Muito se discute sobre a possibilidade de os laticínios contribuírem para aparecimento de borbulhas. Isto porque alimentos como o leite e o queijo podem estimular a produção de sebo, que, em excesso, obstrui os poros e provoca inflamações na pele. Para entender melhor essa questão, a Máxima conversou com Pedro Vilas Boas, médico dermatologista.
De acordo com este especialista, a relação entre o consumo de leite e o acne ainda é controversa, mas há evidências crescentes que sugerem uma associação, especialmente com o leite magro. "Estudos epidemiológicos mostram uma correlação positiva entre consumo de leite e maior prevalência de acne, mas não estabelecem causalidade direta. A possível ligação pode envolver fatores hormonais e da resposta insulínica do organismo ao ingerir leite."
Ou seja, nem todos os tipos de leite têm o mesmo efeito na pele, já que o impacto, conforme referido, varia conforme o tipo consumido. E, por incrível que pareça, o leite magro está mais associado ao acne do que o leite gordo. Significa isto que o problema não está relacionado com a quantidade de gordura presente no leite. O que acontece é que "o leite desnatado tem maior carga glicémica (absorve-se de maneira mais rápida) e pode causar maiores picos de insulina, insulina que é, de maneira indireta, responsável por maior produção de sebo por parte da pele. Além de conter hormonas bioativas em níveis diferentes do leite gordo", explica Pedro Vilas Boas.
A questão hormonal é importante porque as hormonas naturalmente presentes no leite podem aumentar a produção de oleosidade na pele e agravar o acne. O dermatologista diz ainda que "o leite contém hormonas endógenas, como IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina) e andrógenas, que podem estimular a produção de sebo e a proliferação de queratinócitos, contribuindo para a formação de comedões e inflamação – fatores-chave no acne". Pedro Vilas Boas refere também que, se o leite for absorvido rapidamente, pode estimular a produção de insulina e de IGF-1 pelo próprio organismo, resultando numa maior produção de sebo pela pele.
Mas, afinal, pessoas com pele com tendência acneica devem eliminar, completamente, o leite e seus derivados da sua alimentação? Ou podem consumi-los com moderação sem que isso aumente o risco de borbulhas? O dermatologista diz que a eliminação total não é necessária para todos e explica porquê: "A influência da alimentação no acne, na grande maioria das pessoas, tem um impacto baixo, provavelmente abaixo dos 10-15%. Outros fatores como a própria genética do paciente, exposição ao fumo do tabaco ou poluição, são muito mais determinantes. Muitos pacientes com acne conseguem controlar a condição apenas com redução do consumo de leite – especialmente do leite magro – ou derivados processados do leite. A moderação pode ser suficiente para alguns, mas é importante que a abordagem seja individualizada. Observar a resposta da pele ao reduzir ou eliminar laticínios durante algumas semanas pode ajudar a guiar decisões dietéticas."
Para quem optar por retirar o leite de vaca da alimentação, o especialista destaca que existem alternativas, como as bebidas vegetais – como leite de amêndoa, aveia, arroz ou coco –, que não contêm hormonas bovinas nem IGF-1. No entanto, é importante estar atento aos níveis de açúcar dessas bebidas, já que um alto índice glicémico também pode agravar o problema.