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Beleza / Wellness

As revelações de Lisa Mosconi, a neurologista que explica os sintomas cerebrais da menopausa

No seu livro “Menopausa – O Seu Cérebro em Mudança”, esta investigadora explica as consequências neurológicas nefastas da diminuição do estrogénio no cérebro – uma decorrência natural da menopausa. Conheça todos os sintomas.

Foto: Getty Images
27 de fevereiro de 2025 às 14:38 Madalena Haderer

Com a chegada da menopausa, acaba-se a vida reprodutiva das mulheres. Isto é tudo o que a maioria das pessoas sabe sobre o tema. Só que a menopausa tem muitas mais implicações e, sabe-se agora, uma ação direta no cérebro. Lisa Mosconi, a autora, é professora de Neurologia e diretora da Clínica de Prevenção de Alzheimer no Weill Cornell Medical College/New York-Presbyterian Hospital, faz parte do corpo docente do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina e do Departamento de Nutrição da Escola de Nutrição e Saúde Pública na Universidade de Nova Iorque, e dos Departamentos de Neurologia e Medicina Nuclear na Universidade de Florença, tem um doutoramento duplo em Neurociência e Medicina Nuclear pela Universidade de Florença, e é uma nutricionista integrativa certificada e praticante de cuidados de saúde holísticos. Armada com este currículo do tamanho de um braço, Mosconi decidiu investigar os efeitos neurológicos da menopausa. Algumas das suas descobertas são perturbadoras, mas há esperança do outro lado do túnel, que é como quem diz, quando se chega à fase pós-menopausa.

Foto: DR

Lisa Mosconi e a sua equipa de investigadores fizeram exames PET aos cérebros de mulheres na fase anterior à perimenopausa; depois, às mesmas mulheres, na perimenopausa; e mais tarde ainda, quando estas atingiram o pós-menopausa, e observaram uma "redução da atividade cerebral de 30%" nas mulheres antes e depois da menopausa. Um decréscimo que "os homens da mesma idade não exibem". "A melhor forma que encontro para explicar este fenómeno", escreve a autora "é que o cérebro de menopausa está em modo de adaptação, ou até de remodelação, como uma máquina que funcionava a gasolina e que está, agora, a mudar para eletricidade, sendo desafiado a encontrar soluções alternativas".

A investigadora aproveita a oportunidade para denunciar aquilo a que chama "a medicina do biquíni", ou seja, a redução dos cuidados de saúde da mulher às partes do corpo que se escondem atrás do biquíni. "À parte destes orgãos", explica, "homens e mulheres têm sido estudados, diagnosticados e tratados exatamente da mesma forma – como se todos fossemos homens." E acrescenta: "Uma mulher, aos 50 anos, tem duas vezes mais probabilidade de desenvolver ansiedade, depressão, ou até demência no decurso da vida do que de desenvolver cancro da mama. Ainda assim, o cancro da mama é claramente reconhecido como um problema de saúde feminina (como deve ser) e nenhum dos problemas cerebrais referidos acima o é."

E, se não estivéssemos já suficientemente incomodadas com tudo isto, Mosconi diz ainda o seguinte: "A saúde cerebral das mulheres continua, até aos dias de hoje, a ser um dos campos da medicina com menos investigação, menos diagnóstico e menos tratamento."

Antes de se debruçar sobre os sintomas cerebrais da menopausa, a neurologista não deixa de referir os sintomas corporais mais comuns e impactantes: alterações no ciclo menstrual e na frequência das menstruações, bem como sintomas geniturinários, como secura vaginal, relações sexuais dolorosas, incontinência de esforço ou bexiga hiperativa; fragilidade óssea e um risco aumentado de osteoporose; alterações mamárias, como dor, perda de volume e edema; ritmo cardíaco irregular e palpitações; aumento de peso e metabolismo mais lento, problemas digestivos como distensão abdominal, refluxo gástrico e náuseas; cabelo fino, unhas quebradiças, pele seca e prurido; alterações do odor corporal; alterações do paladar ou boca seca; zumbidos, audição abafada ou sensibilidade ao barulho; e até desenvolvimento de novas alergias.

Foto: Getty Images

Passemos então para os sintomas cerebrais dos quais os infames afrontamentos são, certamente, os mais conhecidos. Mas há mais. A autora refere que "o caos hormonal da meia-idade pode desencadear mudanças não só na temperatura corporal, como também no humor, nos padrões de sono, nos níveis de stress, na libido e no desempenho cognitivo. [...] Mais ainda, algumas mulheres têm ocorrências neurológicas como sensação de tonturas, fadiga, dores de cabeça e enxaquecas. Outras, por sua vez, relatam sintomas mais extremos nos quais se inclui a depressão grave, a ansiedade intensa, os ataques de pânico e até algo que é relatado como sensações de choque elétrico." Mais à frente a autora refere também a "névoa mental", ou seja, "o enevoamento do pensamento, a falta de clareza mental e a dificuldade de processar a informação", que, mais concretamente pode incluir problemas de memória de curto prazo, dificuldade de concentração, sentir-se mentalmente mais lenta do que o habitual, dificuldade em executar mais do que uma tarefa em simultâneo, dificuldade em encontrar a palavra ou expressão certa, ter dificuldade em acompanhar uma conversa, e sentir-se mole, cansada ou com falta de energia.

