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"A maioria dos pais lida muito mal com a raiva dos filhos"

Está em pleno supermercado e o seu filho atira-se ao chão a chorar. O que fazer? Este e outros exemplos que a consultora de parentalidade consciente Míriam Tirado dá no seu livro 'Birras' promete ajudar crianças e pais a lidar com as clássicas birras, que ocorrem sobretudo entre os 2 e os 4 anos.

25 de fevereiro de 2022 às 07:00 Rita Silva Avelar

Especialista em parentalidade consciente, a escritora espanhola quis criar um guia prático para lidar com uma das questões mais comuns da infância: as birras. Editado pela Arena, Birras resume conselhos e ferramentas para lidar com estas crises com consciência, humor e amor - enquanto tenta não enlouquecer. Conversámos com a autora.

As birras ocorrem em diferentes fases da vida das crianças. Até que ponto estão os pais preparados para estas oscilações de humor infantis? Há muita desinformação neste campo?

Na verdade, as birras são típicas da primeira infância, especialmente dos 2 aos 4 anos de idade, e são normais e comuns. As crianças, nessa idade, são muito imaturas e ficam emocionalmente fora de controlo com bastante facilidade. Se tiverem fome, sono, ou se ficarem frustradas por alguma razão. Sim, penso que há muita desinformação sobre esta fase e os adultos têm muita dificuldade em acompanhá-las de um ponto de vista empático e respeitoso.

Como deve um pai comportar-se quando ocorre uma birra, por exemplo, no chão de um supermercado, em frente de muitas pessoas?

O ideal seria compreender que a criança foi excessivamente estimulada naquele espaço cheio de coisas nas quais não pode tocar e que o que ela precisa é de sair dali. Portanto, o melhor que o adulto pode fazer é respirar fundo, pegar na criança e deixar o espaço o mais depressa possível. É importante não ir a tais lugares quando as crianças já estão demasiado cansadas, ou com demasiada fome, porque depois é provável que se descontrolem e façam uma birra sobre qualquer coisa.

Quais são as ferramentas mais úteis para os pais nestas situações?

Respirar fundo para não perder a compostura, mas também procurar percebê-los e tentar descobrir qual é a fonte da birra, que é geralmente uma necessidade básica não satisfeita. Nesse momento é importante validar a emoção que a criança está a sentir, abraçá-la se ela o deixar ou mudar de espaço. A criança, a fim de se regular novamente, precisa de se sentir compreendida e acompanhada porque, por si só, muitas vezes não sabe como sair deste ciclo de "transbordamento" emocional.

Como se pode evitar uma birra? Como podemos saber como ler os sinais?

Sim, as birras causadas pela fome, sono, cansaço, etc., podem ser evitadas. Idealmente, não devemos alimentar as crianças antes de terem demasiada fome ou colocá-las na cama antes de ficarem exaustos. Isto irá poupar-nos muitas birras. As que não podemos evitar são as birras causadas pela frustração do que não podemos mudar, como algo que se partiu, um amigo que não podem ver, ou porque não conseguem atar os atacadores. Uma criança está perto de ter uma birra quando começa a ficar nervosa e as suas expressões e gestos se mostram cada vez mais tensos.

Diz que o medo é a origem de quase tudo. E o sono? E a fome? E a impertinência?

O sono e a fome são frequentemente a origem de muitas birras. O medo está na origem da má gestão que o adulto faz do desequilíbrio emocional da criança, porque muitas vezes temos medo de que ela goze connosco, ou que seja caprichosa, etc.

No livro responde a esta questão: porque é que temos tanto medo do choro? O choro ainda é visto como um sinal de fraqueza?

Penso que sim. Por um lado, vemos isso como uma fraqueza que não gostamos de ver nos nossos filhos, mas também nos comove, faz-nos sofrer quando eles choram e preferimos sempre que eles sejam felizes e alegres porque isso nos faz sentir mais calmos e seguros. É importante que percamos o medo do choro, que o vejamos como uma das poucas formas que as crianças pequenas têm de expressar o seu desconforto devido à sua imaturidade a nível emocional e linguístico e que o vejamos como uma forma normal de expressão. Se perdermos o nosso medo, será muito mais fácil para nós acompanharmos o seu choro.

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Outra coisa que esclarece é que há diferentes formas de reação dos pais às birras, dentro do mesmo seio familiar. O que fazer quando não há consenso parental?

Tomar consciência de que quando uma criança faz uma birra, ela está a sofrer. Se estivermos conscientes disto, concentrar-nos-emos em ajudá-los e será mais fácil ligarmo-nos a eles. Ao mesmo tempo, é importante refletir sobre a forma como a nossa raiva era gerida em casa quando éramos jovens, porque podemos estar a repetir o padrão. Respirar, anotar e conectar-se com a necessidade de conforto e ajuda da nossa criança permitir-nos-á acompanhar a nossa criança de uma forma conectada, consciente e respeitosa.

Como pode ser definido o conceito de paternidade consciente, que defende?

Trata-se de um novo paradigma parental, longe do tradicional, que era hierárquico, autoritário e muito centrado no adulto que estava no comando e na criança que obedecia. Na paternidade consciente todos aprendemos, de mãos dadas: as crianças de nós, que as orientamos, e nós delas, já que acabamos por mostrar as nossas "velhas feridas" que temos de resolver, a fim de as educar de uma forma mais respeitosa e consciente. A paternidade consciente não se trata de controlar o outro, mas de se ligar a ele.

Como se interessou pelo tema das birras? Foi um livro difícil de escrever?

Porque quando a minha primeira filha começou a tê-las, fiquei surpreendida com o quanto elas me agitaram e percebi que a maioria das mães e dos pais lidavam muito mal com a raiva dos seus filhos. Vi que havia necessidade de abordar em profundidade a raiva de crianças e adultos. Eu não diria que foi difícil, mas foi intenso escrever sobre isto, porque o tema é intenso.

Experimentou episódios assim tão stressantes? Estão também estão registados no livro?

Sim, claro, já vivi muitas das birras das minhas filhas e no livro conto todas as minhas aprendizagens. Seja através da minha experiência tanto como mãe de duas filhas como também como profissional que acompanha as famílias e a quem muitos pais recorrem para obter ajuda com as birras dos seus filhos. Tentei fazer deste um livro cheio de exemplos para que fosse mais fácil compreender a parte teórica e para que todo o conteúdo fosse mais fácil de ler.

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