O café é o combustível que alimenta a vida moderna, razão pela qual médicos, nutricionistas e investigadores andam sempre de volta dele. Não necessariamente a bebê-lo – embora isso também seja, certamente, verdade –, mas a estudá-lo. Faz bem ou faz mal? Melhor de máquina ou feito à antiga, numa cafeteira? Faz mal ao coração? Diminui a propensão para a demência? Dá cabo do sono? Melhora o metabolismo quando aplicado como clister? As borras são um excelente adubo para as plantas? As perguntas são quase infinitas e é bem possível que, para cada uma, exista um estudo, um livro, uma Ted Talk ou um episódio de podcast. Desta vez, a pergunta é a seguinte: qualquer hora é boa para tomar café ou há momentos do dia em que os benefícios são maiores? E é bem possível que a resposta o surpreenda.
De acordo com uma investigação recente, as pessoas que limitam o seu consumo de cafeína às horas da manhã recolhem mais benefícios para a saúde do que aqueles que consomem café ao longo de todo o dia. O estudo seguiu os hábitos de 40.725 adultos que participaram no US National Health and Nutrition Examination Survey, entre 1999 e 2018. Destes, 36% bebiam café apenas de manhã e 16% bebiam-no ao longo de todo o dia. Do total de pessoas que só bebia café de manhã, 16% tinham menos probabilidade de morrer independentemente da causa e 31% tinham menos probabilidade de morrer de doenças cardiovasculares. Mais curioso ainda, os benefícios para a saúde cardiovascular desapareciam por completo nas pessoas que bebiam café ao longo de todo o dia, com os dados médicos a mostrarem que não houve uma redução significativa na mortalidade para os consumidores de café ao longo do dia em comparação com aqueles que evitavam o café por completo.
Os resultados desta pesquisa indicam que o inferior risco de morte destes bebedores matinais está presente quer estes bebessem café de forma moderada, até duas ou três chávenas por dia, quer bebessem mais ainda – o estudo é norte americano, portanto, será de supor que não se refira a cafés expresso, ou seja, bicas, mas àquelas grandes malgas de café meio aguadas que dão pelo nome de "americano" ou "abatanado".
Os benefícios para a saúde eram menores para pessoas que bebiam apenas uma chávena de café de manhã, de acordo com os dados médicos dos participantes. Ou seja, não basta ser bebido de manhã, é imprescindível que seja também consumido em quantidades generosas. Estes resultados foram publicados no European Heart Journal e, entretanto, foram também verificados com um grupo mais pequeno de participantes – 1463 pessoas – que preencheram diários semanais com o seu consumo diário de comidas e bebidas.
O que o estudo não explica é por que razão os benefícios do consumo do café se esbatem quando este se prolonga para lá da manhã. Porém, numa nota introdutória que acompanha a publicação do estudo no European Heart Journal, Thomas Lüscher, cardiologista nos hospitais londrinos de Royal Brompton e Harefield avança com uma possível explicação: o médico diz que as pessoas que bebem café ao longo do dia dormem pior, o que acaba por anular os benefícios; por outro lado, há investigações que demonstram que há substâncias inflamatórias que estão mais presentes no sangue ao acordar, o facto de se consumir café, que tem componentes anti-inflamatórios, pode inibir o desenvolvimento dessas substâncias.
Portanto, café, sim, mas só de manhã. Difícil será enfrentar a vida sem o sacrossanto café pós-almoço...