No meio disto tudo, há pelo menos, uma boa notícia. Diz Lisa Mosconi que "embora a confusão mental causada pela menopausa ainda não tenha sido objeto de muita investigação, há fortes evidências de que se trata, tipicamente, de uma alteração temporária e de que, após a menopausa, a equidade mental é recuperada."

Agora, tentemos encontrar neste livro resposta para a pergunta que não quer calar: por que razão a menopausa causa sintomas neurológicos? Sucede que a culpa é do sistema neuroendócrino – "uma rede que liga o cérebro aos ovários e ao resto do sistema hormonal". Além disso, "o estrogénio não está relacionado apenas com a fertilidade [...], esta hormonal versátil está envolvida em vários processos cerebrais". A autora explica ainda que "o cérebro das pessoas nascidas com ovários está geneticamente programado para responder ao estrogénio produzido pelos ditos ovários", ou seja, "as moléculas de estrogénio deslocam-se diretamente para o cérebro, à procura de recetores especiais que são moldados precisamente para esta hormona". Portanto, na prática, "os sintomas da menopausa são as desafiantes consequências de um cérebro cheio de recetores que recebem cada vez menos quantidade do combustível de que precisam para atuar".

Foto: DR | https://www.lisamosconi.com/projects

Sobre o estrogénio, Mosconi esclarece que não se refere a uma única hormona, mas a uma classe de três hormonas com funções semelhantes: o estradiol, a estrona e o estriol. "O estradiol é o tipo de estrogénio mais forte e abundante durante os anos férteis de uma mulher [...] e os seus níveis são vincadamente reduzidos após a menopausa. A estrona é produzida pelo tecido adiposo [...] e, após a menopausa, é o principal tipo de estrogénio que o corpo da mulher continua a produzir. O estriol é o estrogénio da gravidez e está presente em quantidades praticamente indetetáveis quando a mulher não está grávida."

A autora sublinha, porém, que "ao aludir à interação do estrogénio com o nosso cérebro, estamos a referir-nos, sobretudo, ao estradiol". Porquê? Porque "o estradiol é tão importante num aparentemente infindável conjunto de processos cerebrais que granjeou o título de mestre regulador do cérebro feminino". E acrescenta: "Após a menopausa, o estradiol parte. Anuncia a sua reforma, começa a diminuir e parte, todo contente. A estrona é, então, promovida para o cargo. Infelizmente, a estrona não é capaz de fazer o mesmo que o seu antecessor."

Entre as funções neurológicas mais importantes do estradiol, explica Lisa Mosconi, estão as seguintes: a neuroproteção, imbuindo as células cerebrais da capacidade de ultrapassar os danos e o envelhecimento; o crescimento celular, incitando, simultaneamente, a reparação celular e novas ligações em todo o cérebro; a plasticidade cerebral, reforçando a capacidade do cérebro de responder e de se adaptar a todo o tipo de mudanças; a comunicação, tendo impacto nos neurotransmissores, os mensageiros químicos do cérebro; o humor, tendo um efeito positivo na serotonina, um químico que promove a felicidade, o prazer e o sono; a proteção, defendendo o cérebro do stress oxidativo; a saúde cardiovascular, tendo efeitos positivos na tensão arterial e na circulação o que protege o cérebro e o coração de danos vasculares; e a energia, garantindo que a glicose, o principal alimento do cérebro, é eficazmente transformado em combustível.

Ao longo do seu livro, esta neurologista e investigadora fala ainda sobre terapias hormonais e não hormonais para tratamento dos sintomas da menopausa, com grande foco na Terapia de Substituição Hormonal, de um lado, e na alimentação, exercício físico, estilo de vida, suplementos alimentares, yoga, mindfulness e meditação, do outro. O stress e as toxinas e disruptoras de estrogénio são outros temas que a autora desenvolve. Bem como a importância da gratidão e de ter uma mentalidade positiva para atravessar o longo processo da menopausa.

Na badana de Menopausa – O Seu Cérebro em Mudança encontramos cinco mulheres que têm feito a sua parte na divulgação de informação sobre a menopausa, em particular, e da saúde física e mental das mulheres: Maria Shriver, fundadora da organização sem fins lucrativos The Women's Alzheimer's Movement, e que escreveu o prefácio; Davina McCall, a apresentadora britânica autora do livro Menopausar; a atriz Naomi Watts, que tem falado abertamente sobre ter passado por uma menopausa precoce, aos 36 anos; a atriz Halle Berry, que também tem falado sobre a sua dificuldade em receber um diagnóstico correto quando começou a sentir os primeiros sintomas da perimenopausa (um médico, incapaz de reconhecer os sinais, disse-lhe que ela tinha herpes, uma doença sexualmente transmissível); e, por último, a atriz Gwyneth Paltrow, cujo envolvimento em temas de saúde feminina, através da sua empresa de wellness e lifestyle Goop, é amplamente conhecido. Todas elas – que já passaram pela dúvida e incerteza de não se sentirem normais, de não se reconhecerem, e até de acharem que estão a ficar loucas –, recomendam que leia este livro. E a redação da Máxima também.

O livro Menopausa – O Seu Cérebro em Mudança foi editado pela Ideias de Ler, uma chancela do grupo Porto Editora, custa 16,97 euros e está à venda nas livrarias do costume.

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