou a Alemanha, por exemplo, muitas vezes pré ou pós-festa, "contratam uma enfermeira para ir a casa depois de uma ‘borracheira’", diz-nos a Dra Ana Moreira como grande sorriso que a caracteriza. Pode ser administrado como manutenção, uma ou duas vezes por mês e reforçado em alturas em que precisamos de desintoxicar mais profundamente ou "regular a imunidade porque ele trabalha a energia na própria célula." Ao fim de um dia, e são quatro tratamentos ao todo, cada um com a sua dosagem que a Ana Moreira doseia depois da consulta, tudo parece mais claro, energizado e centrado, é impressionante.

Todas as madrugadas, já que acordamos antes do sol nascer, e ao deitar também, recebemos ainda uma suave terapia médica de ozono ministrada pela enfermeira no quarto. Não é mais do que uma "injecção retal de ozono", explica a médica, que desintoxica o fígado. O ozono medicinal é um gás natural que existe na atmosfera e tem "um efeito químico no corpo pois previne a inflamação, é bactericida e fungicida, melhora o transporte do oxigénio, a função cardiovascular e as funções celulares em geral, ativa o metabolismo e a imunidade, é revitalizante e antioxidante, analgésico e anti-inflamatório". Nem o sente, mas os seus intestinos ficam logo em sentido e em conforto. 

Flutuar: os mimos do spa

Ana Moreira não se cansa de sublinhar a importância do sono reparador e de deitar cedo, "porque a melatonina começa a descer desde o início da noite e até às quatro, cinco da manhã, as horas fundamentais para o descanso". Aprendemos que dormir entre 6 e as 7,5 horas é o ideal e devemos espreguiçar-nos muito, e bem, a cada começar de dia. Sentimos claramente no nosso corpo o diminuir da inflamação mínima persistente, tantas vezes silenciosa, em que a maioria de nós vive, num acumular de tensões e maus hábitos. O chamado stress oxidativo donde nascem as doenças crónicas comuns, e as outras piores a seguir, porque prolongamos estados tóxicos e défices celulares, demasiado ocupados e distraídos que estamos com outras coisas.

Aproveitar o know-how do Six Senses é, no mínimo, inteligente, já que falamos de um dos melhores spas do mundo, e este tem vista para um jardim secreto que, por sua vez, se debruça sobre o rio. As terapias foram pensadas após a consulta e combinadas com os especialistas do spa, por isso o retiro inclui uma massagem à medida, onde se combinam técnicas diferentes, uma viagem pelos sentidos até estes se aquietarem profundamente, dos pés à ponta dos cabelos, um protocolo de inspiração asiática muito raro de encontrar.

Foto: John Athimaritis

Também conhecemos o sound healing de taças tibetanas do terapeuta espanhol David que nos movimenta o corpo dentro de uma piscina com água a 35º e sentimo-nos a flutuar no Oceano, como no útero. Experimentámos o circuito de jactos de hidroterapia na piscina, a maravilhosa sauna de infra-vermelhos, a de sal dos Himalaias e a de ervas aromáticas apanhadas no jardim, umas delícias sempre alternadas com água fria. E enterrarmo-nos nos sofás de relaxamento a observar de cima a piscina interior com 20 metros de comprimento e a belíssima paisagem que se estende até ao rio.

Foto: John Athimaritis
Foto: John Athimaritis

A partilha e o simbolismo dos rituais

Juntam-se nestes retiros pessoas de todas as idades e estórias, e há espaço para partilhar aventuras ou ficar no seu canto. Todas os dias nos é pedido para descrever como nos sentimos, e assistimos às mudanças que vemos acontecer no nosso corpo físico, emocional e mental. A felicidade pode sentir-se no corpo? Pode, porque também é bioquímica, o que significa que um corpo feliz irradia, e é aí que este retiro nos quer levar. "Quando escrevemos o que nos chateia ou nos incomoda e o que queremos para a nossa vida… o que eu pretendo fazer ali foi um reset literal com um objectivo de wellness integral", diz-nos Ana Moreira.

Ao longo das várias palestras que nos ocupam uma boa parte dos dias, são quatro ao todo, está a verdadeira descoberta. São sobre hábitos de vida, sexualidade ou questões mais existenciais e que tocam a espiritualidade, sem vender nada a ninguém. Ana Moreira já deu mais de 80 palestras, algumas podem até ser visualizadas online, no retiro ela escolhe os temas de acordo com o grupo. Depois fazemos caminhadas na floresta e pequenos e belos rituais, se os quisermos aproveitar: "Foram ideias que me surgiram na preparação do retiro e têm haver com tudo o que tenho estudado nos últimos anos dentro da medicina bioenergética: é bom fazermos uma transmutação e uma transformação da nossa vida, para depois haver um renascimento. É obviamente um acto simbólico."

"Sou uma médica muito filosófica, por isso gosto muito de provérbios e de conceitos genéricos". Há uma frase de que Ana Moreira gosta muito: "‘A vida sabe o que faz, sabe o que leva e sabe o que traz.’ Indica as nossas perdas e que, às vezes, quando estamos mais em baixo e achamos que não estamos a conseguir algo, às vezes esse não conseguir é um maravilhoso golpe de sorte, porque o universo conspira a nosso favor. Por isso devemos estar o mais alinhados e coerentes possível, com o que dizemos, pensamos e sentimos. Tudo nos ajuda a viver melhor e mais felizes."

Foto: Six Senses

A ideia é que nos próximos retiros "se possam colocar novas ideias, palestras e comidas diferentes, e estamos a pensar fazer um retiro para casais, para trabalhar o indivíduo enquanto ‘eu’ e depois enquanto parte de um casal", avança Ana Moreira. A sua próxima Jornada de Vitalidade, que inclui tudo isto por 4.235 euros, será entre 19 e 22 de maio (depois, há retiro anti-envelhecimento de Ben Greenfield, em novembro, 6.890 euros, e outros a confirmar). 

"O conhecimento é uma jornada contínua, este tipo de retiros, e consultas e de abordagens integrativas, em que nos sentimos como parte de um todo, de uma família, de uma comunidade, de um planeta, de um universo, é muito interessante para compreender que estamos numa grande evolução e que é uma grande caminhada. Este conselhos pequeninos servem-nos para olharmos para nós de outra maneira. Se eu puder dizer alguma coisa aos leitores é: amem profundamente, a si próprios, aos outros ao seu redor, eliminem relações tóxicas porque a grande pedra basilar da nossa consciência e a grande vibração que temos no nosso corpo emocional é o amor puro, genuíno, que não é obsessivo, nem ciumento - é o amor, ponto. E, a propósito, gosto muito da frase: ‘Amo-te assim porque não sei amar de outra maneira’."

As Mais Lidas